S01E04 - Tristeza e Raiva Report in Mundo das Trevas | World Anvil
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S01E04 - Tristeza e Raiva

General Summary

Abertura
 

O que nos prende

  Terça-feira, 3 de Setembro de 1991. Meia-noite e meia.  
Música de Mina - Mina's Room
  "Engraçado, você não fugiu de mim.". Foram as palavras que aquela criança translúcida lhe disse. Ela usava um pijama, espectral como ela, e seus olhos pareciam fundos e perdidos. Não deveria ter mais que 10 anos.   Bess perguntou quem era a garota. Ela respondeu que era Mina e morava ali, mas que três homens maus haviam feito coisas horríveis com ela e seus pais. Apontou trêmula na direção atrás de Bess, que era uma porta fechada no corredor.  
Bess: Onde estão seus pais?   Mina: Lá...
  Bess percebeu que uma escuridão começava a tomar conta do quarto onde estava. Ela não entendia, não havia uma luz ali que pudesse projetar aquela escuridão. Como aquilo era possível? O quarto todo estava ainda mais escuro do que quando entrou, a luz da rua não entrava pela janela mais. Mina se contorcia, seu rosto um misto de lágrimas e dor.  
Bess: Calma, eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
  Disse abraçando a garota, onde seus braços nada encontraram além de um frio terrível, mesmo para ela que não tinha mais calor corporal, conseguia sentir seus pelos se eriçando, como um gato sendo ameaçado.   Um lampejo da cena passou pela sua cabeça quando Mina gritou. Bess entendeu que havia acontecido algo no outro quarto, mas não conseguiu enxergar. As sombras começaram a diminuir, regredindo para dentro de Mina, e ela chorava muito.    
Bess: Vou dar uma olhada no quarto. Fique aqui.   Mina: Não... não me deixe...   Bess: Venha comigo então.
  A mão pequena e translúcida de Mina segurou a mão de Bess, parecendo sólida, mas não muito. Ela não estava entendendo nada do que estava acontecendo, o que era aquilo? Um delírio? Haveria bebido algum sangue contaminado por drogas e esse seria um efeito colateral? Não havia explicações lógicas para o que estava acontecendo, Bess só podia continuar a investigar, como uma boa cientista. Poderia ser seu subconsciente dizendo alguma coisa, mas psicologia não era sua área.   Abriu então a porta do quarto, que tinha manchas de sangue seco no chão próximo à porta. Estava tudo escuro e teve que tatear atrás do interruptor. Bess encontrou a luz e viu a cena. A cama dos pais de Mina estava ensanguentada, marcas de bala pontilhavam a cama e a parede atrás dela. A parede perto da cômoda com a televisão também tinha marca de bala e sangue.   Mina apontou para o chão, perto da mancha de sangue na parede da televisão.    
Mina: Foi ali. Tiraram a minha roupa.   Bess: Quem fez isso com você?   Mina: Três homens. Um deles fez coisas ruins comigo, o outro com minha mãe. O terceiro... Ele só ria e olhava.
    Nesse momento a voz de Mina se transfigura, tornando-se a voz de um homem.    
