O Rei do Deserto Negro
Quando O’Conor reinava na Irlanda, morava em
Rathcroghan, em Connacht. Tinha um filho, mas este, quando
cresceu, era rebelde, e o Rei não conseguia controlá-lo, porque
ele queria agir conforme a própria vontade em todas as
situações.
Uma manhã, ele saiu…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
E o corcel cor de carvão a carregá-lo
… e seguiu em frente, cantando o verso de uma canção para
si mesmo, até chegar a um grande arbusto que crescia à beira de
um vale. Havia um velho grisalho sentado ao pé do arbusto, e ele
disse:
— Filho do Rei, se for capaz de jogar tão bem quanto é
capaz de cantar uma canção, eu gostaria de jogar um jogo com
você.
O filho do Rei achou que aquele fosse o desejo de um velho
bobo e apeou, jogou a rédea sobre um galho e sentou-se ao lado
do velho grisalho.
O velho pegou um baralho e perguntou:
— Sabe jogar cartas?
— Sei — respondeu o filho do Rei.
— O que apostaremos? — perguntou o velho grisalho.
— O que você quiser — respondeu o filho do Rei.
— Muito bem: se eu ganhar, você deve fazer para mim
qualquer coisa que eu lhe peça, e, se você ganhar, devo fazer
por você qualquer coisa que me peça — disse o velho grisalho.
— Concordo — respondeu o filho do Rei.
Jogaram o jogo, e o filho do Rei venceu o velho grisalho. Ele
disse:
— O que gostaria que eu fizesse por você, filho do Rei?
— Não vou pedir que faça nada por mim — respondeu o
filho do Rei. — Acho que você não é capaz de fazer muitas
coisas.
— Não se preocupe com isso — disse o velho. — Você
precisa me pedir alguma coisa. Nunca perdi uma aposta que não
fosse capaz de pagar.
Como eu disse, o filho do Rei achou que aquele fosse o
desejo de um velho bobo, e, para satisfazê-lo, disse:
— Tire a cabeça da minha madrasta e ponha a cabeça de
uma cabra nela por uma semana.
— Farei isso por você — disse o velho grisalho.
O filho do Rei foi andando em seu corcel…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
… e voltou-se para outro lugar, e não pensou mais no velho
grisalho até voltar para casa.
Encontrou choro e grande pesar no castelo. Os servos
contaram que um feiticeiro havia entrado na sala onde estava a
Rainha e pusera uma cabeça de cabra nela, no lugar de sua
própria cabeça.
— Por minha alma, que coisa espantosa — disse o filho do
Rei. — Se eu estivesse em casa, teria cortado a cabeça dele
com minha espada.
Havia grande pesar no Rei. Ele chamou um sábio
conselheiro e perguntou se ele sabia como aquilo tinha
acontecido com a Rainha.
— O fato é que não sei dizer — respondeu ele. — Isso é
obra de feitiçaria.
O filho do Rei não revelou que tinha conhecimento do
assunto, mas, na manhã seguinte, saiu…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
E o corcel cor de carvão a carregá-lo
… e não puxou as rédeas até chegar ao grande arbusto à
beira do vale. O velho grisalho estava sentado embaixo do
arbusto e disse:
— Filho do Rei, vai jogar hoje?
O filho do Rei desceu e disse:
— Vou.
Com isso, jogou as rédeas sobre um galho e sentou-se ao
lado do velho. Ele pegou as cartas e perguntou ao filho do Rei se
ele tinha recebido o que havia ganhado no dia anterior.
— Está tudo bem — respondeu o filho do Rei.
— Vamos fazer a mesma aposta hoje — disse o velho
grisalho.
— Concordo — respondeu o filho do Rei.
Jogaram… e o filho do Rei venceu.
— O que gostaria que eu fizesse por você desta vez? —
perguntou o velho grisalho.
O filho do Rei pensou e disse consigo: “Desta vez, darei a
ele uma tarefa difícil”. Então, respondeu:
— Há um campo de três hectares na parte de trás do castelo
de meu pai; que amanhã de manhã esteja cheio de vacas e não
haja duas da mesma cor, da mesma altura nem da mesma idade.
