O rei dragão Prose in Storevender | World Anvil
BUILD YOUR OWN WORLD Like what you see? Become the Master of your own Universe!

Remove these ads. Join the Worldbuilders Guild

O rei dragão

Era uma vez um rei que tinha a rainha mais bela. Mas os dois não tinham filhos, e isso os deixava muito tristes. Então, certo dia, quando ela estava caminhando, perdida em pensamentos, chegou a um lugar incomum. Ali, encontrou uma mulher velha, que lhe perguntou se gostaria de dizer por que estava tão triste. A rainha levantou o olhar e disse: — Ah, de que adiantaria lhe contar? Não há nada que você possa fazer para me ajudar!   — Talvez eu possa – disse a velha, e mais uma vez implorou para a rainha confiar nela. E, assim, a rainha contou que não tinha filhos, e que esse era o motivo de tanta tristeza. — Ora, isso poderia ser remediado – disse a velha; ela poderia ter filhos se assim desejasse. No fim da tarde, ao pôr do sol, ela só precisava pegar um prato e colocá-lo no chão, virado para baixo, no canto noroeste do jardim. Pela manhã, ao nascer do sol, quando levantasse o prato, ela encontraria duas rosas embaixo dele: uma vermelha e uma branca. — Se você comer a rosa vermelha, terá um menino; e, se comer a branca, terá uma menina. Mas você não deve comer as duas rosas.   A rainha voltou para casa e fez o que a velha lhe dissera. Pela manhã, ao nascer do sol, foi até o jardim e levantou o prato do chão, e lá estavam as duas rosas: a vermelha e a branca. Mas ela não conseguia decidir qual comer. Se escolhesse a vermelha, seria um menino, e ele poderia ter de ir à guerra e ser assassinado; e ela ficaria sem filhos outra vez. Assim, pensou que era melhor pegar a rosa branca; teria uma menina, que poderia ficar em casa com ela e se casar e se tornar rainha de outro reino. Então ela pegou a rosa branca e a comeu. Mas o gosto era tão bom que ela pegou a vermelha e comeu também. E pensou consigo mesma:   Ora, se forem gêmeos, vão contar como um só.   Por acaso, o rei estava na guerra quando a rainha escreveu para contar que eles seriam abençoados com um filho. Mas, quando a criança nasceu, era um pequeno dragão, que se escondeu embaixo da cama no quarto dela e fez dali seu ninho. Depois de um tempo, chegou uma carta do rei, dizendo que estaria em casa em breve. E, quando o rei voltou para casa, chegando ao castelo em sua carruagem, a rainha saiu para encontrá-lo, e o pequeno dragão saiu para cumprimentá-lo ao mesmo tempo. Ele pulou ao lado da carruagem e gritou: — Bem-vindo, pai!   — O quê? – disse o rei. — Eu sou seu pai?   — Sim, e se não quiser ser meu pai, vou estraçalhá-lo e destruir o castelo! – E assim o rei teve de concordar em ser pai dele. A família entrou no castelo, e a rainha teve de confessar tudo que tinha acontecido entre ela e a velha.   Alguns dias depois, o conselho e todos os nobres se reuniram para dar as boas-vindas ao rei de volta ao próprio país e para cumprimentá-lo pela vitória sobre o inimigo. O dragão também apareceu e disse:   — Pai, agora eu quero me casar!   — Muito bem – disse o rei —, mas quem você acha que vai se casar com você?   — Bem, se você não encontrar uma noiva para mim, velha ou nova, grande ou pequena, rica ou pobre, vou estraçalhá-lo e destruir o castelo.   O rei escreveu para todos os reinos para perguntar se alguém se casaria com seu filho. E uma bela princesa apareceu, apesar de achar estranho não ter permissão para ver o pretendente até os dois estarem no salão em que iam se casar. Só então o dragão apareceu e postou-se ao lado dela. O dia do casamento terminou, mas, assim que os dois ficaram sozinhos, o dragão a devorou.   O tempo passou, e o aniversário do rei chegou. Então, quando estavam todos sentados ao redor da mesa, o dragão veio e disse:   — Pai, quero me casar!   O rei respondeu:   — Onde está a mulher que estaria disposta a se casar com você?   — Bem, se você não encontrar uma noiva para mim, algum tipo de noiva, vou devorá-lo e engolir o castelo também!   