Aquele dia da festa by Zippy | World Anvil

Remove these ads. Join the Worldbuilders Guild
12 de Elyonue de 4126

Aquele dia da festa

by Zippy Strapstringstarstrand

Diário de viagem de Zippy StrapStringStarStrand
Entre 9 e 10 de Elyonue de 4126
 
A história começa com Anna me negando a cerveja, e minhas mãos, treinadas na arte anã, recuperando-a. Essa parte eu lembro bem, principalmente da cara da elfa. No futuro, iriamos saber que nossas ações desencadeariam em uma descoberta bem interessante para ela, mas, na hora fiquei preocupada em ter estragado mais alguma coisa. Virei o caneco e continuei dançando pela mesa.
Entre canecos e bifes e pratos e facas, outros pés encontram os meus sobre a bancada. Felpudos e bufantes, deslizam ao meu redor, enquanto, acima deles, um corpo rechonchudo e um sorriso embriagante de uma linda halfling acompanham a dança. Algumas mesas depois, saltamos para as almofadas junto a trupe de bardos que parecia ter nos puxado para lá com sua música alegre. Não tão hábil como a Halfling em seus pés macios, perco o equilíbrio e despenco sobre ela, rolando pelas almofadas. Ela solta mais uma risada candida e me ajuda a levantar. Logo atrás dela há outro com o mesmo tamanho e pés felpudos, rosto corado e um tanto cheio de feições parecidas, com uma das mãos segurando uma flauta de pan e a outra extendida oferecendo apoio. A primeira halfling apenas faz reverência puxando o vestido com uma das mãos e volta a rodopiar ao redor da banda.
Não levou muito tempo para que eu conhecesse todos: Ervina, a halfling de antes dança e as vezes toca a pandeirola, seu meio-irmão, Pinas, fica na flauta, Liv toca o alaúde, enquanto Aném adiciona efeito místico de instrumentos élficos e o líder, Peter, canta e tenta uns instrumentos experimentais.
Vejo a festa seguir, Thomas sai carregando Lucas dormindo em seus braços, um rato mais tenaz que os outros deve ser Lifa partindo, Malaquias, mais sóbrio que um anão em dia de velório segue reto para porta principal, enquanto Anna mostra suas habilidades de furtividade embriagada não chamando tanta atenção quanto sai de fininho com o Tio Beilous.
A parte triste de inventarem uma magia pra curar embriaguês é você poder passar duas vezes pela parte da bêbada melancólica no mesmo dia. Me sento num canto sentindo que deixei mais um grupo ir embora. Até a mão rechonchuda de Ervina aparecer para me puxar pra cima. Peter está recebendo os dividendos da festa enquanto os outros vão juntando seus apetrechos e fazendo-os desaparecer em sua bolsa de carga.
Acompanho-os madrugada adentro pelas ruas de Ardmoor, a Halfling continua saltidando e dançando como se algum deus impedisse-a de cansar, seu meio-irmão suspira ao lado. “E seu grupo, menina?” pergunta ele.
Suspiro também. Qual grupo? Esse grupo ou os outros grupos que larguei por aí? Penso. Junto as palavras e sorrio: “Vai bem, sim, obrigada!”
“Se vai bem, por que andas conosco, criança?” Foram as primeiras palavras que ouvi da boca de Aném. Fico sem jeito e murmuro algumas coisas que espero não terem feito sentido. Peter gargalha e, com uma grande mobilidade, alcança minhas costas para dar um tapinha. “Talvez você precise de um tempo com a gente então” ele diz, alegremente.
Esse tempo passa enquanto vou conhecendo-os melhor. Aném cansou de 200 anos de intrigas políticas como diplomata e resolveu usar seus talentos para alegrar pessoas, Liv não teve uma vida muito fácil na periferia, mas encontrou apoio no grupo, já Peter é herdeiro de nobres adeptos de Yaratma e deveria seguir os passos como paladino, Ervina sempre soube da sua vocação como barda enquanto Pinas tem um amor platônico pela meio-irmã.
Sentindo-me num bom instante de embriaguez, começo a contar da minha breve vida aprendendo os dotes de barda com o grupo de Ziggy e o trágico fim dessa curta saga.
Escuto minha voz contando: “Lembro dos tempos de estudo em Yridren, da pirralha minúscula que sonhava em criar gigantes da colina, gigantes da forja, gigantes andarilhos dos sonhos.