— Assim será — disse o velho grisalho.
O filho do Rei foi andando em seu cavalo…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
… e voltou para casa. O Rei sofria pela Rainha; havia
médicos vindos de todos os lugares da Irlanda, mas não
conseguiam fazer nada por ela.
Na manhã do dia seguinte, o pastor do Rei saiu cedo e viu o
campo atrás do castelo cheio de vacas, e não havia duas da
mesma cor, nem da mesma idade, nem da mesma altura. Ele
entrou no castelo e contou ao Rei a notícia espantosa.
— Vá expulsá-las — mandou o Rei.
O pastor chamou homens e saiu com eles expulsando as
vacas, mas, assim que as levava para um lado, elas entravam
pelo outro. O pastor foi falar com o Rei novamente e disse que
nem mesmo todos os homens na Irlanda seriam capazes de
expulsar as vacas que estavam no campo.
— São vacas encantadas — disse o Rei.
Quando o filho do Rei viu as vacas, disse consigo: “Hoje vou
jogar outra vez com o velho grisalho!”.
Naquela manhã ele saiu…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
E o corcel cor de carvão a carregá-lo
… e não puxou as rédeas até chegar ao grande arbusto à
beira do vale. O velho grisalho estava lá diante dele e perguntou
se queria jogar cartas.
— Quero — respondeu o filho do Rei. — Mas você sabe
muito bem que posso vencê-lo no jogo.
— Vamos jogar um jogo diferente, então — disse o velho
grisalho. — Já jogou bola?
— Já, sim — respondeu o filho do Rei. — Mas acho que
você é velho demais para jogar bola e, além disso, aqui não
temos onde jogar.
— Se você concordar em jogar, vou encontrar um lugar —
disse o velho grisalho.
— Concordo — respondeu o filho do Rei.
— Venha comigo — disse o velho grisalho.
O filho do Rei o seguiu pelo vale até chegar a um belo monte
verde. Lá, o velho pegou uma varinha encantada, disse algumas
palavras que o filho do Rei não entendeu e, depois de um tempo,
o monte se abriu e os dois entraram, e passaram por diversos
salões esplêndidos até chegarem a um jardim. Nele, havia uma
coisa mais bonita que a outra e no fundo um lugar para jogar
bola. Eles jogaram uma moeda de prata para ver quem
começaria, e o velho grisalho ganhou.
Começaram, então, e o velho grisalho não parou até vencer
o jogo. O filho do Rei não sabia o que fazer. Por fim, perguntou
ao velho o que gostaria que fizesse por ele.
— Sou o Rei do Deserto Negro, e você deve encontrar a
mim e a minha morada dentro de um ano e um dia, ou eu o
encontrarei e você perderá a cabeça.
Depois, levou o filho do Rei pelo mesmo caminho que
usaram para entrar. O monte verde se fechou atrás deles, e o
velho grisalho desapareceu de vista.
O filho do Rei foi para casa, andando em seu corcel…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
… e um bocado cabisbaixo.
Naquela noite, o Rei observou que havia pesar e grande
sofrimento em seu filho, e, quando ele foi dormir, o Rei e todas as
pessoas que estavam no castelo ouviram seus suspiros e
desvarios. O Rei estava sofrendo — porque havia uma cabeça
de cabra na Rainha —, mas ficou sete vezes pior quando lhe
contaram a história (completa) de como isso acontecera, do
começo ao fim.
Ele chamou um sábio conselheiro e perguntou se sabia onde
morava o Rei do Deserto Negro.
— O fato é que não sei — disse ele. — Mas, tão certo
quanto há um rabo no gato, a menos que o jovem herdeiro
encontre o feiticeiro, perderá a cabeça.
Naquele dia, houve grande pesar no castelo do Rei. Havia
uma cabeça de cabra na Rainha, e o filho do Rei ia sair em
busca de um feiticeiro, sem saber se algum dia voltaria.