Mina: Hahahah, você achou que ligar para a polícia adiantaria, Thomas? A polícia está nas minhas mãos. Hahahaha. Você teve a oportunidade de vender pra mim os equipamentos, mas quis o caminho difícil. Tsc tsc tsc, Thomas, Thomas. Agora eu vou ter que mostrar uma lição pra você, ninguém dá essa foda em Eric sem levar uma foda também. E vou começar com sua mulher e sua filha.
  A voz de mina volta ao normal, enquanto lágrimas caem de seus olhos, mas somem antes de tocar o chão.  
Mina: Quando o homem mau saiu de cima da minha mãe, ela puxou a arma do meu pai que ficava do lado da cama. O primeiro tiro pegou no homem que estava me machucando, mas o segundo pegou aqui.
  Mina abre o pijama espectral e mostra que a bala atingiu seu peito.    
Mina: Eu caí, não conseguia respirar. Só pude ver os homens pegando em armas e atirando nos meus pais. Eu não podia gritar... eu...   Bess: Estou aqui, Mina. Diga, onde estão seus pais, por que não estão ali?
    Mina aponta para a varanda. Bess consegue observar terra remexida no quintal.  
Mina: Eu estou ali, com meus pais. Mas eles foram para a luz. Eu não queria ir para a luz, eu fiquei.
  Bess sempre ignorou as coisas que diziam sobre a vida após a morte, sobre espíritos, afinal, nada disso tinha comprovação científica, mas o que estava acontecendo estava além da sua compreensão, já não sabia mais em que acreditar, apenas na raiva que crescia em seu peito sobre o que tinha acontecido, sobre o que aqueles caras tinham feito. E agora ela sabia o nome completo d'O Cara: Eric Hernandez.   Bess prometeu a Mina que cuidaria dela, e que daria um jeito naquilo tudo. A garota pediu para ser enterrada em um cemitério, para assim poder ir para o céu, como a mãe dela dizia. Mas quando começou a falar sobre os homens que causaram tanta dor naquele dia, Bess viu uma mão de sombras tocar o ombro de Mina e a escuridão começar a subir.   Bess puxou o crucifixo que usava, talvez o único presente de sua mãe que ainda mantinha consigo.  
Bess: Mina, conhece isso? Sabe quem é esse homem?
  Mina assentiu com a cabeça.    
Bess: Homens fizeram coisas muito ruins com ele. E o que ele fez?   Mina: Ele os perdoou.   Bess: Ele é um exemplo a ser seguido, devemos perdoar também. Pode fazer isso?
    Mina abaixou a cabeça, lágrimas saindo de seus olhos.  
Bess: Segure isso com você, vai te proteger.
  As mãos espectrais de Mina seguraram o crucifixo, para surpresa de Bess. Ela o apertou contra o peito. As sombras ao redor de Mina enfraqueceram até sumir. Elas começaram a descer as escadas, Bess precisava chamar a polícia para prender o homem que ela tinha jogado na lata de lixo e descobrirem o crime que aconteceu... Mas Mina não conseguia terminar de descer as escadas. Ela disse que só conseguia enxergar até o fim das escadas, mas tudo além daquilo, até para a rua, era escuridão completa para ela.   Bess pediu para Mina aguardá-la dentro de casa, segurando o crucifixo, enquanto ela ia resolver isso. Mas quando Bess ia sair pela porta da frente, uma mulher morena, muito bonita, estava tentando entrar.  
  "Você... você não deveria estar aqui. Você é dos Pollos Locos? Responda!" ela disse puxando uma arma.  

