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S01E01 - O Abraço

General Summary

Sexta-feira, 30 de Agosto de 1991.   20:00, Chicago, Illinois.   Elizabeth Bennett estava trabalhando em sua pesquisa de doutorado para criar um sangue artificial capaz de ajudar pessoas que precisam de transfusão de sangue sem a necessidade de haver um doador. Formas anteriores de criar um sangue artificial envolviam usar compostos sem hemácias e plaquetas que basicamente serviam para manter a pressão interna e a mesma concentração osmótica. Já era tarde quando Benjamin Miller e Harley Greene tentaram lhe chamar sem sucesso para uma noitada na boite Succubus Club.   Muito centrada em sua pesquisa, Bess, como gostava de ser chamada por seus amigos, recusou a chamada. Ela foi rude, a princípio, perguntando se parariam de chamá-la se ela fosse dessa vez. Sabia que Ben não dava a mesma atenção à pesquisa de doutorado, ainda não tendo publicado nenhum artigo e já se aproximando da época de passar pelo comitê de avaliação. Harley e Ben se entreolharam, eles sabiam o quão importante era a pesquisa para Bess e sim, continuariam a importunando mesmo que fosse dessa vez. Harley ofereceu a Bess que pensasse sobre o assunto e ligasse para ela caso decidisse. A garota lhe daria carona, mas sairia no máximo às 23 horas de casa.   Ambos deixaram Bess para terminar seus afazeres, Harley dando um último olhar para a amiga antes de sair. Embora a forma como Bess tinha tratado os dois parecesse levar a crer que não dava a mínima para eles, Ben e Harley eram os únicos que ela considerava amigos em sua vida. Era um pouco solitária, verdade, mas se expressar em conversas não era seu forte. Sabia julgar o caráter das pessoas, tinha certa empatia, mas seu fraco era conseguir ser agradável. Não depois do que passou nas mãos de sua mãe.  

O Ataque

  As luzes no corredor foram apagadas pelo último que saiu. Bess já estava há um tempo focada em seu trabalho, tendo realizado avanços na formulação de hipóteses e preparando simulações. Ia para o laboratório preparar algumas amostras quando a luz caiu e o gerador de emergência entrou em ação. Preocupada com a pesquisa, foi salvar seu trabalho quando percebeu que havia algo errado com o terminal Unix que trabalhava, a carga de processamento estava alta, havia alguma transmissão sendo feita.   Bess percebeu que estavam acessando a área de arquivos de sua pesquisa e os dados estavam sendo copiados pela rede. Que ultraje! Alguém estava roubando o fruto de seu trabalho! Sem pestanejar, Bess se jogou pra baixo da mesa e puxou o plugue de energia. Ela tinha boa memória, conseguiria reescrever boa parte do que fez e talvez até fazer melhor do que já tinha feito, embora considerasse uma obra-prima em sua arrogância acadêmica.   O telefone tocou. Pelo led que piscava era o guarda noturno que Bess conhecia por sair sempre às altas horas da noite. Ele perguntava se estava tudo bem, gostava de Bess quase como uma filha ou neta, sempre demonstrou preocupação por aquela jovem não estar saindo e se divertindo como seria normal para outras de sua idade. Era quase a mesma preocupação de Ben e Harley. As palavras dele foram cortadas pela metade quando o guarda se assustou com alguém que entrava no prédio. Tiros foram disparados e a linha ficou muda. Bess tentou ligar para 911 desesperadamente, mas a ligação não completava.   O elevador fez barulho. O que estavam fazendo no 8º andar? O financeiro não era ali, seria roubo de equipamentos? Seu laboratório trabalhava com tecnologia de ponta, ela mesma não fazia ideia dos financiadores da pesquisa em que estava trabalhando, era muito dinheiro vindo do governo e de várias empresas privadas, havia muita coisa cara ali.   Instintivamente, Bess se jogou no chão quando viu os homens vindo pelo corredor. Armados com metralhadoras leves, ternos e óculos escuros. "A essa hora da noite?", pensou, mas seus pensamentos foram cortados quando seus olhos, se arrastando pelo chão em direção ao laboratório de testes de amostras, se encontraram com um par de botas militares e uma calça jeans apertada que seguia as pernas até uma jaqueta de couro também apertada. Uma mulher de cabelos curtos estava ao seu lado. Bess se assustou. A mulher praguejou, disse que Bess não deveria estar ali àquela hora, que o local deveria estar vazio.   Antes que pudesse saber quem era a mulher, os homens que invadiam começaram a atirar em ambas. Bess se escondeu embaixo da mesa, a mulher puxou uma pistola e disparou contra os agressores, praguejando como um estivador do porto. Tiros acertaram o braço da mulher, mas era como se ela não se importasse. Ela estendeu a mão para Bess, segurando outra pistola e perguntando se ela sabia atirar. Bess estava confusa, havia perdido a compostura e começou a chorar desesperadamente. Os tiros continuavam até que ela ouviu um som metálico batendo na geladeira de amostras e rolando em sua direção. Uma granada.   Bess conseguiu se jogar, era como se os anos forçados naquele acampamento católico de verão que sua mãe a obrigava a ir estivessem fazendo valer a dor e as humilhações que sofreu. Escapou da explosão e aparentemente a mulher também. Ela virou e perguntou se Bess estava bem. Bess respondeu que sim, mas sua barriga estava ficando fria e suas mãos quentes. Quando olhou, um estilhaço havia se alojado em seu ventre e vertia sangue como a Fontanna di Trevi.   Desmaiou a tempo de ver a mulher alcançar uma seringa na geladeira, tendo-a aberto com um soco. Sempre praguejando.  

