Histórias da Família
No Começo
A maior parte do que nós sabemos sobre nossas origens vem de fragmentos do Livro de Nod e até mesmo esse conhecimento é expressado em lendas, sendo que muitos dos da nossa espécie consideram o livro como um evangelho. Nós todos sabemos (eu espero) sobre Caim e o assassinato de Abel. Deus exilou Caim da companhia dos mortais por seu crime e ele foi mandado como um exilado para a "Terra de Nod", onde quer que seja isso. Lá, conforme o Livro, ele conheceu Lilith, que, de acordo como folclore Hebreu, foi a primeira esposa de Adão. Ela foi a única mortal que o ajudou e assim ele se escondeu em sua proteção por um longo tempo, durante o qual os anjos Uriel, Rafael e Miguel supostamente se aproximaram dele. Cada anjo disse a Caim que ele só precisava pedir o perdão de Deus e o seu exílio terminaria. Ele negou cada pedido e assim, pouco a pouco, foi amaldiçoado, até se transformar em um ser que mais tarde seria chamado de o primeiro vampiro. Com a ajuda de Lilith, ele aprendeu as habilidades e artes que nós chamamos de "Disciplinas", finalmente deixando-a quando acreditou que ela não tinha mais nada para ensinar-lhe.A Primeira Cidade
Por um período indeterminado de tempo, Caim vagou, miserável e sozinho através de desertos, até que uma noite ele chegou em um lugar habitado por homens. A Primeira Cidade, de acordo com a mais antiga literatura do Livro de Nod, foi uma maravilhosa antiguidade. Realisticamente, ela não poderia ser nada grandiosa — provavelmente uma cidade primitiva composta de cabanas de argila e cercada por um muro — mas, durante anos, esse foi o primeiro contato humano de Caim. As pessoas, espantadas com as habilidades de Caim, fizeram dele seu rei e, por algum tempo, Caim estava contente. Conforme os anos se passavam, contudo, a solidão começou a infestá-lo. Ele foi vítima de uma das mais causas comuns do Abraço — falta de companhia. Poucas coisas mudam, principalmente coisas como essa. Apesar dos presságios que diziam que suas crianças eventualmente matariam umas as outras, assim como ele matou seu irmão, ele persistiu, gerando três crianças — de acordo com as histórias, Enoch (que mais tarde também daria nome à cidade), Zillah e Irad. Eles futuramente seriam conhecidos como a Segunda Geração. O plano teria funcionado bem, não fosse o fato de que as três crianças também passaram a querer suas próprias crianças. Apesar dos esforços de Caim, eles Abraçaram sem pensar até que Enoch ficou super-povoada. Humanos e vampiros viveram lado a lado, cada um ciente do outro, mas os humanos foram feitos para servir aos vampiros e não para coexistir com eles. O Grande Dilúvio (o mesmo Dilúvio da história de Noé) arrastou muitos mortais e alguns dos vampiros mais fracos. Quando a água finalmente retrocedeu, contudo, ninguém poderia imaginar o que aconteceria.A Segunda Cidade
Caim se escondeu de seus netos, não suportando nem olhar para eles. Ele acreditava que o Dilúvio havia sido uma punição de Deus por ele ter Abraçado e resolveu se distanciar da tentação. Ele não queria ser encontrado e àqueles que partiram em sua busca disse para irem embora e deixá-lo no exílio que ele impôs sobre si mesmo. Enquanto ele estava escondido, contudo, a Terceira Geração (conhecida como os Antediluvianos, pois sobreviveram ao Dilúvio) assassinou a Segunda Geração. A cidade de Enoch havia sido destruída com o Dilúvio, é verdade, mas uma nova cidade logo surgiu em seu lugar, o que hoje nós chamamos de Segunda Cidade. Os mortais, privados de seu rei, colocaram suas crianças em seu lugar. O que não foi uma escolha sábia. Conforme o tempo passou, os Antediluvianos começaram a lutar entre si, jogando suas próprias crianças sobre a garganta uns dos outros. A disputa consumiu a todos, incluindo os mortais, e a cidade logo foi destruída. Isto marca o começo da Jyhad, apesar de ninguém saber exatamente qual evento começou com a coisa toda. O Livro de Nod insiste que a Jyhad foi uma maldição de Uriel sobre Caim por ele ter criado progênie mesmo depois de ter sido proibido de fazê-lo. Outros acreditam que foi uma disputa mesquinha entre dois Membros (como costuma acontecer atualmente), que cresceu fora do controle. O fato de Caim estar escondido, não significa que ele deixou de se interessar por seus netos. As lendas dizem que ele amaldiçoou o fundador dos Nosferatu com a feiura, devido a algumas práticas horrorosas (as lendas, como sempre, não revelam exatamente que práticas), e Malkav com a loucura, por deformar sua imagem. Ele lamentou a perda da Segunda Geração e continuou amaldiçoando seus netos pela ruína que eles trouxeram sobre si mesmos e ao mundo. Contudo, a Terceira Geração realmente não se importava mais. Uma vez iniciada a Jyhad, eles passaram a se preocupar com assuntos que os deixariam ocupados através dos próximos milênios.O Mundo Antigo
Depois da destruição da Segunda Cidade, a maioria dos vampiros decidiu debandar, encontrando seus próprios caminhos e controlando seus próprios destinos. Os Membros andaram pela antiga Grã-Bretanha, Grécia e Roma como deuses, inspirando poetas e guerreiros da mesma forma que o fizeram através dos dois mil e poucos anos que se seguiriam; e estes poetas e guerreiros se lembrariam de seus encontros com eles em histórias de bruxas e de ocasionais licantropos. Contudo, onde quer que os Membros se instalassem, rivalidades surgiam. Na Grécia, foram os Membros de Atenas contra seus inimigos de Esparta. Eles atiçaram as Guerra do Peloponeso e quando a poeira baixou, ambas as cidades estavam arruinadas: Esparta se curvou e Atenas esgotou a maioria de seus recursos. Quando os Membros da Macedônia Antiga se envolveram, a invasão expulsou os combatentes. A rivalidade entre os Membros de Roma e Cartago merece atenção particular. Na verdade, Cartago merece menção especial devido ao seu papel na história dos Membros, tanto como um todo como pelos vampiros envolvidos.Cartago