Luta contra a desconhecida

  Antes que Bess pudesse reagir, Mina gritou "Deixa ela em paz!" e de onde ela estava, as sombras se moldaram em um tentáculo que deu um golpe, arremessando a mulher para o meio da rua.   A mulher, caída no meio da rua, atirou duas vezes contra Bess. Os tiros não acertaram, ela conseguiu correr mais pra dentro da casa. Quando viu a estranha subindo em uma moto, arremessou uma poltrona pela janela. A força foi tanta que a poltrona derrubou a moto e acertou a mulher, que conseguiu pular da moto a tempo.   A mulher mostrou suas presas, era uma vampira também. Bess gritou para ela largar a arma e a desconhecida fez o mesmo, mas emitindo uma pressão de si que chegou em Bess. Porém, mesmo que em um primeiro momento tenha sentido um certo medo do que a mulher fez, isso não a abalou.   Bess saiu da casa, repetindo sua ameaça, mas a outra veio em sua direção com uma velocidade muito alta, como Dana havia feito quando foi ver se ela estava bem após a luta contra os homens no estacionamento do motel. A resposta de Bess para isso foi um soco tão forte que arremessou a mulher na cerca da casa em frente.   Ela parecia desacordada e Bess a levou para o banheiro da casa de Mina, amarrando seus pulsos com o metal da moldura da janela que tinha sido destruída pela poltrona. Pediu ao espírito que não deixasse a mulher sair, que voltaria pra conversar com ela, mas primeiro precisava fazer uma ligação.   Quando chegou à cabine telefônica próxima à casa cuja cerca acertou com a desconhecida, deu-se conta de que não tinha um telefone de Dana para que pudesse ligar e pedir-lhe ajuda. Nesse momento, ouviu o som de madeira e vidro estilhaçando, e a desconhecida correndo em grande velocidade até a moto. Bess pensou se deveria fazer alguma coisa, queria apenas conversar com a outra, mas foi tratada com violência o tempo todo. A mulher passou com a moto danificada por ela, dando o dedo do meio e gritando "Vai se foder!".   Bess então saiu para pegar o homem que havia jogado no lixo. Deu-lhe uns tapas até acordar e o ergueu pela gola da camisa. Perguntou se ele havia feito algo na casa ou se sabia de alguma coisa, mas ele disse que não, que O Cara só tinha mandado ele pra lá para tomar conta do lugar. Mas Bess se lembrou do sentimento de culpa e das imagens desconexas que havia sentido ao beber seu sangue mais cedo aquela noite. Ele foi um dos homens que machucou Mina e sua família.   Bess o arrastou pela rua até o telefone e discou para a polícia, dizendo que havia ocorrido um tiroteio com vítimas e deu o endereço. O homem começou a rir, disse que não ia dar em nada e que a polícia estava nas mãos d'O Cara.   O sangue dela fervilhava. Ela queria arrancar as tripas dele ali mesmo, mas pensou no que havia dito para Mina. Considerou quebrar suas mãos, assim, mesmo que fugisse da cadeia por causa dos policiais corruptos, não poderia causar mais mal. Ele estava fora de qualquer redenção.   Isso assustou Bess. Ela estava se entregando à sua raiva. Controlou-se, pensou em Mina e que a justiça deveria vir pelos meios certos. Levou o homem de volta à casa de Mina e o amarrou com as cortinas arrancadas. Foi quando as luzes de um carro de polícia pararam em frente à casa. Viu uma policial descer, com um revólver e uma lanterna.   Bess correu para o quintal dos fundos. O capanga dos Pollos Locos disse à policial que uma mulher tinha corrido pros fundos, e a policial foi até onde Bess estava. Porém, nada encontrou lá, apenas uma terra remexida, que pela experiência ela sabia se tratar de uma cova rasa. A policial jurou ter visto um vulto andando pelos telhados da casa próxima, mas sabia que ninguém conseguiria escalar tão facilmente dois andares em tão pouco tempo.   Pediu reforços para levar o homem preso e à perícia para analisar o local.  