O Abraço

  Bess delirava. A injeção de adrenalina a estava mantendo viva, seu coração ia e vinha. A perda de sangue era demais. Mal estava segurando seus pensamentos. Onde estava? Tudo balançava. Respirava ofegante com a vida que esvaía de seus pulmões. A mulher parecia estar atenta a algo na frente. Estava num carro? Ela dirigia? Suas mãos ainda tinham o sangue de seu ventre e Bess dava seus últimos suspiros quando ouviu o mais forte "Merda" que aquela mulher havia dado à noite inteira.   Tudo ficou escuro. A vida inteira de Bess passou por um instante em seus olhos. Desde sua infância sendo a garota da mamãe, numa difícil criação católica, o acampamento de verão católico obrigatório, a adolescência revoltada, a negação da religião para se livrar da sombra da culpa que sua mãe lhe imputava, os anos na faculdade, descobertas de sua sexualidade, dores de coração, a paixão pela pesquisa, o doutorado... E a recusa em sair. Teria sido sua vida diferente se tivesse aceitado ir com Harley e Ben? Teria ela aproveitado a chance de vida que lhe foi dada? Teria feito algo diferente? Estava indo para onde? O céu que sua mãe prometia se fosse uma boa garota? Ou o inferno, se continuasse com aquelas coisas demoníacas que sua mãe esbravejava que estava fazendo?   Frio. Vazio. A solidão não lhe era estranha. Era isso? O fim era um quarto escuro? Não haveria céu nem inferno, como prometiam os pastores na TV, nem os seriados que via? Tudo mudou em um instante, uma dor lancinante se fez, seguida de um extremo prazer como nunca havia antes sentido. Um calor começou a percorrer seu corpo ao mesmo tempo que sentia a perda de algo muito importante.   A boca estava seca, uma fome lhe tomava. Precisava acordar. Bess saltou da cama, mal tendo tempo de reparar onde estava. A mulher segurava algo nas mãos que cheirava a ambrosia para Bess. Com uma ferocidade vista apenas em animais mortos de fome, Bess tirou o pacote das mãos da mulher e cravou seus dentes, sorvendo o gelado líquido como se fosse um cachorro há tempos sem beber água. Estranhamente Bess começou a ter lembranças de uma vida que não teve, sabores que nunca havia sentido, uma filha, uma esposa, agulhas no braço tirando o sangue... O que era aquilo? Por que aquelas imagens em sua cabeça? Como aquele líquido espesso e gelado esquentava seu corpo e seu sabor doce se tornava metálico?   Bess conseguiu fitar o pacote já flácido em sua boca. Percebeu que era uma bolsa de sangue e se concentrou para evitar o vômito que pedia para expurgar aquilo. Sacrilégio! Nojo! O que havia acabado de fazer? A mulher se deleitava com a cena, num misto de espanto, prazer e uma expressão que Bess havia aprendido a reconhecer no pouco tempo em que a havia conhecido: "Merda".   A mulher se apresentou como Dana, mas Bess não prestou muita atenção. Estava num quarto sujo, aparentemente abandonado, com as janelas tapadas por ripas de madeira. O que era aquilo? Onde estava? O que aconteceu?   Muitas dessas perguntas estavam sem respostas. Dana praguejava, dizia que era muita coisa pra cabeça de Bess e que tinha feito "merda" ao salvá-la da morte, culpa de seu coração mole. Tentou explicar a Bess sua nova condição. Com a explosão do laboratório, Dana teve que salvá-la e agora Bess era uma vampira. A garota ignorou essa última palavra, ficando muito nervosa com a notícia da perda de seu trabalho e socou a mesa onde Dana estava, a quebrando. Dana sorriu, dizendo que tinha herdado isso dela.  