Dependendo de para quem você perguntar, a colônia vampírica de Cartago pode ter sido tanto a maior realização dos Membros como um exemplo atordoante de arrogância. No fim, cabe à história decidir. Mas uma coisa é certa — Cartago deixou uma grande marca através das eras. Até hoje, alguns Membros ainda discutem e brigam entre si por causa do que aconteceu lá, mais de dois mil anos atrás. Cartago, a capital da Fenícia, era uma realização notável em um mundo de mortais. Comerciantes fenícios cruzavam o Mediterrâneo, trocando riquezas para adornar suas cidades. Os navegadores fenícios estavam entre os melhores do mundo greco-romano e seus navios navegavam as águas desde o Crescente Fértil até a Ibéria. Por muitos anos, Cartago até mesmo ultrapassou Roma em beleza, algo que Roma não aceitou muito bem. Mas enquanto os humanos disputavam os direitos de comércio e o coração de Roma queimava de inveja ao ver Cartago tão próspera, existia algo mais acontecendo nas sombras de ambas as cidades. Cartago havia sido estabelecida pelos Brujah como uma formidável experiência, uma tentativa de recriar Enoch e provar de uma vez por todas que os mortais e os Membros poderiam viver juntos livremente. Já se ouviram tantas histórias diferentes sobre o sucesso desta experiência que não se pode ter certeza de qual é a verdadeira. Pelo que se sabe, os vampiros de Cartago conseguiram fazer com que as coisas funcionassem pelo menos por algum tempo. Os mortais que viviam ao lado dos vampiros aparentemente entendiam as "diferenças" de seus vizinhos e algumas compensações eram realizadas. O sangue dos matadouros, por exemplo, era reservado para eles e, além disso, alguns servos eram designados para a alimentação. Em despeito da propensão dos Brujah a terem um temperamento forte, não existem registros da cidade ter se transformado em um abatedouro porque alguém insultou a descendência de um vampiro ou algo parecido. E claro, além dessa história, havia outras que falavam sobre excessivos sacrifícios de sangue e cultos demoníacos — em quem se deve acreditar atualmente? De qualquer modo, havia ao menos uma fachada de ordem e Cartago parecia se manter muito bem entre vampiros e mortais. Sim, existe um "porém" na história. O "porém" estava em Roma — os vampiros de Roma, principalmente Malkavian e Ventrue, se os registros estão corretos, aparentemente ambicionavam as riquezas de Cartago e classificaram a experiência dos Brujah como sendo ultrajante. Para os supersticiosos Malkavianos, talvez Cartago desconsiderasse diretamente a lei de Caim, onde as Crianças de Caim e as Crianças de Set não podem ter nada além de inimizade umas pelas outras. Mesmo que este não tenha sido o caso, o simples pensamento de que outros de sua espécie poderiam desfrutar de um sucesso e felicidade maior do que o seu próprio era intolerável para eles. No fim, eles exigiram que Cartago fosse destruída. Depois de duas Guerras Púnicas e vários ataques com elefantes, os Membros de Roma realizaram suas ambições. A cidade estava arrasada e queimada, juntamente com os vampiros que não conseguiram sair da cidade. Nos campos, a terra foi salgada e aqueles que se esconderam sob ela para escapar, das chamas, secaram até se transformarem em cascas com o sangue lixiviado de seus corpos. Os vampiros que escaparam, levaram seus contos (e sua amargura) através dos anos subsequentes. Até as noites de hoje, muitos Brujah menosprezam os Ventrue por seu papel na destruição do que alguns chamavam de "Uma Sociedade Formidável".A Idade das Trevas
De acordo com alguns, esta foi uma das nossas maiores eras, ou pelo menos uma das melhores épocas para ser um vampiro. E realmente, esta foi certamente uma das épocas mais liberais. A Máscara ainda não havia sido formalizada; muitos vampiros dominavam cidades e feudos ou mantinham altas posições nas cortes de Igreja ou de estado dos mortais, frequentemente de forma bastante franca. Os mortais viviam aterrorizados pelo sobrenatural, acreditando sinceramente em bruxas, licantropos, fadas e vampiros. Os Membros tiraram vantagem disso e em um mundo de noites longas e obscuras, eles eram realmente os mestres. A Camarilla e o Sabá como nós os conhecemos não existiam — todos eram tão independentes quanto imaginavam ser. Foi nesta época que o nosso clã, o Tremere, se juntou aos vampiros. Nossos registros dizem que começamos como um conluio de magos mortais, cujo líder, o amaldiçoado Mestre Goratrix, buscou a imortalidade para proporcionar a si mesmo e à Casa, tempo suficiente para trabalharem suas mágicas. Com este propósito, ele estudou o processo de "vida" dos Membros e tentou duplicá-lo. O plano do Mestre funcionou perfeitamente — mas ao perceber que havia colocado o grupo em grande perigo, o líder do conluio buscou alcançar um lugar na hierarquia da noite antes que fosse destruído. A culminação deste esforço foi a eliminação de Saulot, um ancião do mais tarde lamentado Clã Salubri.A Caça às Bruxas
Infelizmente, a indiscrição da sociedade vampírica começou a ocasionar sérias consequências. Nem todos tinham medo dos senhores vampiros que governavam de seus castelos no topo das colinas. A Igreja, usando as armas da coragem e da Fé, começou a lutar contra os poderes das trevas. Alguns eram peões mortais cuja avareza ou injuria finalmente superaram seu medo o suficiente para que eles traíssem seus mestres. Outros eram levados pela integridade e fervor religioso, acreditando que estavam varrendo o mal do mundo. Alguns realmente tinham boas intenções, levados por notórias ou pela visão da arrogância e atrocidades dos vampiros durante as chamadas "Longas Noites". Os vampiros de hoje não acreditam muito nisso — a maioria pensa que a Inquisição foi apenas uma ameaça vazia que os anciões usam para manter seus filhotes comportados ou que ela foi tão cansativa e inofensiva quanto os homens que supostamente compuseram sua hierarquia. Nenhuma das hipóteses poderia estar mais longe da verdade. Imagine um mundo onde a Igreja tem seus dedos em tudo — desde a medicina e educação até a política. Onde ela tem o poder de começar guerras em seu nome, destronar reis e conquistar a obediência de praticamente todos dentro da sociedade. Agora imagine que ela finalmente começa a voltar o seu poder contra a integridade da espécie vampírica. Já está assustado? Os vampiros de 1200 também não estavam — até que a Igreja começou a vencer.As Fogueiras das Bruxas e a Revolta Anarquista