Depois de uma semana, a cabeça de cabra foi retirada da
rainha e sua própria cabeça foi colocada de volta. Quando soube
como a cabeça de cabra fora colocada, ela foi tomada por um
grande ódio do filho do Rei e disse:
— Que ele nunca mais volte, nem vivo nem morto.
Numa manhã de segunda-feira, ele deixou sua bênção com
o pai e os parentes, prendeu sua sacola de viagem ao ombro e
foi…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
E o corcel cor de carvão a carregá-lo.
Caminhou naquele dia até o sol se pôr atrás da sombra das
montanhas e até a escuridão da noite chegar, sem saber onde
poderia conseguir hospedagem. Notou uma grande floresta do
seu lado esquerdo e foi na direção dela o mais rápido possível,
esperando passar a noite abrigado debaixo das árvores. Sentouse aos pés de um grande carvalho e abriu a sacola de viagem
para pegar um pouco de comida e bebida, quando viu uma
enorme águia vindo em sua direção.
— Não tenha medo de mim, filho do Rei; eu o conheço: é o
filho de O’Conor, Rei da Irlanda. Sou amiga, e, se você me der
seu cavalo para eu dar de comer aos meus quatro filhotes
famintos, eu o levarei mais longe do que seu cavalo o levaria, e
talvez o ponha no rastro daquele que você procura.
— Pode ficar com o cavalo, à vontade — respondeu o filho
do Rei —, embora eu sofra por me separar dele.
— Muito bem, estarei aqui amanhã ao nascer do sol. — Com
isso, a águia abriu o enorme bico, apanhou o cavalo, abocanhouo de um lado a outro, alçou voo e desapareceu de vista.
O filho do Rei comeu e bebeu o suficiente, colocou a sacola
de viagem embaixo da cabeça e não demorou muito a dormir. Só
acordou quando a águia veio e disse:
— É hora de irmos; há uma longa jornada à nossa frente.
Pegue sua sacola e pule nas minhas costas.
— Mas, para minha tristeza — disse ele —, devo separar-me
do meu cão e do meu falcão.
— Não se entristeça — respondeu ela. — Quando voltar,
eles estarão aqui diante de você.
Ele pulou nas costas dela. A águia alçou voo e partiu pelos
ares. Ela o levou por sobre montanhas e vales, por um grande
mar e por florestas, até que ele pensou estar no fim do mundo.
Quando o sol estava se pondo atrás da sombra das montanhas,
ela pousou no meio de um grande deserto e disse ao filho do Rei:
— Siga o caminho do seu lado direito, e ele o levará à casa
de um amigo. Devo voltar para cuidar dos meus filhotes.
Ele seguiu o caminho e não demorou muito para chegar à
casa, onde entrou. Havia um velho grisalho sentado no canto. Ele
se levantou e disse:
— Cem mil boas-vindas a você, filho do Rei de Rathcroghan
em Connacht.
— Não sei quem é você — respondeu o filho do Rei.
— Conheci seu avô — disse o velho grisalho. — Sente-se;
sem dúvida há fome e sede em você.
— Não estou livre delas — respondeu o filho do Rei.
O velho bateu as palmas das mãos uma na outra e dois
servos vieram servir à mesa com carne de boi, carneiro, porco e
muito pão diante do filho do Rei, e o velho disse:
— Coma e beba o suficiente. Talvez leve muito tempo até
encontrar refeição semelhante.
Ele comeu e bebeu o quanto quis e agradeceu por isso.
Então, o velho disse:
— Você vai em busca do Rei do Deserto Negro. Vá dormir
agora, e pesquisarei nos meus livros para ver se consigo
encontrar a morada desse Rei. — Ele bateu palmas, e veio um
servo, a quem disse: — Leve o filho do Rei ao seu quarto.
O servo o levou para um belo quarto, e ele não demorou
muito a adormecer.
Na manhã do dia seguinte, o velho veio e disse:
— Levante-se, há uma longa jornada à sua frente. Você
deve percorrer oitocentos quilômetros antes do meio-dia.
