Oisin na Terra da Juventude
Um dia, nós, os Fianna, estávamos todos reunidos — o generoso
Fionn e todos nós que vivíamos; estávamos caçando em uma
manhã nublada perto das margens do lago Lein, onde, por entre
árvores perfumadas pelas mais doces flores e o tempo todo
cercados pelo canto suave dos pássaros, incitamos como presa
o cervo sem chifres mais ágil saltitante. Nossos sabujos e
coletores foram logo atrás, em plena perseguição.
Não demorou muito para vermos, a oeste, uma amazona
errante avançando em nossa direção — era uma jovem donzela
da mais bela aparência, sobre um esbelto cavalo branco muito
veloz. Todos interrompemos a perseguição ao ver a forma
majestosa da jovem; foi uma surpresa para Fionn e os Fianna,
que nunca tinham visto uma mulher de igual beleza. Havia uma
coroa real em sua cabeça, e um manto marrom de preciosa
seda, coberto de estrelas de ouro vermelho, que cobria os
sapatos até a grama. Um anel de ouro pendia de cada cacho de
seus cabelos dourados; seus olhos eram azuis, claros e límpidos,
como uma gota de orvalho na grama. Suas bochechas eram
mais vermelhas que a rosa, o rosto mais claro que o cisne sobre
as águas, e o sabor dos lábios de bálsamo era mais doce que o
mel misturado ao vinho tinto. Um manto amplo, comprido e macio
cobria o cavalo branco; havia uma sela bonita de ouro vermelho,
e sua mão direita segurava um arreio com uma ponta de ouro.
Debaixo dele, havia quatro ferraduras, bem moldadas, de ouro
amarelo da mais pura qualidade; uma grinalda de prata enfeitava
a parte de trás de sua cabeça, e não havia no mundo um corcel
melhor.
Ela chegou à presença de Fionn e falou com a voz doce e
gentil:
— Ó rei dos Fianna, longa e distante é minha jornada agora.
— Quem é você, ó jovem princesa!, de tão deslumbrantes
beleza, forma e semblante? Conte-nos a origem da sua história,
o seu próprio nome e o seu país.
— Niamh da Cabeça Dourada é meu nome, ó sábio Fionn
das multidões. Ganhei a estima das mulheres além deste mundo;
sou a honrada filha do Rei da Juventude.
— Conte-nos, ó amável princesa, o que a levou a atravessar
o mar… foi seu consorte que a abandonou ou qual é a aflição
que a traz aqui?
— Não foi meu marido que me abandonou; e ainda não tive
conhecimento de homem algum, ó rei dos Fianna da mais alta
reputação; mas carinho e amor devotei a seu filho.
— Qual dos meus filhos é esse, ó filha florescente, a quem
você deu amor ou mesmo carinho? Não esconda nada de nós e
conte-nos sua história, ó mulher.
— Eu lhe direi isso, ó Fionn! Seu nobre filho dos braços
bem-formados, Oisin, de espírito elevado e mãos poderosas, é o
campeão de quem estou falando.
— E qual foi a razão pela qual você deu amor, ó linda filha
dos cabelos brilhantes, a meu próprio filho acima de todos os
altos senhores sob o sol?
— Não foi sem motivo, ó rei dos Fianna! Eu vim de longe por
ele… mas ouvi relatos de suas proezas, de sua bondade e de
sua aparência.
“Muitos filhos de reis e de chefes supremos me deram afeto
e amor eterno; nunca dei consentimento a nenhum deles, até
entregar meu amor ao nobre Oisin.”
— Juro por minha vida, ó Patrick, embora não seja uma
história vergonhosa para mim, não havia uma parte do meu
corpo que não estivesse apaixonada pela linda filha dos cabelos
brilhantes.
Eu, Oisin, peguei a mão dela na minha e disse no tom mais
doce:
— Dou minhas verdadeiras e gentis boas-vindas a ti, ó
jovem princesa, a este país! Tu és a forma mais bela e mais
brilhante, és tu que desejo como esposa, tu és a minha escolha
acima das mulheres do mundo, ó estrela suave do mais adorável
semblante!