As cruzadas finalmente terminaram — mal — para os mortais da Europa. Eles precisavam culpar alguém e a Igreja se voltou para si mesma, procurando o "corrupto". Durante os 200 anos seguintes, a Inquisição e seus aliados praticaram a política da terra arrasada na Europa, estendendo-se desde a Suíça até a Alemanha, França, Hungria, Espanha e Inglaterra. Eles pegavam quem quer que pudesse estar mandando a Europa e o povo de Deus para o Inferno, fossem eles judeus, muçulmanos, cátaros, mulheres, inimigos políticos, hereges, vampiros... A lista completa tomaria muito espaço, mas você já entendeu. Um bom número de vampiros foram encontrados e lançados ao fogo — alguns foram pegos de surpresa em seus refúgios, outros traídos e ainda outros até mesmo assassinados. Sim, "assassinados" e não tente mudar de assunto. Alguns anciões, em sua pressa e esforço para escapar, decidiram jogar os neófitos e ancillae da época como bucha para canhão no caminho dos Inquisidores que avançavam. Nem todos aceitaram em silêncio — o instinto de autopreservação não termina com o Abraço. Um bom número destes "jogados fora" escaparam e começaram a se unir para se salvarem, encontrando uma causa comum. Este foi o começo da plebe que passaria a se chamar de anarquistas. O que é lamentável é que, apesar do movimento ter se iniciado por uma causa compreensível, ele acabou se tornando um viveiro de jovens uivantes, delirando sem razão, vendendo a si mesmos aos maiores licitantes que pudessem ajudá-los em seus objetivos e satisfazer seus preços. No ápice do tumulto, com os anciões lutando para manter seus reinos de poder, os anarquistas decidiram que estavam dispostos a desistirem de seus domínios de uma vez por todas. A precisão foi impecável — entre a Inquisição e as Cruzadas, os recursos dos anciões foram devastados. Praticamente não havia uma organização formal, nenhum sistema de proteção contra os saqueadores anarquistas a não ser a união em bandos e, de um modo geral, os anciões eram muito independentes e paranoicos uns com os outros para sequer considerarem esta hipótese. Pelo menos até que mais ou menos duas dúzias de anciões de diversos clãs se uniram e apresentaram a proposta de fundar uma sociedade oculta que mais tarde se tornaria a Camarilla. De acordo com a maioria dos relatos, ela foi bem recebida, mas os anciões continuavam nervosos quanto a se unirem a rivais centenários. Mas então as coisas se agravaram — começaram a circular notícias sobre uma mágica desenvolvida pelos anarquistas que, alguns diziam, podia quebrar os grilhões dos laços de sangue. O número de anarquistas cresceu e rumores diziam que eles haviam conquistados clãs inteiros; alguns acharam suspeito o fato de que os rituais de quebra de laços de sangue aparentemente se originaram na Europa Oriental (há muito conhecido como um território Tzimisce). Na Itália, um novo clã surgiu, aparentemente de lugar nenhum, e muitos anciões ficaram muito preocupados sobre como isso poderia ter acontecido (mas quaisquer que fossem suas suspeitas, eles as mantinham para si mesmos — eu ainda encontrarei vestígios de que esse foi apenas mais um jogo para derrubar alguns "amigos"). Não se sabe qual foi o cataclismo final, mas qualquer que tenha sido ele, os anciões dos sete maiores clãs da Europa abruptamente se uniram e realizaram o primeiro encontro oficial da Camarilla em 1450. Sprenger e Kramer só alimentaram o fogo com seu Malleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras). Na verdade, depois de sua publicação, nós Tremere estávamos sob um perigo ainda maior, se é que isso é possível. Nossa associação histórica com feiticeiros e outros mágicos asseguraram a nossa culpa "por associação" quando estes outros grupos estavam sendo caçados. A despeito de nossos aliados e nossa "família", durante essa época nós perdemos um número excessivo se comparado aos outros Membros. Eu não estou certo de como os Membros conseguiram sobreviver. Alguns entraram em torpor, mas se esqueceram de avisar onde iam, e portanto, nunca foram acordados; eles ainda podem estar dormindo em algum lugar da Europa. Alguns morreram nas mãos de inimigos que se aproveitaram do caos. Muitos morreram nas fogueiras das bruxas, após terem suas verdadeiras naturezas reveladas ao tentar proteger seu rebanho ou por meio de outras associações que não tenham nada a ver com o vampirismo. Outros ainda adoeceram nas masmorras ou foram queimados pelo zeloso poder da Fé. No fim, a sobrevivência se tornou parcialmente uma questão de sorte e principalmente uma questão de estratégia. Alguns conseguiram sobreviver ao se entrincheirarem atrás de uma barreira de volumosos recursos — como por exemplo, criar crianças e deixá-las para trás. Outros, talvez dotados de premonição ou simplesmente sentindo o cheiro de encrenca no ar, buscaram lugares calmos longe dos piores alvoroços ou até mesmo fora da própria Europa. E finalmente, e mais importante, a Máscara (há muito considerada uma medida de precaução e não uma questão de vida ou morte) foi adotada e exigida em grande escala. Nunca mais os senhores vampiros cavalgariam pelas noites, assustando camponeses e governando abertamente feudos e abadias. Foi o começo da não vida como a maioria de nós a conhece — andando pelas sombras entre dois mundos, nunca nos revelando aos olhos da massa. Agora vamos adicionar no meio de tudo isso a Revolta Anarquista, que continuava em andamento. Agora que a Camarilla tinha uma organização, ela passou a ter os meios com os quais concentrar sua força e trazer a ira de Caim sobre os anarquistas delinquentes. Para os Tremere, a guerra era pessoal — nós tínhamos uma antiga rixa com um maldito Tzimisce e lá estavam eles do outro lado da cerca. Naturalmente, nós não tivemos piedade. Depois de mais ou menos 40 anos de batalhas noturnas, a Camarilla finalmente tomou a dianteira. Os anarquistas, reconhecendo que seria suicídio continuar, levantaram a bandeira branca. O primeiro conclave foi invocado em 1493 e o Tratado da Convenção de Thorns acabou com a guerra. Pelo menos para a maioria. Alguns anarquistas se recusaram a render-se, escolhendo fugir para se reagruparem. Quando reapareceram, eles haviam se tornado a abominação conhecida como Sabá. Cem anos de guerras sangrentas serviram apenas para dividir os vampiros em dois lados e garantir a ocorrência de ainda out ras guerras através dos anos.O Renascimento