— Eu não conseguiria fazer isso — respondeu o filho do Rei.
— Se for um bom cavaleiro, darei a você um cavalo que o
levará nessa jornada.
— Farei o que você diz — respondeu o filho do Rei.
O velho deu-lhe muito que comer e beber, e, quando ficou
satisfeito, deu-lhe um pequeno garrano branco e disse:
— Dê rédea solta ao garrano. Quando ele parar, olhe para o
céu e verá três cisnes brancos como a neve. São as três filhas do
Rei do Deserto Negro. Haverá um guardanapo verde na boca de
uma delas: é a filha caçula, e não há pessoa viva no mundo além
dela que possa levá-lo à casa do Rei do Deserto Negro. Quando
o garrano parar, você estará perto de um lago. Os três cisnes vão
pousar à beira do lago, se transformarão em três mulheres
jovens e entrarão no lago nadando e dançando. Fique atento ao
guardanapo verde e, quando vir as moças no lago, pegue o
guardanapo e não o solte por nada. Esconda-se debaixo de uma
árvore e, quando as moças saírem, duas delas vão se
transformar em cisnes e desaparecer no ar. A filha caçula dirá:
“Farei qualquer coisa por aquele que me trouxer meu
guardanapo.” Nessa hora, apareça, dê a ela o guardanapo, diga
que não há nada que você queira senão ir à casa do pai dela e
conte que é filho do rei de um país poderoso.
O filho do Rei fez tudo como o velho desejava e, quando
entregou o guardanapo à filha do Rei do Deserto Negro, disse:
— Sou o filho de O’Conor, Rei de Connaught. Leve-me ao
seu pai. Há muito tempo que o procuro.
— Não seria melhor que eu fizesse outra coisa por você? —
perguntou ela.
— Não quero nada mais — respondeu ele.
— Se eu lhe mostrar a casa você não ficará satisfeito? —
disse ela.
— Ficarei satisfeito — respondeu ele.
— Agora — disse ela —, jure por sua vida que não contará
ao meu pai que fui eu quem o levou à casa dele, e serei uma boa
amiga para você; só admita que tem grandes poderes de
feitiçaria.
— Farei o que você diz — respondeu o filho do Rei.
Ela se transformou num cisne e disse:
— Pule nas minhas costas, ponha as mãos debaixo do meu
pescoço e segure-se firme.
Assim ele o fez, e ela bateu as asas e partiu pelos ares por
sobre montanhas e entremontes, sobre o mar e as colinas, até
pousar quando o sol estava se pondo. Ela disse a ele:
— Vê aquela grande casa acolá? É a casa do meu pai.
Adeus. Sempre que estiver em perigo, estarei ao seu lado. — E
assim ela o deixou.
O filho do Rei foi até a casa e entrou, e quem viu sentado
numa cadeira de ouro senão o velho grisalho que jogara cartas e
bola com ele?
— Filho do Rei — disse ele —, vejo que me encontrou antes
do ano e um dia. Há quanto tempo saiu de casa?
— Hoje de manhã, quando me levantava da cama, vi um
arco-íris. Dei um salto, montei nele e deslizei até aqui.
— Por minha alma, foi uma grande façanha que você
realizou — disse o velho Rei.
— Eu poderia fazer uma coisa mais espantosa do que essa
se quisesse — respondeu o filho do Rei.
— Tenho três coisas para você fazer — disse o velho Rei —,
e, se for capaz de fazê-las, poderá escolher uma das minhas três
filhas como esposa. Se não conseguir fazê-las, perderá a
cabeça, como muitos outros rapazes perderam antes de você.
“Então”, continuou ele, “não há comida nem bebida na minha
casa, a não ser uma vez por semana, e nós a consumimos hoje
de manhã.”
— Para mim dá na mesma — respondeu o filho do Rei. —
Eu poderia jejuar por um mês se precisasse.
— Sem dúvida você pode ficar sem dormir também — disse
o velho Rei.