— Compromisso a que nenhum verdadeiro herói se oporia, ó
generoso Oisin, deixo em suas mãos vir agora comigo em meu
corcel até chegarmos à Terra da Juventude. É o país mais
aprazível que já se viu, de maior reputação sob o sol, árvores
carregadas de frutos, flores e folhagem crescendo no topo dos
galhos. Abundante, há mel e vinho e tudo o que os olhos já
contemplaram; não virá declínio sobre você com o passar do
tempo; não experimentará morte ou decadência. Terá banquetes,
diversão e bebidas; ouvirá músicas melodiosas das cordas da
harpa; receberá prata e ouro; também terá muitas joias. Você
receberá o diadema real do Rei da Juventude, que ele nunca deu
a ninguém sob o sol; isso o protegerá noite e dia, em batalhas,
rebeliões e conflitos violentos. Terá uma armadura de cota de
malha apropriada para proteção e uma espada de ouro, apta a
golpes, da qual ninguém jamais escapou vivo depois de ver seu
fio. Terá tudo isso que lhe prometi e também prazeres que não
posso mencionar; terá beleza, força e poder, e eu mesma serei
sua esposa.
— Não ouvirás uma recusa de mim — falei —, ó
encantadora rainha dos cachos dourados! Tu és a minha escolha
sobre as mulheres do mundo, e irei de boa vontade à Terra da
Juventude.
Viajamos juntos no dorso do cavalo. Diante de mim ia a
virgem; ela disse:
— Oisin, vamos ficar em silêncio até chegarmos à foz do
grande mar.
Então incitou o corcel a acelerar; quando chegamos à costa,
ele se sacudiu para então avançar e relinchou três vezes.
Quando Fionn e os Fianna viram o corcel viajando
rapidamente, enfrentando a grande maré, eles soltaram três
gritos de luto e pesar.
— Ó Oisin! — disse Fionn, devagar e cheio de tristeza. —
Pobre de mim porque está me deixando. Não tenho a menor
esperança de que volte a mim vitorioso.
Sua forma e beleza mudaram, e as lágrimas rolaram, até
que molharam seu peito e seu rosto brilhante, e ele disse:
— Minha angústia é você, ó Oisin, me deixar!
Ó Patrick, é uma história melancólica a nossa separação
naquele lugar, a separação de um pai e seu próprio filho — é
triste, fraco e delicado contá-la! Beijei meu pai, doce e
gentilmente, e o mesmo carinho recebi dele. Dei adeus a todos
os Fianna, e as lágrimas rolaram pelo meu rosto. Demos as
costas para a terra e nos voltamos diretamente para o oeste; o
mar se estendia liso à nossa frente e se enchia de ondas atrás de
nós. Vimos maravilhas em nossas viagens, cidades, cortes e
castelos, mansões e fortalezas brancas como cal, casas de verão
e palácios brilhantes. Também vimos, ao nosso lado, uma jovem
corça sem chifres saltando agilmente e um cachorro branco de
orelhas vermelhas a incitando com coragem na perseguição.
Vimos também, sem ficção, uma jovem donzela em um corcel
marrom, uma maçã dourada na mão direita, cavalgando no topo
das ondas. Vimos atrás dela um jovem cavaleiro em um corcel
branco, sob um manto de cetim roxo e vermelho, e uma espada
de ouro na mão direita.
— Quem são aqueles dois que eu vejo, ó princesa gentil?
Diga-me o significado daquela mulher de semblante bonito e do
cavaleiro atraente no corcel branco.
— Não dê atenção ao que verá, ó gentil Oisin, nem ao que já
viu; não há nada até chegarmos à terra do Rei da Juventude.
Vimos de longe um palácio ensolarado de fachada bonita;
sua forma e aparência eram as mais belas do mundo.
— Que incrível mansão real, e também a melhor que os
olhos já viram, é para lá que estamos viajando, ou quem é o
chefe daquele lugar?
— A filha do rei da “Terra da Vida” é a rainha, mas aquela
fortaleza lhe foi tomada por Fomhor Builleach, de Dromloghach,
com armas e ações violentas. Ela impôs a ele a promessa de
nunca tomá-la por esposa até que ela conseguisse um campeão
ou um verdadeiro herói para duelar com ele.
— Sucesso e bênçãos a ti, ó Niamh da Cabeça Dourada.
Nunca ouvi música melhor do que a voz suave de tua doce boca;
que tristeza uma mulher na condição dela. Visitarei-a agora na
fortaleza, e pode ser que, sobre nós, recaia o destino de que eu
derrote esse grande herói, em feitos que me são habituais.