Por tudo que se sabe, esta foi uma das melhores épocas para se ser sobrenatural e morto-vivo. Com as fogueiras apagadas ou resfriadas, muitas pessoas se sentiram tão felizes por estarem vivas que se tornaram um pouco loucas. No lado dos mortais você tinha poetas, dramaturgos, romancistas e inventores. E do lado sobrenatural você tinha... bem, poetas, dramaturgos, romancistas e inventores. Os mortais e os Membros interagiam regularmente, mesmo sem os mortais saberem com quem estavam interagindo. Contanto que uma pessoa pudesse charlar uma boa zombaria, a maioria das pessoas estava disposta a aceitá-la. O conhecimento, parte do qual foi preservado pelos Membros através dos anos, voltou ao mundo; certamente havia vampiros ensinando jovens mentes impressionáveis sobre os gregos e romanos como se eles tivessem estado lá (e talvez tivessem). Eu não ficaria surpreso em ouvir que alguns vampiros restituíram os estoques perdidos de literatura grega e romana com textos de suas próprias bibliotecas. O Cortesão de Castiglione e O Príncipe de Maquiavel fizeram da diplomacia e liderança uma forma de arte, sem dúvida foi de onde surgiram muitas das formas de governo "modernas" dos Membros. Em busca de patrocínio, artistas mortais de todos os tipos deram aos Membros uma chance de voltar ao jogo da sociedade mortal e alcançar a promessa de restaurar sua humanidade. Eu até suspeitaria que os Elísios, que nos são tão familiares, encontraram novas personificações durante esta época, como nas performances do Globo, as cortes dos Mediei e de Elizabete Primeira ou nos palacetes e castelos de uma burguesia próspera. Sim, de muitas formas este período foi uma festa para a Europa, tenha ela sido vampírica, humana ou algo mais. Depois de anos de uma Igreja enfurecida e de inimigos com fogo e aço nas mãos, muitos estavam prontos para "um pouco de ar fresco" e algumas lembranças das boas coisas da não-vida. Eram só flores? Dificilmente — a Camarilla e o Sabá ainda estavam lutando o último fôlego da Revolta Anarquista e esta parte da Jyhad durou mais ou menos 200 anos. Finalmente, a Camarilla forçou o Sabá a recuar. Este pode ter sido um recuo estratégico ou simplesmente uma falta de tempo e forças, mas a verdade é que eles se retiraram da maior parte da Europa. De acordo com um dos meus melhores contatos, o Sabá fugiu para o norte, para a Escandinávia, para lamber seus ferimentos e esperar uma oportunidade para se infiltrar novamente. Aparentemente eles tinham muitos ferimentos, pois os 50 anos seguintes foram relativamente calmos.O Século XVIII
Enquanto o Novo Mundo era colonizado, o Sabá deve ter passado por cima da Camarilla e chegado lá primeiro, pois eles saudar as embarcações na América e em Hispaniola quando os outros vampiros realizaram a viagem (se as histórias que o meu "tio" me contou forem verdade). Naquela época, a maioria dos Membros da Europa pensaram, "Deixe que eles a tenham. E só uma selva, cheia de índios e animais como eles mesmos." Eles pensaram que o Sabá se consumiria e ninguém sujaria as mãos. Como e porque os anciões não sabiam que o Sabá estava lá, eu não sei. Alguns Membros europeus influenciaram aventuras coloniais e representantes da coroa, que de um modo geral foram bem sucedidos. Certamente eles iriam descobrir que havia algo de errado.... Com o passar do tempo, estas informações ficaram tão encobertos por rumores e boatos que eu não posso mais dizer quais foram os fatos. O que eu posso afirmar com certeza é que os Membros que encaminhavam estas aventuras provavelmente começaram a se tornar ambiciosos, sobretudo os da Inglaterra. Eles aparentemente estavam surpresos com a Revolução e prontamente assumiram que o Sabá estava envolvido. Eu estou inclinado a pensar que esta foi uma ação de mortais "presunçosos" que levaram a melhor sobre os vampiros. Durante todo o tempo em que li jornais de guerra e lidei com as mesmas durante as noites, eu raramente vi a Mão Negra usando mortais como peões na guerra entre a Camarilla e o Sabá, nem mesmo hoje em dia; eles são muito orgulhosos para se utilizarem de armas "inferiores". De qualquer modo, lembre-se que os Membros europeus do Velho Mundo controlavam algumas coroas e expedições coloniais e para que os mortais da América (e os poucos vampiros) se levantassem e fossem à guerra, alguns tratados e acordos de comércio delicados poderiam correr riscos, sem falar que isso seria "altamente impertinente", de acordo com um príncipe Toreador da época. Eu tenho certeza que os poucos vampiros da América, que estavam gostando de estar fora do alcance da sufocante formalidade e dos velhos anciões do Velho Mundo, fizeram de tudo para se assegurar de que as colônias recebessem assistência, mesmo que ela viesse do Sabá. A Revolução forneceu uma boa cobertura para um outro conflito entre a Camarilla e o Sabá, mas este se apagou rapidamente por falta de números. Do outro lado do oceano, na França, provavelmente encorajada pelo sucesso dos americanos, surgiu uma nova revolução, com muito mais sangue e menos motivos. Quem seria o culpado desta vez? Bem, sempre existe o Sabá - eles realmente são bons "lobos maus", você não acha? O meu