Mais uma vez, o rei escreveu para todos os outros reinos para perguntar se alguém gostaria de se casar com seu filho. E, de novo, uma bela princesa apareceu, vinda de um país distante. Ela não viu o pretendente até os dois estarem no salão em que iam se casar. O dragão apareceu e postou-se ao lado dela. Mas, quando o festejo acabou e eles ficaram sozinhos, o dragão a devorou.   Pouco tempo depois, veio o aniversário da rainha. O dragão entrou quando estavam todos sentados ao redor da mesa e disse: — Pai, quero me casar!   — Bem, não consigo encontrar outra noiva para você – disse o rei. — Os dois reis poderosos cujas filhas eu lhe dei querem entrar em guerra comigo. Sendo assim, o que posso fazer?   — Ah, deixe que eles venham! Contanto que você esteja de bem comigo, a chegada deles não deve preocupá-lo, mesmo que forem dez em vez de dois. Se você não encontrar uma noiva para mim, velha ou nova, grande ou pequena, rica ou pobre, vou estraçalhá-lo e destruir o castelo! – Então o rei teve de se submeter, mas se sentia muito infeliz.   Havia um velho que era pastor do rei. Tinha uma cabana na floresta e uma filha. O rei foi até ele e disse:   — Escute, meu estimado camarada, você não quer dar sua filha ao meu filho como noiva?   — Não, eu não poderia fazer isso; primeiro, só tenho essa filha para cuidar de mim na velhice e, além de tudo, o príncipe, se não tem pena de princesas tão belas, certamente não terá nenhuma da minha filha, e isso seria um pecado!   Mas o rei insistiu em ter a moça, e o velho teve de ceder. O velho pastor foi para casa e contou à filha, que se sentiu muito infeliz e saiu com seus pensamentos tristes para a floresta. Quando estava caminhando, ela encontrou uma velha usando um casaco vermelho e uma blusa azul; a velha estava indo para a floresta para pegar frutinhas vermelhas e maçãs.   — Por que você está tão triste? – perguntou.   — Tenho um bom motivo para estar triste – disse a moça —, mas não adianta eu contar, já que não há nada que você possa fazer para me ajudar!   — Talvez haja – disse a velha —, então me diga o que é.   — Bem, vou me casar com o filho do rei, mas ele é um dragão que já matou duas princesas, e eu tenho certeza que vai fazer o mesmo comigo.   — Se você me escutar, existe um jeito de ajudá-la – disse a velha. E a moça ficou feliz de ouvir seu conselho. — Quando você estiver casada e sozinha com o príncipe, deve usar dez vestidos. Se não tiver tantos, precisa pegar emprestados. Depois, você deve pedir um balde de lixívia, um balde de leite fresco e um punhado de chicotes. Essas coisas devem ser levadas para o quarto. Quando entrar, ele vai dizer: “Adorável donzela, tire seu vestido!” E você deve dizer: “Rei Dragão, tire sua pele!” E ele vai dizer a mesma coisa para você, e você para ele, até você ter tirado nove vestidos, e ele ter tirado nove peles. Então ele não vai ter mais nenhuma pele; mas você ainda vai ter um vestido. E você deve pegá-lo, pois ele não será nada além de um bloco de carne sem pele, mergulhar os chicotes na lixívia e bater nele até ele quase se despedaçar. Em seguida, você deve banhá-lo no leite fresco, enrolá-lo nos nove vestidos e colocá-lo na cama. E depois você também vai dormir, mas por pouco tempo. — A moça agradeceu à velha pelo bom conselho. Apesar disso, estava com medo, já que, no fim das contas, era um jogo ousado para se jogar com uma fera sinistra. O dia do casamento chegou, e duas cortesãs vieram em uma carruagem grande e magnífica para enfeitar a donzela com seus ornamentos nupciais. Ela foi levada ao castelo e ao salão; o dragão chegou e postou-se ao lado dela, e eles se casaram.   