Fomos então para a fortaleza. A jovem rainha veio a nós.
Era tão esplendorosa quanto o sol, e nos deu cem boas-vindas.
A rainha de incrível beleza usava roupas de seda amarela.
Sua pele branca como giz era como o cisne nas águas, e suas
bochechas eram da cor da rosa. Seus cabelos eram de um tom
dourado, seus olhos azuis eram claros e nítidos; os lábios de mel
da cor das bagas e as sobrancelhas finas tinham a forma mais
adorável.
Então nos sentamos, cada um em uma cadeira de ouro. Foinos servida abundância de comida e chifres cheios de bebida.
Quando comemos uma quantidade suficiente de comida e
bebemos muito vinho doce, falamos à jovem e gentil princesa, e
assim ela nos disse:
— Ouçam-me um instante.
Ela nos contou sua história, e as lágrimas escorreram por
suas bochechas. Ela disse:
— Não posso retornar ao meu próprio país enquanto o
grande gigante estiver vivo.
— Cale-se, jovem princesa! Esqueça sua dor e não lamente,
e eu lhe dou minha palavra de que o gigante cairá morto ao meu
lado!
— Não há nesta era, sob o sol, nenhum campeão de maior
reputação para duelar com o valente gigante de golpes fortes.
— Eu lhe digo, ó gentil rainha, não tenho medo de que ele
venha ao meu encontro. A menos que ele caia ao meu lado, pela
força dos meus braços, cairei eu mesmo em sua defesa.
Não demorou muito até vermos se aproximando o poderoso
gigante, que era deveras repulsivo. Estava coberto de peles de
cervo, com uma barra de ferro na mão. Ele não nos
cumprimentou nem se curvou, mas olhou para o semblante da
jovem donzela, anunciou a batalha e o grande duelo, e fui
encontrá-lo. Durante três noites e três dias, mantivemos a grande
disputa; embora ele fosse poderoso, o gigante valente, eu o
decapitei sem demora.
Quando as duas jovens donzelas viram o grande gigante
deitado imóvel, fraco e derrotado, proferiram três gritos de
alegria, com grande jactância e felicidade.
Fomos então para a fortaleza, e eu estava machucado, fraco
e impotente, perdendo sangue em abundância pelas feridas. A
filha do “Rei dos Vivos” fez tudo o que realmente podia para me
dar alívio. Pôs bálsamos e unguentos em minhas feridas, e fiquei
bem por causa dela.
Nós consumimos nosso banquete com prazer e ficamos
felizes. Na fortaleza, foram preparadas para nós camas quentes
como os ninhos dos primeiros pássaros. Enterramos o grande
homem em uma cova profunda, larga e ampla. Ergui sua
bandeira e monumento e escrevi seu nome em Ogham Craobh.
No dia seguinte, ao amanhecer, acordamos do sono.
— É hora de irmos — disse a filha do rei — sem demora
para nossa própria terra.
Nós nos preparamos sem demora e nos despedimos da
virgem. Estávamos muito tristes por ela, e não menos triste por
nós estava a jovem refulgente.
Viramos as costas para a fortaleza, pusemos nosso cavalo a
toda velocidade, e o corcel branco era mais rápido que o vento
de março no topo da montanha. Logo o céu escureceu e o vento
surgiu em todos os pontos, o grande mar se agitou fortemente e
não se podia mais ver o sol. Olhamos por um tempo as nuvens e
as estrelas, que estavam sombrias. A tempestade diminuiu e o
vento também, e Phœbus iluminou nossas cabeças.
Vimos ao nosso lado um campo muito agradável, sob plena
floração, e planícies bonitas, suaves e claras, e uma fortaleza
real de beleza inigualável. Não era uma cor que os olhos já
tivessem contemplado — um tom rico de azul, verde e branco, ou
roxo, vermelho e amarelo —, mas era a cor dessa mansão real
que estou descrevendo. Do outro lado da fortaleza, havia casas e
palácios de verão, brilhantes, todos feitos de pedras preciosas,
pelas mãos de homens hábeis e grandes artistas.
Em pouco tempo, vimos vindo da fortaleza para nos
encontrar uma centena e meia de campeões da maior agilidade,
melhor aparência, grande fama e mais alta reputação.