senhor, que sobreviveu à festinha particular de Robespierre como um mortal, acreditava que os Brujah e Nosferatu eram culpados mais adequados, enquanto um dos meus antigos regentes (que também sobreviveu à Revolução, mas como um vampiro) insiste que os Malkavianos foram os responsáveis. Eu prefiro discordar — eu acho que foram novamente vampiros de todos os tipos que se envolveram nos afazeres dos mortais, de um lado ou do outro. Eu duvido que o Sabá tenha tido um grande envolvimento, pois não existem registros de invasões ou guerras entre Membros (eles provavelmente estavam muito ocupados nas colônias). Qualquer que tenha sido a causa, nada impediu que alguns vampiros tirassem vantagem do caos— ou morressem nele. Como muitos Membros sempre beberam em companhia da realeza, não era difícil convencer a turba a vê-los como culpados e decapitá-los; aparentemente a Senhora Guilhotina raramente dormia. Por sorte, o meu próprio senhor e o meu "avô-senhor" conseguiram escapar da correria quando o Reinado do Terror saiu do controle.A Era do Vapor - O Século do Progresso
Esta foi uma época de exploração e indústria. Os mortais davam pulos em sua busca pelo progresso e os Membros estavam lá para patrocinar as mentes brilhantes e colher os frutos da civilização. Em uma época de gentileza e bons modos, muitos anciões gostaram do decoro exigido pela nova era e até hoje ainda mantêm tradições que foram introduzidas neste período. Onde quer que os mortais fossem, lá estávamos nós. Eu diria que "lucrativo" não é nem um começo para descrever nossos empreendimentos. O que está à vista é a versão dos livros de escola, o que normalmente é dito aos alunos. Por tudo o que aconteceu no século XIX, eu acho que ele merece um pouco mais do que um parágrafo. Se nada mais, os textos tendem a atenuar alguns pontos importantes. Conforme vampiros em busca de novos domínios e rebanhos invadiam continentes raramente visitados, eles se deparavam com inimigos e surpresas diferentes de tudo que já haviam visto antes. Para muitos, este foi o primeiro contato com os vampiros do Oriente Distante, do subcontinente e da África. Muitos ficaram realmente chocados ao perceberem que estes vampiros eram vastamente diferentes dos da Europa e América. Como o resto dos exploradores, os vampiros decidiram ampliar seus objetivos quanto à colonização. Mas ao invés de se entregarem, como os nativos mortais o faziam, estes estranhos vampiros responderam com toda torça. Poderes que ninguém jamais havia visto foram lançados contra os invasores e a luta continuou nas sombras, conforme os europeus tentavam colonizar e "civilizar os selvagens". Chegou um ponto onde os sobrenaturais e os mortais (de ambos os lados) se uniram como aliados contra a força rival. No final, os Membros bateram em retirada e esperaram que os humanos fizessem a maior parte do trabalho antes de empreender uma nova tentativa. Mesmo assim, os que voltavam não forçaram a sua sorte e se mantiveram bastante firmes dentro da "área civilizada" — Hong Kong, Madagáscar. Bombaim e Cairo — lugares onde os homens brancos eram definitivamente os encarregados. Eu admito livremente que, comparado com o que gostaríamos, nós sabemos muito pouco sobre o Oriente Distante e a África, exceto por algumas histórias realmente estranhas nas quais eu não sei se quero acreditar. A África também se tornou um espinho para os Tremere — todas as tentativas de estabelecer capelas por lá falharam por razões que poucos conseguem explicar. A Ásia também tem se revelado um mistério para nós. A única capela que manteve alguma estabilidade ou longevidade fica em uma parte altamente ocidentalizada de Hong Kong e o seu futuro atualmente está em discussão, devido a questões de cultura. Seria tolice desistir da nossa única entrada para o Oriente, mas o lugar está em grande necessidade de pessoas mais instruídas na cultura Oriental e no misticismo (ou que ao menos falem um pouco de chinês) para tirar vantagem das vastas oportunidades e criar mais ligações com outros países do Oriente. O vapor levou o desenvolvimento aos transportes, viagens e indústria — o que quer que fosse, o vapor podia melhorá-lo de alguma forma. Para os Membros, o vapor trouxe muitas vantagens, das quais a maioria de nós ficou feliz em tirar proveito. Os navios a vapor e as locomotivas fizeram com que os vampiros pensassem em viajar e realmente concluíssem seus planos — menor número de paradas, rápido progresso e transportes à prova de sol são o tipo de coisa que asseguram que você chegue intacto em seu destino. O vapor trouxe o capital para as fábricas e muitos Membros fizeram muito dinheiro ao perceber que o vapor era, de tato, a onda do futuro. O melhor exemplo deste sucesso foi Michael Vanderbilt, que transformou tanto o seu nome como sua sagacidade nos negócios em uma mansão, um bando da mais fina alta sociedade novaiorquina e um conjunto de fábricas ao longo de roda a costa leste. O século XIX também foi uma época de revoluções sociais e mudanças. Nem todos os Membros de clãs estavam envolvidos nisso, mas algumas generalizações podem ser feitas quanto a quem tez o quê. Com as indústrias surgiu a exploração da mão-de-obra e os Brujah perseguiam estes como uma mosca procura fezes. Repórteres que investigavam e denunciavam, assistentes sociais e organizações de trabalhadores ganharam proeminência, frequentemente através de informantes misteriosos (Nosteratu?), mas a interferência dos anciões garantia que eles nunca chegassem tão longe quanto queriam. As indústrias tiravam as pessoas de pequenas cidades do interior e as colocavam em cidades sujas e abarrotadas — boa caça, mesmo que impura. A indústria têxtil, de mineração e outras assolavam a paisagem, jogando fumaça aos ares, devastando florestas e envenenando as águas, sem dúvida incitando a ira dos Lupinos. Em uma era cheia de causas e ativistas sociais, alguns vampiros encontraram mortais cujos esforços se encaixavam perfeitamente com seus próprios, embora as