— Posso, sem dúvida — respondeu o filho do Rei.
— Terá uma cama dura esta noite, então — disse o velho
Rei. — Venha comigo e vou mostrá-la a você.
Ele o levou para fora, mostrou uma grande árvore com uma
forquilha e disse:
— Suba lá e durma na forquilha, e esteja de pé ao nascer do
sol.
Ele subiu na forquilha, mas, assim que o velho Rei dormiu, a
jovem filha veio, levou-o a um belo quarto e o manteve lá até o
velho Rei estar prestes a se levantar. Então, ela o levou de volta
à forquilha da árvore.
Com o nascer do sol, o velho Rei veio até ele e disse:
— Agora, desça e venha comigo para eu lhe mostrar o que
deve fazer hoje.
Ele levou o filho do Rei à beira de um lago, mostrou um
antigo castelo e disse:
— Jogue cada pedra daquele castelo no lago, e trate de
acabar antes de o sol se pôr. — E assim ele o deixou.
O filho do Rei começou a trabalhar, mas as pedras estavam
tão presas umas às outras que ele não foi capaz de erguer
nenhuma, e nem se estivesse trabalhando até hoje teria tirado
uma pedra do castelo. Sentou-se, então, pensando no que
deveria fazer, e não demorou para que a filha do velho Rei viesse
até ele e perguntasse:
— Qual é a causa da sua tristeza?
Ele contou o trabalho que devia fazer.
— Que não haja tristeza em você; eu farei isso — respondeu
ela. Então, deu pão, carne e vinho para ele, pegou uma varinha
encantada, golpeou com ela o antigo castelo e, num instante,
todas as pedras estavam no fundo do lago. — Agora — disse ela
—, não conte ao meu pai que fui eu quem fez o trabalho por
você.
Quando o sol estava se pondo à noite, o velho Rei veio e
disse:
— Vejo que você terminou seu trabalho do dia.
— Terminei — respondeu o filho do Rei. — Consigo fazer
qualquer trabalho.
Agora o velho Rei pensava que o filho do Rei tinha grandes
poderes de feitiçaria, e disse a ele:
— O trabalho de amanhã será tirar as pedras do lago e
reconstruir o castelo como era antes.
Levou o filho do Rei para casa e disse:
— Vá dormir no lugar onde ficou ontem à noite.
Quando o velho Rei foi dormir, a jovem filha veio, o levou
para o belo quarto e o manteve lá até que o velho Rei estivesse
prestes a se levantar de manhã. Então, ela o levou de volta à
forquilha da árvore.
Ao nascer do sol, o velho Rei veio e disse:
— É hora de começar a trabalhar.
— Não há a menor pressa em mim — respondeu o filho do
Rei —, porque sei que consigo fazer meu trabalho do dia sem
demora.
Ele foi até a beira do lago, mas não conseguiu ver nenhuma
pedra, tão escura estava a água. Sentou-se numa pedra e não
demorou muito para Finnuala — esse era o nome da filha do
velho Rei — vir até ele e dizer:
— O que tem a fazer hoje?
Ele contou, e ela disse:
— Que não haja tristeza em você. Posso fazer isso no seu
lugar. — Finnuala deu pão, carne de boi, de carneiro e vinho para
ele. Depois, pegou a varinha encantada, bateu na água do lago
e, num instante, o antigo castelo se reergueu como havia sido no
dia anterior. Ela disse a ele: — Por sua vida, não conte ao meu
pai que fiz esse trabalho por você, nem que tem o menor
conhecimento de mim.
Naquela noite, o velho Rei veio e disse:
— Vejo que terminou o trabalho do dia.
— Terminei — disse o filho do Rei. — Foi um trabalho fácil
de fazer.
O velho Rei achou que o filho do Rei tinha mais poder de
feitiçaria do que ele próprio, e disse:
— Você tem apenas mais uma coisa a fazer. — Ele o levou
para casa e o colocou para dormir na forquilha da árvore, mas
Finnuala veio e o levou para o belo quarto, e pela manhã ela o
mandou novamente para a árvore.