O passado de Dana

  Terça-feira, 3 de Setembro de 1991. 1:00 da manhã.   Quando Bess chegou ao refúgio de Dana, a confrontou, dizendo que ela não havia lhe dito que na noite eles não estavam sozinhos. Dana não entendeu, mas quando Bess disse que havia visto algo que só poderia comparar a um fantasma, ela disse que em 10 anos nessa vida nunca tinha visto algo parecido, mas sabia de vampiros que conseguiam controlar espíritos, embora não confiasse em quem mexia com coisas de outro mundo.   Perguntou também se Dana havia enviado outra pessoa para resolver o problema, mas recebeu uma negativa. Quando descreveu a motoqueira, Dana rosnou, estava irritadíssima. Disse que deveria ser o novo brinquedinho do Malabarista.    
Bess: Esse Malabarista... foi quem te... criou?   Dana: Não! Por Deus, não! Ele me ensinou muita coisa, mas não foi meu senhor. Ele é nojento!   Bess: Por que você tem tanta raiva dele?   Dana: Esse desgraçado é manipulador. Ele... ele... Não quero falar disso.
    Bess passou as informações sobre Eric Hernandez para Dana, que o reconheceu como líder dos Pollos Locos, uma gangue que saiu de Chicago e veio para Gary.   Bess disse que precisava voltar a Chicago para pegar suas coisas da pesquisa. Mas ainda havia dúvidas que ela precisava tirar, coisas que a deixavam com medo do que estava se tornando. Desde que foi Abraçada por Dana, seus desejos mais íntimos estavam saindo de seu controle, coisas que ela sempre manteve dentro de si e que lhe davam medo por estarem vindo à tona: as respostas violentas a abusos, como ela reagiu com os homens no estacionamento e como ela queria quebrar as mãos do abusador de Mina. Quando vítima de bullying, ela guardava em seu íntimo a vontade de quebrar tudo e todos, criando uma casca em volta de si mesma e de seus sentimentos. Agora, desse jeito, ela lutava muito para controlar esses impulsos, isso a assustava e quis saber se Dana sabia de alguma cura para sua condição vampírica.    
Dana: Muitos já tentaram várias coisas. Desde matar quem te criou, transfusões de sangue, alguns dizem que... Não, deixa pra lá.   Bess: Não, por favor diga.   Dana: É história, não deve ser verdade. Na corte de Modius você vai ter a oportunidade de conhecer algumas pessoas que podem te dizer que buscam uma cura, mas não acredite em tudo.   Bess: Você já tentou alguma coisa?   Dana: Eu... já... eu matei o meu criador... Não quero falar sobre isso... Foi difícil...
  Bess percebe que Dana não está revelando tudo, há mais coisas que ela está escondendo, talvez não se sinta confortável para falar isso ou ainda não confie o suficiente nela.  
Bess: Dana... eu... eu nunca te mataria, mesmo se isso fosse a cura... Você pode contar comigo.
  Dana abraça Bess, deitando sua cabeça em seu colo. Bess a abraça forte e a boca de Dana desliza pelo seu pescoço, deixando Bess sobressaltada. Dana a empurra, voltando a se apresentar como uma pessoa fria.  
Dana: Eu preciso ir, tenho que descobrir mais informações sobre o Hernandez, onde ele está escondido... Tire a noite de amanhã para fazer suas coisas, depois você irá atrás dele. Evite quebrar a Máscara.
  Dana saiu do refúgio, sem querer olhar para Bess.  