razões fossem bastante diferentes e nem sempre benignas. Eu estou certo de que os Malkavianos observaram Nellie Bly entrar disfarçado em hospícios parra registrar os abusos contra os loucos. Alguns Nosferatu, especialmente em Londres e New York, ocasionalmente guiavam prósperos assistentes sociais para observarem seus rebanhos. A Ralé Brujah confraternizava com socialistas, sindicatos e assistentes sociais para "ajudar os prejudicados" - eu estou certo que este é apenas um eufemismo para sangue fácil. Membros mais refinados patrocinavam qualquer causa que lhes parecesse de bom gosto no momento; não existe nada mais na moda do que fazer "caridade". No mínimo, eles tomavam conta de seu rebanho, assim como um fazendeiro toma conta de seus animais. Vacas saudáveis fornecem bom leite, se é que você me entende. Me foi dito que, socialmente falando, Elísios e festas ocorriam como nas páginas de Edith Wharton. Era muito bom ter dinheiro nestas noites, mas a não ser que você tivesse onde gastá-lo e alguém para lhe dizer como gastá-lo, os enganadores teriam um dia cheio com você. O ideal do Elísio, imutável desde o Renascimento, foi colocado de lado, enfeitado com alguns rufos e provou que ainda aguentava uma dança no salão de baile. Um membro de clã me disse uma vez que, naquela época, um Elísio podia ser qualquer coisa desde o intelectual (uma conferência sobre Socialismo) e o artístico (um recital em uma sala de estar) até o transcendental (exercícios para abrir a si mesmo a "possibilidades transcendentais" — o que quer que seja isso). Eu ocasionalmente imagino como muitos vampiros realmente se encantaram ao descobrir que ainda eram humanos o suficiente para se entediarem e dormirem em um Elísio. O Sabá decidiu fazer uma nova tentativa de expulsar a Camarilla das Américas, e de acordo com um erudito nada popular da nossa espécie, os anciões chegaram muito perto de perder. Agradeça ao Sabá que perdeu o controle do seu lado das coisas — se não fosse por isso, você não estaria lendo isso. Os Lobisomens da fronteira americana decidiram que eles não estavam dispostos a dividi-la com o resto de nós — nada como o "destino manifesto". Quanto ao resto, se pelo menos a metade dos informes que eu li ou ouvi dos anciões for verdade, os distritos da luz-vermelha e os traficantes de drogas devem grande parte de sua vivacidade a certos vampiros empreendedores, sobretudo os Setitas. A maioria dos Membros com quem eu falei concordam que devia haver algo na água nesta época. De que outra forma é possível explicar todos os eventos sobrenaturais que floresceram por toda a paisagem? Desde fotos de fadas até mesas trepidando, reitorias assombradas e ocultismo, o século XX seguiu o XIX como se vestisse uma mortalha.A Idade dos Espíritos
Por compreender dois séculos e ter na sociedade dos Membros um papel maior do que lhe é atribuído, a Idade do Espiritualismo merece um pouco mais do que uma ou duas linhas relapsas. Depois de tê-la visto dos dois lados (como um mortal em seu auge e como um vampiro, observando-a crepitar e morrer), eu posso dizer que este foi um tempo rico, cheio de estranheza e repleto com o sobrenatural. Nós, Tremere, estávamos muito ocupados, mais do que o normal. Esta foi a era das mesas trepidantes, sessões, médiuns, canalizadores... e fraudes, farsas, exibicionistas e desilusões que iriam nos ferir através dos anos por vir. Fantasmas e espíritos médiuns sempre foram assuntos com os quais nós tínhamos problemas para nos aprofundar e, no fim das contas, esta época parecia ser tudo, menos feita para nós. Até mesmo Membros que tradicionalmente evitavam o ocultismo (primariamente por respeito à nossa longa distinção sobre o assunto) se aventuraram neste campo e nos trouxeram alguns tesouros ocultos surpreendentes. Depois de suportar mais do que uma sessão fraudulenta que pretendia contatar minha falecida mãe, eu posso entender facilmente o que levou Houdini a expor estes charlatães. Através dos anos, eu ouvi algumas histórias dos Tremere e de outros vampiros a respeito desta época e poucos falaram dela com algo que não fosse amargura — contos de amantes perdidos, crianças e senhores que eles esperavam contatar, apenas para serem enganados e despistados. Parte da amargura se originou ao serem feitos de tolos, mas nem mesmo os Amaldiçoados gostavam de ter suas esperanças e emoções exploradas e usadas com tanta negligência. Quanto a isso, nós não éramos nada diferentes dos humanos e eu acho que isso perturbou alguns de nós mais do que eles gostariam de manifestar Talvez o suficiente para patrocinarem esses enganadores e subornar seus assistentes em troca da revelação de seus truques, causando quedas espetaculares. Alguns sugeriram que a quantidade de incidentes sobrenaturais que ocorreram durante aquela era foi um sinal de que a Máscara era fraca. Esta foi apenas mais uma parte da equação. O sobrenatural se tornou um assunto desejável de se discutir e estudar e até mesmo as pessoas mais tímidas surgiram com histórias de seus encontros com fantasmas e outras criaturas da noite, sabendo que seriam recebidas com um pouco de seriedade. De forma semelhante, a literatura sobrenatural atingiu uma posição bastante respeitável, particularmente as histórias de vampiros. E finalmente, investigações sérias e o estudo de fantasmas, espíritos e outros eventos e entidades paranormais vieram à tona, particularmente com a fundação da Sociedade para Pesquisas Psíquicas (SPP) e a sua sósia americana. De acordo com o meu senhor, que passou a maior parte de seu tempo em Londres, alguns vampiros intrometidos se insinuaram na indústria de livros depois que as histórias de vampiros e fantasmas começaram a aparecer em grande número. Não obstante, a publicação de Drácula colocou a Camarilla em parafuso. Alguns acharam o livro divertido, mas nem todos. Alguns anciões acharam que, ele poderia instigar a disseminação de quebras da Máscara e atrair uma excessiva curiosidade dos mortais ou até mesmo