— Que terra bonita é esta, ó filha gentil dos cachos
dourados? Do melhor aspecto que o olho já viu; é a Terra da
Juventude?
— É sim, de fato, ó generoso Oisin! Eu não lhe disse uma
mentira sequer a respeito dela; não há nada que lhe prometi que
não seja manifestado para sempre.
Depois veio a nós uma centena de damas de beleza
requintada, roupas íntimas de seda cheias de ouro, dando-me as
boas-vindas a seu próprio país. Vimos novamente se
aproximando uma multidão de anfitriões alegres e brilhantes, e
um rei nobre, grande e poderoso, de graça, forma e semblante
incomparáveis. Usava uma camisa amarela de cetim sedoso e
um traje dourado brilhante por cima; na cabeça, uma coroa de
ouro cintilante. Atrás dele vinha a jovem rainha da mais alta
reputação e cinquenta virgens doces e amáveis, da mais bela
forma, em sua companhia. Quando todos chegaram a um
determinado ponto, o Rei da Juventude falou com cortesia:
— Este é Oisin, filho de Fionn, o gentil consorte de Niamh da
Cabeça Dourada!
Ele me pegou pela mão e disse em voz alta à audiência do
povo:
— Ó corajoso Oisin! Ó filho do rei! Cem mil boas-vindas a
você! Neste país no qual você entra, não ocultarei de você as
novidades, na verdade, longa e durável é a sua vida, e você será
sempre jovem. Não há um deleite que o coração tenha desejado
que não esteja a sua espera nesta terra. Ó Oisin! acredite em
mim, pois sou o rei da Terra da Juventude! Esta é a gentil rainha
e minha própria filha, Niamh da Cabeça Dourada, que atravessou
o mar calmo para que você fosse seu consorte para sempre.
Agradeci ao rei e me curvei diante da gentil rainha; não nos
demoramos lá e prosseguimos logo, até chegarmos à mansão
real do Rei da Juventude. Chegaram os nobres da bela fortaleza,
homens e mulheres, para nos encontrar; houve festa e banquete
por dez noites e dez dias seguidos.
Eu me casei com Niamh da Cabeça Dourada, ó Patrick de
Roma dos bastões brancos! Foi assim que fui para a Terra da
Juventude, o que é para mim lastimável e doloroso de contar.
Tive, com Niamh da Cabeça Dourada, filhos de beleza
inigualável, da melhor forma e semblante, dois jovens meninos e
uma filha gentil. Passei um longo tempo, trezentos anos e mais,
até pensar que seria minha vontade ver Fionn e os Fianna vivos.
Pedi consentimento ao rei e a minha esposa, Niamh da Cabeça
Dourada, para voltar a Erin para ver Fionn e seu grande povo.
— Você terá minha permissão para partir — disse a filha
gentil —, embora seja triste ouvir isso dos seus lábios, pois você
não voltará mais com vida à minha terra, ó vitorioso Oisin!
— O que tememos, ó gloriosa rainha? Enquanto o corcel
branco estiver a meu serviço, ele me ensinará o caminho com
facilidade e voltará a salvo para ti.
— Lembra-te, ó Oisin! do que estou dizendo. Se puseres os
pés em terra, não voltarás nunca mais a esta bela terra em que
eu mesma estou. Digo novamente sem engano, se desceres do
cavalo branco, nunca mais voltarás à Terra da Juventude, ó
dourado Oisin dos braços de combate! Digo-te pela terceira vez
que, se desceres do corcel, serás um homem velho, enrugado e
cego, não poderás fazer nenhuma atividade, correr, pular nem ter
prazer. É uma aflição para mim, ó amado Oisin, que tu vás à
verdejante Erin. Não é agora como era antes; e nunca verás
Fionn das multidões. Agora não há em toda Erin nada além de
um pai de ordens e hordas de santos. Ó amado Oisin, aqui está
meu beijo; tu nunca voltarás à Terra da Juventude!