A visita

  Terça-feira, 3 de Setembro de 1991. 1:30 da manhã.   Com a saída de Dana, Bess ainda tinha que pensar como resolveria o problema de pegar os dados de sua pesquisa sem alertar ninguém. Precisava de um disfarce, afinal, seria reconhecida pelas pessoas do prédio, aquela garota estranha que mora no 608, e também suas roupas estavam rasgadas. Já era tarde, não deveria ter mais nada aberto em Gary, precisava encontrar algo no refúgio de Dana.   E achou. Um par de óculos escuros, deveria servir, junto com aquele boné militar. Por que Dana teria isso? Como vampiros, sairiam somente à noite, seria algo de sua vida antes de ser Abraçada? Pegou também uma nova camiseta, uma do Motörhead, e um par de calças de couro. Quem era Dana, afinal?   Muitas coisas estavam passando por sua cabeça. O encontro com Mina marcara-lhe profundamente. Era uma mulher das ciências, não perdia tempo com essas coisas de religiosidade, ainda mais... não queria pensar muito nisso, sua mãe forçava tanto a religião por sua garganta que ela queria distância disso tudo. Mas agora, em contato com o sobrenatural, com a vida após a morte, precisava conversar com alguém. Alguém sem tantos mistérios, quanto Dana. Alguém como Sophie.   Andou até seu prédio e pensou antes de tocar o interfone. Deveria subir? Eram 1:30 da madrugada, Sophie possivelmente estaria dormindo, ela trabalhava de noite e precisaria descansar para levar o filho à escola no dia seguinte. As dúvidas a remoíam por dentro. Tocou. Duas vezes. A voz sonolenta de Sophie atendeu e Bess pensou em desligar. O que estava fazendo? Ela precisava descansar.    
Sophie: Quem é?   Bess: É a Bess.   Sophie: Isso é uma brincadeira? Você... você...   Bess: Sophie, você está bem?   Sophie: Bess! É você mesma? Aconteceu alguma coisa?   Bess: Não, nada, eu... só precisava conversar.   Sophie: Por favor, suba, Kevin está dormindo, mas eu vou me arrumar.
    Bess tomou o elevador e chegou ao apartamento de Sophie. Bateu à porta e a mulher a atendeu vestindo um roupão florido. Ela olhou Bess de cima a baixo e pediu que entrasse, ofereceu um café ou água, mas Bess recusou. Ela queria saber se Sophie tinha ficado bem, afinal, ela tinha "desmaiado de cansaço". Sophie ficou ruborizada com a pergunta, perguntou se tinha desmaiado mesmo ou tinha acontecido alguma coisa, porque ela teve sensações indescritíveis com Bess e adimitiu estar confusa sobre o que tinha acontecido, sobre o que tinha acontecido, se elas...   Bess afirmou que não havia acontecido nada entre elas, e que pode ter sido delírio pelo cansaço de Sophie. Ela ficou sem jeito, pediu desculpas por insinuar que teria ocorrido algo entre elas. A vampira disse que não havia problemas na insinuação, para algumas pessoas isso poderia ser ofensivo, mas não para ela.  
Sophie: Bess, podemos ser... amigas? É bom ter alguém... em quem confiar. Bess: É claro.
  Ela então jogou a pergunta que lhe corroía, perguntou se Sophie acreditava na vida após a morte. A mulher quis saber o que tinha acontecido, mas Bess disse que não precisava se preocupar, não era nada que pudesse compartilhar. Sophie lhe respondeu que foi criada pela mãe em uma igreja, mas que não tinha dado muita bola para isso depois que ela teve o Kevin e veio para Gary. Só que se preocupava em dar um futuro melhor para o filho e sair daquele buraco, mas fazendo as coisas do jeito certo.   Bess agradeceu a amiga e recusou o convite de dormir no sofá, afinal Sophie se preocupou pelo horário. Pensando no que tinha acontecido com Mina e nos perigos que Sophie passava por voltar sozinha do trabalho de tarde, Bess lhe entregou o revólver que o caminhoneiro havia lhe dado. Mostrou a Sophie como usá-lo e se despediu.   Sophie a observou indo embora, fechando lentamente a porta enquanto Bess partia. A vampira chegou em casa e resolveu que era momento de fechar os olhos e esperar a noite seguinte. O frio e vazio sono da morte dos vampiros lhe abraçou.  