A noite chegou, e os dois foram deixados sozinhos. Então a noiva pediu um balde de lixívia, um balde de leite fresco e os chicotes. Os cortesãos fizeram graça dela e falaram de superstições de camponeses; mas o rei disse que ela teria tudo que queria, e tudo foi dado a ela. Antes de ser deixada sozinha com o marido, ela vestiu os nove vestidos que tinha conseguido por cima do que estava usando. E o dragão disse: “Adorável donzela, tire seu vestido!” E ela respondeu: “Rei Dragão, tire sua pele!” E assim aconteceu, até ela ter tirado nove vestidos, e ele, nove peles. Ela recuperou a coragem, pois o dragão estava deitado no chão e mal conseguia se mexer. Ela pegou os chicotes, mergulhou na lixívia e bateu nele pelo tempo que conseguiu e com toda a força possível, até os chicotes se desgastarem. Em seguida, ela o banhou no leite fresco, enrolou-o nos nove vestidos e o colocou na cama. Ela logo adormeceu, porque já era tarde. Quando acordou, viu um lindo príncipe diante de si.   Quando a manhã chegou, ninguém teve coragem de olhar pela porta do quarto, pois todos pensavam que ela havia encontrado o destino de suas predecessoras. Mas o rei estava determinado a dar uma olhada, e, assim que abriu a porta ele gritou:   — Entrem! Tudo está como deveria ser! – E entrou, cheio de alegria, e levou a rainha e toda a corte. Lá estava o par de recém-casados, recebendo os cumprimentos que se derramavam sobre eles. Agora o casamento foi comemorado de novo, com extremo esplendor e felicidade, e o rei e a rainha passaram a adorar muito a nora, e não conseguiam fazer o suficiente para demonstrar como gostavam dela, que tinha libertado o dragão.   Mas a guerra estourou de novo, e o velho rei e o Rei Dragão estavam com o exército quando a jovem rainha foi abençoada com dois lindos meninos. Naquela época havia um cavaleiro na corte chamado Cavaleiro Vermelho. Ele foi enviado ao Rei Dragão com uma carta, informando que o rei era pai de dois meninos adoráveis. O Cavaleiro Vermelho seguiu por um tempo, depois abriu a carta, tirou-a do envelope e escreveu que havia dois filhotes de lobo no castelo. Foi essa a carta que o rei recebeu, e ela o deixou muito triste, porque ele achou estranho seus filhos serem filhotes de lobo; ele teria esperado um dragão ou algo do tipo. Escreveu, em resposta, que eles deviam permitir que as criaturas vivessem até seu retorno, se demonstrassem algum sinal de vida. Era essa a carta que o Cavaleiro Vermelho deveria levar de volta. Mas, depois de seguir por um tempo, ele abriu a carta, como tinha feito com a primeira, e escreveu outra, dizendo que eles deviam queimar a rainha e as crianças. Essa carta entristeceu muito a velha rainha, pois ela gostava demais da nora. Pouco tempo depois veio uma carta do rei anunciando seu retorno. E eles ficaram com medo e não souberam o que fazer; pois a velha rainha não conseguia tomar a decisão de queimá-los em uma estaca. Ela entregou as crianças a uma ama-seca, pedindo que cuidasse delas, porque achava que, afinal, quando o rei chegasse em casa, poderia mudar de ideia. E deu à jovem rainha comida e dinheiro e lhe disse para se esconder na floresta.   E assim a jovem rainha foi para a floresta e vagou por cerca de dois dias e se meteu em grandes apuros. Então, ela viu uma montanha imponente e subiu até o topo sem parar no caminho. No topo da montanha havia três bancos, e ela se sentou no do meio e sentiu saudade dos filhos, o peito dolorido pelo leite que não podia dar. Enquanto estava sentada, surgiram dois grandes pássaros, um cisne e uma garça, que se colocaram ao seu lado e imploraram para ela alimentá-los no lugar dos filhos que tinham sido levados. E, quando, por bondade do seu coração, ela o fez, de repente eles se transformaram em dois dos príncipes mais belos que se poderia imaginar, e a montanha se transformou no castelo real mais esplêndido que se poderia ver, com cortesãos e estrebarias lotadas, e ouro e prata, e tudo que um castelo deve ter. Os dois príncipes tinham sido encantados e nunca poderiam ter sido liberados do encantamento se não tivessem encontrado uma rainha enlutada, que, por pena, os alimentasse como faria com seus pequenos perdidos. Assim, a rainha ficou no castelo com o Rei Cisne e o Rei Garça, que, agora que tinham sido salvos, queriam se casar com ela.   