Uma Nova Vida

  Dana passou a noite tentando explicar pra Bess sua condição nova, mais uma Maldição que uma bênção, pois agora Bess não poderia mais ver a luz do sol nem voltar à sua vida antiga. Os homens que atacaram o laboratório onde trabalhava estavam atrás de apagar os rastros de sua pesquisa, pertenciam à Sociedade de São Leopoldo. Dana disse que um associado seu tentou copiar os dados, mas que a conexão havia sido cortada antes que conseguisse. Bess percebeu que ela mesma havia feito isso e Dana praguejou: agora Bess valia ainda mais por ter todo o conhecimento em sua cabeça.   Dana contou sobre a Fome, a Besta, sobre a necessidade de esconder sua condição das outras pessoas, pois os vampiros dependiam de que acreditassem que eram lendas para não serem caçados como havia acontecido na Inquisição, e a Sociedade de São Leopoldo estava organizando uma Segunda Inquisição. Reforçou que não poderia retornar para Chicago por conta do que aconteceu e por conta da lei que o Príncipe de Chicago estabeleceu: nenhum Membro novo deveria ser criado. Havia a trazido para Gary, Indiana, onde conseguiria arranjar um acordo com o Príncipe local para que vivesse.   Bess finalmente conseguiu falar seu nome. Quando Dana a chamou de Bettie, os pelos no pescoço de Bess se eriçaram e seus dedos fincaram fundo em sua mão fechada em punho para um soco. Apenas sua mãe a chamava assim, e isso disparava um gatilho nela que a irritava. Percebeu que ao mesmo tempo que direcionava a raiva de sua mãe contra Dana por ousar tê-la chamado assim, Dana instintivamente estava pronta para retribuir a agressão. Acalmando-se, Dana pediu para Bess se controlar: essa raiva era parte da Maldição de ser uma Brujah.   Havia muito ainda para Bess aprender. A necessidade de sangue, de Caçar, confrontar a Besta para uma Besta não se tornar e como se apegar à sua Humanidade. Era tudo muito novo e muito confuso para ela, um novo mundo, uma nova vida.   "Ah", disse Dana, "e por que você está sendo perseguida pelo que sabe, é melhor pensar em outro nome. Não dá mais pra ser Elizabeth. Pense em outro nome pra você, mas não se esqueça do seu nome anterior. Isso vai te ajudar a não se tornar um monstro".   Dana havia prometido voltar na noite seguinte, precisava fechar algumas pontas soltas do ataque da Sociedade de São Leopoldo ao laboratório. Havia muita coisa a fazer e pouco tempo. E Bess precisava descansar, colocar a cabeça em ordem e pensar em um novo nome para si mesma. Deitou na cama quando Dana saiu do apartamento.   "Merda".

Campaign
Sangue Novo
Protagonists

Elizabeth Bennett

Brujah | 13 generation
Report Date
29 Nov 2020
Primary Location
Chicago, Illinois
Secondary Location
Prometheus Bio Tech

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