Vida passada

  Terça-feira, 3 de Setembro de 1991. 18 horas.   Bess acorda para a noite, ainda com as roupas que tinha visitado Sophie na madrugada. Ela termina seu disfarce colocando o boné estilo militar e os óculos escuros que encontrou anteriormente no refúgio de Dana.   Quando pega o ônibus para Chicago, Bess pensa em sua vida passada, no medo que sentia vivendo em Chicago, recém chegada do interior após uma vida complicada com a mãe Karen Bennet, sendo considerada uma falha por não corresponder ao que ela achava que a filha deveria ser. Por muito tempo ela se sentiu sozinha até ter feito amizade com Benjamin Miller e Harley Greene, mas Chicago ainda era uma cidade perigosa. Não tanto quanto Gary, mas ainda havia drogas, prostituição, gangues, violência... E ela era apenas uma garota estranha, com dificuldade em formar laços, sem ninguém para protegê-la.   Mas isso era passado. Agora Bess era forte, às vezes incontrolavelmente forte, podia dobrar metal e arremessar coisas com facilidade, podia proteger a si própria e aos outros. Mas ainda havia aquela voz dentro dela, aquela voz que dizia que ela podia tudo isso e muito mais. Ela havia mudado muito, isso era fato, estava mais confiante em si, havia seduzido homens para se alimentar, coisa que ela nunca teria feito como era antes. Sua força lhe permitia feitos incríveis, pulava andares com facilidade. Havia até... matado? Essa voz que ela ouvia era a Besta que Dana havia lhe avisado? Era sedutora, prometia muito poder, mas a um custo alto...   Perdida em seus pensamentos, quase perdeu o ponto de ônibus. Lá estava seu prédio, uma vizinhança próxima à faculdade que cursou medicina, não muito distante também de seu trabalho no centro... Quer dizer, seu antigo trabalho. Não haveria outra forma de chegar até seu apartamento sem passar pela portaria e esperava que não fosse reconhecida.   Bess foi interpelada pelo porteiro. Quis saber aonde ia, afinal, ninguém ia entrando assim do nada sem se identificar. Bess deu a desculpa de que era prima de uma moradora que tinha sido hospitalizada e ia passar no apartamento para pegar umas coisas que ela precisava. O porteiro, ao ver a chave, permitiu sua subida, dizendo ainda que havia mais gente no apartamento, uma senhora e duas garotas. Deveria ligar para avisar? Bess concentrou-se, mesmo pega de surpresa, e respondeu em negativo, já era esperada.   No caminho para o elevador, pensou em quem poderia estar lá. Sua mãe? Talvez Becky também estivesse junto, mas quem era a outra pessoa? O que faziam em seu apartamento? Quando o elevador apitou, já estava no sexto andar e dirigia-se para o 608. Lá, percebeu que as luzes do apartamento estavam acesas e pôs-se a ouvir a porta.  
Música da Bess - Bess's Sadness
  Bess ouviu vozes, misturadas a um choro soluçante. Uma delas, reconhecia pelas lembranças que lhe causava, não necessariamente boas.    
Karen: Obrigada por nos ajudar nesse momento triste, Elizabeth era uma boa pessoa, apesar de não ter saído como a Becky.   Becky: *chorando soluçando   Voz: Eu sei, dona Karen, a gente gostava muito dela. Bess tinha seu jeito exótico de lidar com as pessoas, mas era uma boa garota.   Karen: Ahhh Harley, eu queria tanto que ela tivesse sido religiosa como você, você era uma boa influência pra ela... Ao contrário daquele garoto... Benjamin... Não confio nele.   Harley: Ben é um bom garoto, dona Karen, ele e Bess eram ótimos amigos... Nós três...   Becky: Minha irmã... *soluçando   Karen: Você é uma ótima menina, espero que consiga um marido. Com a partida de Elizabeth, minhas esperanças de ter netos repousam sobre Becky e seu namorado.   Harley: Obrigada, dona Karen. Eu preciso ir agora, desculpem tê-las incomodado nesse momento, com os danos ao laboratório, minha pesq... nossa pesquisa depende dos dados que estavam no computador da Bess. Esse é meu número, se precisarem falar comigo.   Karen: Não se preocupe, eu não saberia o que fazer com isso mesmo. Obrigada por ouvir nossa dor nesse momento. Não suma, querida, você é bem vinda.
    Bess se afastou da porta e foi em direção ao elevador. As lágrimas de sangue que escorriam de seus olhos estavam ficando presas nos óculos escuros, mas ela sabia que em pouco tempo marcariam sua face. Harley saiu do apartamento carregando o disco rígido do computador de Bess. Ela passou por Bess sem notá-la sob seu disfarce. Desceram o elevador juntas, Bess se segurando para conter o choro.   Bess pensava o quão perto e quão longe Harley estava dela nesse momento. Ela não foi reconhecida por sua melhor amiga, foi dada como morta no ataque e não poderia mais falar com ela. Por seus olhos passaram todos os momentos que tivera com os únicos que realmente considerava seus amigos, Harley e Ben. E também todas as vezes que não deu atenção a eles, quando a chamavam pra sair e ela negava irritada. Sua pesquisa era tudo que ela tinha, mas agora, sozinha em um mundo de trevas que poderiam consumir seu coração, Bess percebia que seus amigos eram realmente quem importava, quem a lembrava de quem era antes do que aconteceu. Tantos momentos perdidos, tantas oportunidades desperdiçadas, tantas memórias e sorrisos que não foram criados porque não tinha dado atenção aos seus únicos amigos... Teria sido ela uma amiga de verdade para eles?   Quando chegaram ao térreo, Bess deu um pouco de distância, depois apertou o passo, pisando sobre as folhas secas de outono. Para ela, pouco importava não ser ouvida. Os passos hesitantes se transformaram em uma corrida. Estava dividida, sua mente racional pedia para pegar o disco rígido o mais rápido possível, um furto, sem violência, algo assim e poderia sair de lá com ele sem se entregar. Seu coração, entretanto, lembrava das vezes em que pôde contar com Harley como amiga, como alguém que ela confiou, talvez a única pessoa, além de Benjamin, que a conhecesse como ela era. Como ela era antes, não como era agora. E viver nesse mundo das trevas era tão solitário, tão claustrofóbico, tão...   "Harley..." disse Bess, abraçando a amiga por trás.  
Encerramento
Campaign
Sangue Novo
Protagonists
Elizabeth Bennett
Brujah | 13 generation
Data do Relatório
27 Dec 2020
Local Primário
Local Secundário

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