respostas de irritados Tzimisce. Algumas cidades repentinamente se encontraram como anfitriãs de arcontes, que estavam prontos para descer o machado em qualquer Membro misterioso. Estranhamente, os Demônios permaneceram bastante calmos; eu pensei que eles sairiam por aí queimando todas as cópias que pudessem encontrar daquela descrição fiel do "Dragão". Em meio ao Drácula, as fotos de Cottinglcy e mesas trepidando, os caçadores não sabiam em que direção seguir. Infelizmente para nós, eles aumentavam seus números com o passar do tempo — a fraude e a ambição dos intermediários paranormais, uma Guerra Mundial, assassinos seriais iludidos e um cansaço global começaram a fazer efeito na crença e tolerância dos mortais em relação ao sobrenatural. Encorajados pela cruzada do próprio Houdini, recrutado pela Inquisição, os mortais se voltaram contra nós, mas não conseguiram encontrar a base que os tinha apoiado na Caça às Bruxas. O Sabá decidiu se informar, lançando incursões nas cidades americanas, pensando que o Círculo Interno estava distraído, mas foram rudemente surpreendidos ao encontrarem príncipes prontos e ansiosos por uma luta. Conforme o mundo se agita freneticamente em seus últimos sonhos, os revolucionários e zelotes decidem acordá-lo de uma vez por todas.Revolução
Conforme o século se transformava de XIX para XX, o descontentamento originado pelos revolucionários começou a ferver. Através de toda a Europa, velhas monarquias caíam e eram colocadas de lado em favor da "nova ordem" que supostamente favorecia o proletariado. Um dos principais exemplos foi a Revolução de Outubro, liderada por Lênin na Rússia. Não para a opressão monárquica e sim para o povo no governo. Em minhas pesquisas, nem mesmo o mais ardente dos teóricos da conspiração foi capaz de encontrar envolvimento dos Membros com a queda dos Romanov. A execução deles em Ekaterinberg chocou muitos vampiros, e não apenas os de Sangue Azul. Foi a sentença de morte da era monárquica; nunca mais haveriam reis, imperadores e supremacias como as conhecidas pelo Czar Nicolau e seus contemporâneos mortais. Desde então, pelo menos três clãs reivindicaram ter Abraçado Anastácia em suas hierarquias. Nenhum deles mostrou qualquer sinal de ser remotamente relacionado aos Romanov; eu acredito que isso foi feito como símbolo de status que acabou por explodir na cara dos clãs. Quanto a Rasputin — não toque neste assunto. França, Alemanha, Espanha, Sérvia — por todo o continente, os mortais experimentavam o gosto da liberdade. Alguns venceram, alguns perderam e outros não chegaram a lugar nenhum a não ser de volta onde começaram. Os Membros, como sempre, observavam e apostavam nos vencedores. Alguns anciões dizem que certos vampiros encorajaram o descontentamento dos mortais, arriscando a instabilidade nas cidades em nome da agitação do estado atual. Certamente, muitas das incursões do Sabá em cidades da Camarilla foram sincronizados com tumultos revolucionários. Assim como alguns coup d'etats liderados por anarquistas e outras tentativas.Um Mundo Em Guerra
Eu acho que muitos Membros acreditavam estar completamente exaustos da noção de guerra e da sua brutalidade quando a Guerra Mundial veio à tona. Mas eu sei que alguns vampiros complacentes se sentaram e observaram quando tanques atravessaram os campos da França, o gás mostarda transformou homens em carne inchada e armas de repetição demonstraram sua habilidade para ceifar soldados às dúzias. Antes disso, a brutalidade tinha outro significado — espadas e machados, saques e pilhagens e uma escala relativamente menor. Mas desta vez, a destruição foi mais difundida, mais pessoas estavam levantando seus braços e estes braços eram capazes de causar uma volumosa quantidade de danos. Enquanto alguns jovens vampiros mergulharam de cabeça na batalha, muitos anciões correram para a colina. Mesmo para os que não respiram, o gás mostarda pode afetar duramente os pulmões. E deixando de lado a brutalidade, o simples alcance do evento pasmou muitos. A Primeira Guerra Mundial foi chamada de Grande Guerra por uma razão; naquela época, havia sido o maior evento que a maioria das pessoas já havia visto — literalmente, nações inteiras minando umas às outras. Telefones, telégrafos, rádio — tudo isso garantia que não importa onde uma pessoa se encontrava, ela recebia as últimas notícias sobre a guerra. A Camarilla continuou lutando contra o Sabá, até mesmo durante esta época. Nossas guerras contra o Sabá nunca cessaram inteiramente, só latejam como brasas sob cinzas antes de estourarem em chamas novamente. Estejam os Membros da Camarilla traficando drogas em Chicago, alimentando a população arrasada da Rússia, supervisionando uma recém-criada indústria de cinema ou apenas sobrevivendo, lá está o Sabá. Logo após a Grande Depressão, contudo, as atividades do Sabá cessaram quase que por inteiro. Os bandos de guerra continuavam se aventurando em brigas de rua, mas tudo parecia extremamente calmo. Eu ainda não sei o que fez com que a Mão Negra se escondesse. Talvez uma visão de Caim. O que quer que tenha sido, com todas as preocupações dos Membros da Camarilla, uma guerra contra o Sabá era a última coisa que qualquer um iria querer. Poucos vampiros de hoje gostam de falar sobre seu envolvimento na Segunda Guerra Mundial na Europa, e eu acho que eu não posso culpá-los, não com as minhas próprias lembranças diante de mim. Em retrospecto é fácil dizer, "Nós não sabíamos, nós nos mantivemos fora dos assuntos mortais, nós fomos enganados, etc." Para mim isso parece um monte de desculpas. Nós, que de algum modo somos todos relíquias vivas, não podemos dizer que esta foi a primeira vez na história, porque não foi. A ignorância não é desculpa para um genocídio, que, além de desagradável, foi um tolo desperdício do rebanho. Quanto ao resto da guerra, foi um Segundo Tempo da Primeira Grande Guerra, com algumas mudanças. O gás mostarda pode ter sido declarado ilegal, mas a propagação de um ataque relâmpago sobre toda uma cidade não é exatamente uma melhoria. Membros tentando fugir do inferno que se tornou a Europa se refugiaram nos Estados Unidos, tensionando muitas das estruturas de poder dentro de cidades estabelecidas e estendendo os recursos aos seus limites. Aqueles entre nós que permaneceram escondidos, observando cidades sendo bombardeadas de dentro da "segurança" de seus porões, lutaram de mãos vazias contra os saqueadores e sugavam tudo que usasse um uniforme Alemão.A Idade Moderna