Olhei para o rosto dela com compaixão, e rios de lágrimas
escorreram dos meus olhos. Ó Patrick! Tu terias tido pena dela
arrancando os cabelos da cabeça dourada. Ela me deu
instruções rigorosas para ir e voltar sem tocar na terra e me
disse, em virtude de seu poder, que, se eu as violasse, nunca
voltaria a salvo. Jurei a ela, sem mentir, que cumpriria cada
instrução que ela me deu. Subi no dorso do corcel branco e me
despedi do povo da fortaleza. Beijei minha gentil consorte e fiquei
triste por me separar dela; meus dois filhos e minha filha caíram
em luto, derramando lágrimas. Eu me preparei para viajar e dei
as costas para a Terra da Juventude. O cavalo correu depressa
debaixo de mim, como fizera comigo e com Niamh da Cabeça
Dourada.
Quando de minha chegada, então, ao país, olhei
atentamente em todas as direções. Pensei, de fato, que não
encontraria notícias de Fionn. Não demorou muito, nem foi
enfadonho, até eu ver, vinda do oeste em minha direção uma
grande tropa de homens e mulheres montados, e eles vieram à
minha presença. Eles me saudaram gentil e educadamente, e a
surpresa tomou conta de todos ao ver a maior parte da minha
pessoa, minha forma, minha aparência e meu semblante. Eu
mesmo perguntei a eles se sabiam se Fionn estava vivo, ou
qualquer um dos Fianna, ou que tragédia os levara?
— Ouvimos falar de Fionn, de sua força, agilidade e
coragem, que nunca houve um homem igual a ele em pessoa,
caráter e aparência. Há muitos livros escritos pelos doces e
melodiosos sábios dos galeses que, na verdade, somos
incapazes de listar para você, acerca dos feitos de Fionn e dos
Fianna. Ouvimos dizer que Fionn tinha um filho da mais incrível
beleza e forma; que uma jovem donzela veio atrás dele e que ele
partiu com ela para a Terra da Juventude.
Quando ouvi o anúncio de que Fionn não vivia mais, nem
qualquer um dos Fianna, fui tomado pelo cansaço e por uma
grande tristeza e fiquei melancólico por eles! Não parei em meu
caminho, rápido e sem demora, até que olhei direto para Almhuin
de grandes feitos em Leinster. Grande foi minha surpresa por não
ter visto a corte de Fionn das multidões; na verdade, não havia
em seu lugar nada além de ervas-daninhas e urtigas. Ai de mim,
ó Patrick! Ah, minha dor! Foi uma viagem muito infeliz para mim,
sem as notícias de Fionn ou dos Fianna; isso me fez viver na dor.
Depois que deixei Almhuin de Leinster, não havia uma residência
onde os Fianna tinham estado, mas procurei minuciosamente,
sem demora. Ao passar pelo Vale dos Melros, vi uma grande
assembleia ali, mais de trezentos homens no vale à minha frente.
Um dos membros da assembleia falou, em voz alta:
— Venha em nosso socorro, ó campeão real, e nos liberte da
dificuldade!
Então me aproximei, e o grupo tinha uma grande bandeira
de mármore; o peso da bandeira caía sobre eles e não
conseguiam sustentá-lo! Aqueles que estavam sob a bandeira
estavam sendo oprimidos, fracos; sob o peso da grande carga,
muitos deles perderam os sentidos. Um dos intendentes falou:
— Ó jovem herói principesco, alivie imediatamente meu
povo, ou nenhum deles ficará vivo!
É vergonhoso que isso deva ser contado e que, pelo número
de homens que havia, a força da multidão não fosse capaz de
levantar a bandeira com grande poder. Se Oscur, filho de Oisin,
vivesse, ele ergueria aquela bandeira com a mão direita; e com
um gesto a arremessaria por sobre a multidão. Não é meu
costume falar mentiras.
Deitei-me sobre meu peito direito e peguei a bandeira na
mão; com a força e a atividade dos braços, joguei-a longe de
onde estava! Com a força da própria bandeira muito grande, a
sela dourada quebrou sobre o cavalo branco; de repente, caí
com a sola dos dois pés no chão. Assim que caí, o corcel branco
tomou um grande susto. Ele seguiu seu caminho, e fiquei ali em
desgraça, fraco e débil. Perdi a visão dos meus olhos, minha
forma, meu semblante e meu vigor; eu era um homem velho,
pobre e cego, sem força, entendimento ou estima. Patrick! Eis a
minha história, como me ocorreu, sem mentiras, a minha partida
e as minhas aventuras, com certeza, e o meu retorno da Terra da
Juventude.
Escrito por Ladris Ethedel
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