Mas essas coisas demoram.
Quando meu pai diz que está velho demais eu percebo que não dá tempo pra tudo na vida. Talvez minha aventura nesse mundo acabe antes mesmo que eu comece meu primeiro gigante.
Talvez seja um bom momento pra abraçar o momento, as coisas pequenas. Aproveitar um pouco a vida dessas criaturas que vivem tão rápido, mesmo que eu não consiga acompanhar o ritmo delas.”
Peter solta sua habitual gargalhada. “Por que não faz isso então?”
“Verdade, dane-se tudo isso! Danem-se os planos, tenho um plano!” eu exalto. E levo o grupo para a oficina.
Chegando lá, mostro a armação da Pesadelo Marco 8, tão desgostosa quanto uma deusa que criou um povo que só dá trabalho. Então exclamo: “Me ajudem aqui, vamos nos livrar disso! Conheço alguém que estaria disposto a receber essa lata-velha mesmo no meio da madrugada”.
Como esperado, o senhor Conrado estava lá na metalúrgica, lidando com sua insônia, e ficou bem feliz em trocar minha cria por algumas peças de ouro. Igualmente fácil foi trocar essas peças por engradados de vinho nobre de origem duvidosa que alguém estava tentando se livrar no porto.
O sol já quase nascia quando Pinas finalmente tomou a iniciativa de se declarar para Ervina enquanto eu, dom e a elfa silenciosa apenas assistíamos com nossos canecos na mão. A porta bate com os golpes de Peter e Liv, que, no momento, notei que já haviam sumido há algum tempo. Suas mãos estão ocupadas com o que parece ser uma armadura… uma armadura de cavalo de guerra.
Sinto o baque na minha cabeça por levantar rápido demais e cambaleio. “Que isso, rapaz?” eu acho que exclamei (apesar de que eu acho que nunca chamei alguém de rapaz).
“Uma boa bebida por um bom cavalo! Nunca ouviu esse ditado?” ele exclama. Eu imagino que não consigo lembrar por estar longe, mas a cara perplexa de Aném confirma que provavelmente não ouvira um ditado parecido em 200 anos.
O garoto louro larga a armadura sobre as marcas de roda de onde ficava a Pesadelo. “Novos projetos pedem novas peças. Essa é a armadura que meus velhos esperavam que fosse colocar um dia no meu cavalo, mas não vi égua mais atraente pra usar essa armadura até agora que sua Pesadelo” E soltou mais uma gargalhada alegre. “Seu tempo nesse grupo acaba logo, porque você claramente ainda tem outro grupo para chamar de seu agora.”. Nessa hora, ele tira meu diário do bolso e joga para mim. “Relaxe, você me emprestou ele espontâneamente, os seus segredos estão seguros comigo.”
Eu fico sem palavras… e, provavelmente a ausência de palavras vira outros murmuros sem sentido.
Aném me ajuda a levantar e vai observar a armadura comigo. Parando no brasão com a runa de Yr sobre uma placa prateada. “Yaratma, deidade das ideias”, pronuncia ela, privando-nos rapidamente de sua voz mágica mais uma vez.
“Yep! Parece que esse bardo aqui não vai trazer muitas inovações para sua divindade sem seu corcel, mas seu grupo parece que vai fazer muito mais pelo mundo ainda.” Foi a fala de Peter antes de sua habitual gargalhada.
Eu me pasmo, gaguejo, imagino a sobreposição do rosê da minha pele com o vermelho da embriaguês com o corado de vergonha e não acho tom para me descrever. “Mas, acabamos de vender a pesadelo!” Eu acho que junto as palavras para dizer.
Mais uma gargalhada do rapaz: “Então temos que pegar de volta, mas, primeiro, vamos aproveitar esse vinho um pouco mais, beba”
E bebemos um pouco mais, enquanto assistimos os halfings dando adeus a qualquer conceito de privacidade ditado pela sociedade humana.
Então leio meu diário e percebo cada memória queria que começava a se formar nesse grupo, agora eu era também... uma Heroína Inesperada.

Continue reading...

  1. Desejos Inesperados: O templo de sangue
    4 de Elyonue de 4126
  2. Aquele dia da festa
    12 de Elyonue de 4126
  3. Aquele dia em que o narrador não apareceu - Parte I
    23 de Elyonue de 4126
  4. Aquele dia em que o narrador não apareceu - Parte II
    23 de Elyonue de 4126