Depois da bomba de Hiroshima e Nagasaki, o mundo parecia estar de ponta cabeça, como se estivesse tentando reinventar a si mesmo. Desta vez, ele não foi muito bem sucedido. A reconstrução era longa e árdua, mais para os vampiros do que para os mortais. Para muitos anciões e ancillae, significava ver seu mundo, seus refúgios e seus tesouros jogados como entulho. Muitos dos mais prudentes (e com mais sorte) conseguiram mover seus maiores tesouros (crianças, livros, relíquias) para locais mais seguros, mas nem todos tinham tanta sorte. O velho mundo tinha sido rasgado ao meio e estava sendo remendado e para os Membros anciões, esses foram tempos difíceis. Alguns deles simplesmente não podiam encarar a destruição de seus mundos e decidiram entrar em torpor ou se mantiveram acordados para ver o nascer do sol. A era McCarthy — Eu fui mandado para observá-la junto com alguns outros, para assegurar que nenhum peão importante terminasse nas tribunas. Muitos dos anciões que começaram a reaparecer depois das Guerras Mundiais voltaram imediatamente para seus porões e caixões; a maioria deles já havia sido europeu em alguma parte de suas vidas e viam muitas similaridades entre a Caça às Bruxas e os interrogatórios atuais. Eles provavelmente estavam certos; apesar dos "culpados" não poderem ser queimados vivos em praças públicas, eles podiam ser expostos ao ridículo e humilhados, o que pode ser igualmente ruim. Bem, quase tão ruim. A Era de Aquário — Acredite ou não, nós Tremere concretizamos poucas realizações durante os anos 60. Apesar de um renovado interesse pela magia (uma mudança bem vinda, depois dos frios e estéreis anos 50), houve relativamente poucas oportunidades para nós. Na verdade, as orgias, drogas alucinógenas e a música eram prazeres para os que ainda possuíam carne viva. Sim, eu experimentei alucinações baseadas no sangue, mas não de propósito — um erro ao me alimentar que eu nunca me esquecerei. Ao menos, entre as modas, a música e as pessoas, ela deve ter sido a era mais absurda que eu já vi. Finalmente, aqui estamos nós, em uma era que assistiu o homem pousar na lua, a ascensão e queda da Cortina de Ferro e a criação de algumas das mais destrutivas armas imagináveis para propósitos de "defesa". Desde que a bomba caiu em Hiroshima, esta tecnologia se espalhou rapidamente; literalmente, cada noite parece trazer um novo mecanismo ou descoberta. Eu sei de vampiros anciões que estão tão atrasados no tempo que não aceitam uma ligação telefônica, muito menos usam o maravilhoso e-mail, simplesmente porque têm medo de usar tais coisas. Eu tenho que admitir que é bastante perturbador descobrir que as máquinas e ideias sobre as quais eu li em H.G. Wells ou Júlio Verne, quando era um mortal adolescente em 1904, estão sendo comumente usados. Ocasionalmente eu tenho que me esforçar para aprender algo novo ou me submeter à compaixão de um neófito em troca de ajuda, mas isso faz parte de sermos o que somos — nós podemos "parar", mas o mundo não pode. Se você não se atualizar, você será deixado de lado. O assustador é que algumas vezes os vampiros anciões destroem os jovens que sabem usar esta tecnologia porque têm medo deles. Serão eles que irão nos liderar até o próximo milênio? A maioria dos crimes violentos dos dias de hoje não são cometidos por vampiros, mas servem como disfarce para outros acontecimentos. Quando eu cheguei, Milos Kilar (o antigo regente) me disse que nas últimas décadas, os ataques do Sabá vêm demonstrando padrões cada vez mais frenéticos. Existem duas possibilidades: Ou eles estão jogando tudo na "última tacada" ou estão tentando desesperadamente ter algum papel no que está por vir. Eu acredito na primeira hipótese, apesar de não estar certo sobre o que eles estão tentando acertar. Com a virada do milênio, os cultos à Gehenna e os anciões apocalípticos (você os conhecerá — aqueles que zombam publicamente dos Antediluvianos, e então, murmuram seus temores e blasfemam em seus aposentos quando pensam que ninguém os está ouvindo) estão ainda mais ansiosos e desesperados conforme os anos se aproximam. Eu sei de um certo pontífice que está cada vez mais obcecado em encontrar uma "mulher com a marca da lua crescente" citada no Livro de Nod, a ponto de ignorar outros assuntos mais urgentes. Alguns dizem que o Sabá está em seu último frenesi porque seus líderes acreditam que os Antediluvianos aparecerão em algum momento próximo, ou logo após o começo do milênio. Eles já conseguiram recuperar várias cidades de nossos príncipes e reivindicam algumas outras que a Camarilla tradicionalmente domina. Nós mantemos o controle de Nova York, mas somente porque nos agarramos a ela como gatos desesperados para fugir da água. Se Nova York cair, a Costa Leste irá desmoronar. Quanto à Camarilla, veja meu comentário acima. Nós mantivemos uma posição firme, mas — e não fale sobre isso fora das capelas — estamos começando a sentir o desgaste e estragos dos séculos que se passaram. A não ser que algo aconteça — nossos líderes acordem, o Sabá desapareça, os Mestres despertem— nós logo estaremos desmoronando como um velha lápide. E então, não importará quantas cidades estiverem sob nosso controle, porque sem a Camarilla para manter as coisas juntas de um modo razoável, os Membros se desintegrarão. E é aqui que nos encontramos, depois de 5000 anos de História.
Tipo
Record, Historical
Mídia
Paper
Data de Criação
23 de Maio de 1998
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