Nesse meio-tempo, o Rei Dragão voltou para casa e perguntou pela sua rainha.   — Ora – disse a velha rainha —, só faltava essa! Você, perguntar por ela! Você é um bom rapaz! Nunca se lembrou de que ela o resgatou da sua mais profunda desgraça! Você até escreveu para queimarmos ela e as crianças na estaca! Você devia ter vergonha! — Não – disse o Rei Dragão —, você escreveu dizendo que, em vez de dois filhos, ela havia me dado dois filhotes de lobo; e eu respondi que era para deixar as criaturas viverem até eu voltar para casa!   Houve muita falação, e eles finalmente descobriram que o Cavaleiro Vermelho tinha sido o traidor. Eles o chamaram, e ele teve de confessar. E, depois de confessar, ele foi colocado em um barril cravado de pregos, ao qual quatro cavalos foram amarrados, e eles saíram galopando com ele pelas colinas e vales.   O rei se encheu de tristeza por causa da esposa e dos filhos, especialmente quando descobriu que eram dois belos meninos. Mas a velha rainha disse para ele:   — Não se preocupe! As crianças estão bem cuidadas, pois eu as entreguei a uma ama-seca; mas, quanto à sua esposa, não sei o que aconteceu. Dei a ela um pouco de comida e dinheiro e disse para que se escondesse na floresta, mas, desde então, não tive notícias dela.   E assim o rei ordenou que os filhos fossem levados de volta para o castelo e pegou comida e dinheiro e entrou na floresta para procurar pela esposa. Vagou em busca por ela durante três dias, mas não encontrou nenhum rastro. Quando encontrava pessoas na floresta, perguntava se elas tinham visto uma donzela desconhecida por ali; mas ninguém a tinha visto. Por fim, ele chegou ao castelo na floresta e decidiu entrar e visitar a realeza que morava ali. No instante em que entrou, viu sua jovem rainha, e ela o viu; mas ela teve medo dele ter vindo para queimá-la e fugiu. Os dois príncipes apareceram, e todos começaram a conversar e se tornaram bons amigos. Eles convidaram o Rei Dragão para ficar e jantar. Ele disse que eles tinham uma bela donzela no castelo e perguntou de onde ela viera. Eles responderam que ela de fato era muito gentil, e que os tinha libertado de um encantamento. O Rei Dragão quis saber de qual encantamento ela os havia libertado, e eles contaram a história toda. O Rei Dragão disse que também gostava dela, e perguntou se não podiam chegar a um acordo quanto a qual deles se casaria com a donzela. Poderiam colocar sal demais no jantar; depois, quando ela convidasse um deles para beber com ela, esse seria o escolhido. Os dois príncipes ficaram satisfeitos com essa proposta, pois desse jeito poderiam decidir logo qual deles ficaria com a mão da donzela, porque não acreditavam que ela chamaria um desconhecido para compartilhar sua bebida.   Eles foram jantar, e em pouco tempo, a donzela disse:   — Parece que o jantar está muito salgado. O Rei Cisne se senta perto de mim, o Rei Garça é gentil. Rei Dragão, beba comigo! O Rei Dragão pegou imediatamente a caneca prateada e bebeu à saúde dela, e os outros beberam à própria saúde; e também tiveram de beber à saúde dela e à dele, apesar de não estarem satisfeitos. Mas o Rei Dragão contou como ela o havia libertado do seu encantamento antes de libertá-los, de modo que ele realmente tinha direito a reivindicá-la primeiro. Os dois príncipes disseram que ele deveria ter contado desde o início, pois assim eles teriam entregado a rainha a ele. Mas o Rei Dragão respondeu que não podia ter certeza absoluta disso.   Então o Rei Dragão voltou para casa com sua rainha. Os filhos também tinham sido levados para casa nesse meio-tempo. O Rei Cisne ficou com o palácio na floresta e se casou com uma princesa de outro reino. E o Rei Garça foi para outras terras e se casou lá. Assim, cada um ganhou seu destino. O Rei Dragão e sua rainha foram amados por toda a vida. Foram muito felizes e tiveram muitos filhos, e na última vez que os visitei eles me deram uma gaita.

Escrito por Svend Grundtvig


Comentários

Please Login in order to comment!