Ao nascer do sol, o velho Rei foi até ele e disse:
— Venha comigo e vou lhe mostrar seu trabalho do dia. —
Levou o filho do Rei a um grande vale, mostrou-lhe um poço e
disse: — Minha avó perdeu um anel naquele poço. Pegue-o para
mim antes que o sol se ponha hoje.
Agora, esse poço tinha trinta metros de profundidade e seis
de circunferência, e estava cheio de água, e havia um exército do
inferno guardando o anel.
Quando o velho Rei foi embora, Finnuala veio e perguntou:
— O que deve fazer hoje?
Ele contou e ela disse:
— Essa é uma tarefa difícil, mas farei o possível para salvar
sua vida. — Então, deu carne, pão e vinho para ele. Depois,
transformou-se num mergulhão e pulou no poço. Não demorou
muito para que ele visse fumaça e raios saindo do poço, e ouviu
um som como o de um trovão, e qualquer um que estivesse
ouvindo esse barulho pensaria que o exército do inferno estava
lutando.
Ao fim de um tempo, a fumaça desapareceu, os raios e
trovões cessaram e Finnuala voltou com o anel. Ela entregou o
anel ao filho do Rei e disse:
— Ganhei a batalha e sua vida está salva. Mas, veja, o dedo
mínimo da minha mão direita está quebrado. Talvez tenha sido
por sorte que se quebrou. Quando meu pai vier, não dê o anel a
ele, mas ameace-o com firmeza. Ele o fará, então, escolher sua
esposa, e é assim que você escolherá. Eu e minhas irmãs
estaremos numa sala; haverá um buraco na porta e todas
passaremos nossas mãos por ele juntas. Você passará sua mão
pelo buraco, e a mão que estiver segurando quando meu pai
abrir a porta será daquela que você tomará como esposa. Pode
me reconhecer pelo dedo quebrado.
— Posso; e o amor do meu coração é você, Finnuala —
disse o filho do Rei.
Naquela noite, o velho Rei veio e perguntou:
— Pegou o anel da minha avó?
— O fato é que peguei — respondeu o filho do Rei. — Havia
um exército do inferno guardando-o, mas eu o venci e venceria
mais sete vezes. Não sabe que sou de Connacht?
— Dê o anel para mim — disse o velho Rei.
— Na verdade, não vou dar — respondeu ele. — Lutei muito
por ele. Mas você me dará minha esposa; quero seguir viagem.
O velho Rei o levou para casa e disse:
— Minhas três filhas estão naquela sala diante de você. A
mão de cada uma delas está estendida, e aquela cuja mão você
ficar segurando até eu abrir a porta será sua esposa.
O filho do Rei passou a mão pelo buraco na porta e agarrou
a mão com o dedo mínimo quebrado, segurando-a com firmeza
até que o velho Rei abrisse a porta da sala.
— Esta é minha esposa — disse o filho do Rei. — Agora,
entregue-me a fortuna da sua filha.
— Ela não tem fortuna a receber além do corcel castanho e
esbelto para levá-los para casa, e que você nunca mais volte,
nem vivo nem morto!
O filho do Rei e Finnuala foram cavalgando o corcel
castanho e esbelto, e não demorou para que chegassem à
floresta onde o filho do Rei deixara o cão e o falcão. Estavam lá,
diante dele, junto de seu belo cavalo cor de carvão. Então, ele
mandou o corcel castanho e esbelto de volta. Colocou Finnuala
montada em seu cavalo e saltou para montar também…
Com o cão aos calcanhares
E seu falcão caçador
… e não parou até chegar a Rathcroghan.
Lá, houve uma grande recepção, e não demorou para que
ele e Finnuala se casassem. Tiveram uma vida longa e próspera.
Hoje, contudo, é quase impossível encontrar ao menos uma trilha
até o antigo castelo de Rathcroghan em Connacht.
Escrito por Phiadu Lanshan'thane
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