O Castelo de Soria Moria Prose in Storevender | World Anvil
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O Castelo de Soria Moria

Era uma vez um casal pobre que tinha um filho chamado Halvor. Desde que era um garotinho, ele não se empenhava em nada, só ficava ali, sentado, tateando as cinzas do fogão. O pai e a mãe o mandaram sair muitas vezes para aprender esta ou aquela profissão, mas Halvor não conseguia ficar em lugar nenhum; pois, passados um ou dois dias, fugia do mestre e não parava de correr até estar sentado outra vez diante do fogo, remexendo as brasas. Ora, um dia veio um capitão e perguntou a Halvor se não tinha vontade de ir com ele, ver o mar e conhecer terras estranhas. Sim, Halvor gostaria muito disso; então, não demorou nada a se aprontar.   Por quanto tempo navegaram, com certeza não sei dizer; mas, no fim, depararam com uma grande tempestade e, quando ela se acabou e voltou a calmaria, não sabiam onde estavam, pois tinham sido levados a um litoral estranho, sobre o qual nenhum deles sabia nada.   Ora, como não havia vento nenhum, ficaram lá, sem ter com que impulsionar o barco, e Halvor pediu a permissão do capitão para desembarcar e olhar à sua volta. Preferia sair, afirmou, a deitar e dormir.   — Acha que é apropriado se apresentar às pessoas agora? – disse o capitão. — Ora, você não tem roupa nenhuma além dos trapos que está usando.   Mas Halvor insistiu e por fim conseguiu permissão, desde que tratasse de voltar assim que o vento começasse a soprar. Assim, saiu e encontrou uma terra adorável – aonde quer que fosse, havia milharais bonitos e amplos, e campinas verdejantes, mas não via o sinal de vivalma. Ora, o vento começou a soprar, mas Halvor achou que ainda não tinha visto o bastante e quis andar um pouco mais para ver se encontrava alguém. Depois de um tempo, chegou a uma estrada larga, tão lisa e plana que se poderia facilmente rolar um ovo ao longo dela. Halvor seguiu a estrada e, ao anoitecer, viu um grande castelo muito ao longe, de onde vinham os raios do sol. Então, como caminhara o dia todo e não levara consigo nada que pudesse comer, estava morrendo de fome, mas, quanto mais se aproximava do castelo, mais medo sentia.   Na cozinha do castelo ardia um grande fogo, e Halvor se aproximou dele – desde que tinha nascido nunca vira uma cozinha como aquela. Era tão grande e bonita; ali havia vasilhas de prata e ouro, mas, mesmo assim, nenhuma alma à vista. Quando Halvor já estava ali havia algum tempo e ninguém tinha aparecido, foi até uma porta e a abriu, e dentro dela estava um princesa girando uma roca. — Não, não é possível! – gritou ela. — Um cristão se atreve a vir aqui? Mas agora é melhor que saia e vá cuidar da sua vida, se não quiser que o troll o devore, pois aqui vive um troll de três cabeças.   — Para mim, dá na mesma – disse o rapaz. — Seria o mesmo que ouvir que ele tem quatro cabeças; gostaria de ver que tipo de sujeito ele é. Quanto a sair, não vou de jeito nenhum. Não fiz nenhum mal. Mas você deve trazer carne para mim, pois estou quase morto de fome.   Depois que Halvor comeu até se fartar, a princesa pediu que tentasse brandir a espada pendurada à parede. Não, ele não conseguiu brandi-la, nem mesmo levantá-la.   — Ah! – disse a princesa. — Agora você deve tomar um gole daquele frasco que está pendurado ao lado; é isso que o troll faz toda vez que sai para usar a espada.   Halvor tomou um gole e, num piscar de olhos, foi capaz de brandir a espada como se não pesasse nada; e agora achava que já era hora de o troll chegar. E veja só! Foi então que o troll surgiu, bufando e soprando. Halvor pulou para trás da porta.   — Hutetu – disse o troll ao passar a cabeça pela porta. — Que cheiro de sangue cristão!   — Sim – respondeu Halvor —, e você logo provará seu próprio sangue. – E com isso cortou todas as cabeças do troll.   Agora a princesa estava tão feliz por estar livre, que dançou e cantou ao mesmo tempo, mas de repente recordou-se das irmãs e disse:   — Quem dera minhas irmãs também fossem livres!   — Onde estão elas? – perguntou Halvor.   Ela contou tudo a ele: uma irmã fora levada por um troll para um castelo a cinquenta milhas dali, e a outra, por mais um troll para um castelo a mais cinquenta milhas de distância.   — Mas agora – disse ela —, você deve, primeiro, me ajudar a tirar esta carcaça feiosa da casa.   Sim, Halvor estava tão forte que varreu tudo e deixou o lugar limpo e arrumado num instante. Isso rendeu momentos felizes aos dois, e na manhã seguinte ele partiu ao raiar da aurora cinzenta. Não conseguiu descansar no caminho, mas correu e andou o dia todo. Quando avistou o castelo, teve um pouco de medo; era muito mais grandioso que o primeiro, mas lá também não se via vivalma. Assim, Halvor entrou na cozinha, e também não parou, mas foi logo ver o resto da casa. — Não, não – gritou a princesa. — Um cristão se atreve a vir aqui? Não sei ao certo há quanto tempo estou aqui, mas em todo esse tempo não vi nenhum cristão. É melhor que trate de fugir na mesma rapidez com que veio, pois aqui vive um troll que tem seis cabeças.   — Eu não fugiria – respondeu Halvor. — Nem se ele tivesse mais seis cabeças.   — Ele vai agarrá-lo e engoli-lo vivo – disse a princesa.   Mas não adiantou, Halvor não foi embora. Não tinha medo do troll, mas precisava de carne e bebida, pois estava quase morto de fome depois de sua longa jornada. Ora, ganhou toda a comida que desejava, mas depois a princesa pediu que partisse outra vez.   — Não – disse Halvor. — Não vou, não fiz mal nenhum e não tenho nada a temer.   — Ele não vai parar para perguntar isso – disse a princesa —, pois vai matá-lo sem lei nem licença; mas, já que não quer sair, tente brandir aquela espada acolá, que o troll empunha na guerra.   Ele não conseguiu brandir a espada, por isso a princesa mandou que tomasse um gole do frasco pendurado ao lado e, depois de fazer isso, conseguiria brandi-la.   Foi então que o troll chegou, e ele era ao mesmo tempo alto e robusto, tanto que precisou se virar de lado para passar pela porta. Quando o troll passou a primeira cabeça, gritou:   — Hutetu, que cheiro de sangue cristão!   Mas no mesmo instante Halvor cortou sua primeira cabeça, e assim por diante, conforme cada uma delas apareceu. A princesa ficou radiante, mas logo pensou nas irmãs, e desejou em voz alta que fossem livres. Halvor achou que isso seria fácil de fazer, e quis partir imediatamente; mas primeiro teve que ajudar a princesa a tirar a carcaça do troll do caminho, por isso, só pôde sair na manhã seguinte.   Foi um longo caminho até o castelo, e ele teve que andar rápido e correr muito para alcançá-lo a tempo. Ao cair da noite, viu o castelo, ainda mais bonito e grandioso do que os outros. Desta vez, não teve medo nenhum, mas atravessou a cozinha e entrou na sala seguinte. Lá estava uma princesa tão bela que sua formosura não tinha limites. Ela, assim como as outras, disse que não via um cristão desde que chegara àquele lugar, e pediu que ele fosse embora, senão, o troll o engoliria vivo. — E sabe – disse ela —, ele tem nove cabeças.   — Sim, sim – disse Halvor. — Se tivesse mais nove cabeças, e ainda mais nove, eu não sairia daqui. – E assim permaneceu diante do fogão. A princesa continuou implorando com toda a gentileza que fosse embora, para que o troll não o devorasse, mas Halvor disse: — Ele que venha quando quiser.   A princesa deu a ele a espada do troll e pediu que tomasse um gole do frasco, para poder brandi-la e empunhá-la.   Foi então que o troll chegou, bufando e soprando e correndo. Era muito mais alto e mais robusto que os outros dois, e também teve que se virar de lado para passar pela porta. Então, quando passou a primeira cabeça, disse, exatamente como os outros:   — Hutetu, que cheiro de sangue cristão!   Naquele momento, Halvor cortou a primeira cabeça, e depois todo o resto; mas a última foi a mais difícil de todas, e ele teve de fazer o maior esforço para conseguir cortá-la, embora soubesse muito bem que tinha força suficiente para isso.   Então, todas as princesas foram juntas para aquele castelo, que se chamava Castelo de Soria Moria, e ficaram contentes e felizes como nunca, e todas gostavam de Halvor, e Halvor delas, e poderia escolher a que mais o agradasse como sua noiva. Dentre todas, a caçula era quem mais gostava dele.   Porém, depois de um tempo, Halvor andou pelo castelo e achou tudo muito estranho, monótono e silencioso. As princesas perguntaram a ele de que sentia falta; e será que não gostava mais de morar com elas? Gostava, sim, pois tinham mais que o suficiente para viver, e ele passava muito bem em todos os sentidos, mas ainda assim, de um jeito ou de outro, ansiava voltar para casa, pois seu pai e sua mãe estavam vivos, e tinha um imenso desejo de vê-los.   Ora, as princesas acharam que isso era muito fácil de resolver.   — Você deve ir para lá e voltar para cá, seguro e ileso, se seguir nosso conselho – disseram elas.   Sim, ele prestaria atenção a tudo o que dissessem. Então, elas o vestiram até deixá-lo tão elegante quanto o filho de um rei, e depois puseram um anel em seu dedo, e era um anel especial, com o qual podia ir e voltar, bastando um desejo; mas mandaram que tratasse de não tirá-lo nem citar os nomes das princesas, pois esse seria o fim de toda a sua bravura e ele nunca mais as veria. — Se ao menos eu estivesse em casa, ficaria feliz – disse Halvor; e seu desejo se realizou. Lá estava ele à porta da cabana do pai antes que dissesse qualquer outra palavra. Agora, já era quase noite, e, quando viu um senhor tão majestoso e imponente entrar, o velho casal teve tanto medo que começou a se curvar em reverência. Halvor perguntou se poderia ficar lá, e se poderiam hospedá-lo naquela noite.   — Não podemos fazer isso – responderam eles —, pois não temos nada daquilo que um senhor está acostumado a ter; é melhor que sua excelência vá até à fazenda, que não fica muito longe, pois daqui é possível ver as chaminés, e lá eles têm de tudo.   Halvor não quis saber de nada disso – queria parar e descansar. Mas o velho casal insistiu que era melhor ir falar com o fazendeiro; lá, receberia carne e bebida. Quanto a eles, não tinham nem uma cadeira para ele se sentar.   — Não – disse Halvor. — Só vou para lá amanhã de manhã, mas deixem-me ficar aqui esta noite. Na pior das situações, posso me sentar no canto da chaminé.   Ora, contra isso não podiam dizer nada. Assim, Halvor sentou-se ao lado do fogão e começou a remexer as cinzas, exatamente como nos velhos tempos, quando ficava em casa e esticava os ossos preguiçosos.   Conversaram e tagarelaram sobre muitas coisas, e contaram isto e aquilo para Halvor; depois ele perguntou se nunca tiveram filhos.   Sim, sim, tiveram um rapaz chamado Halvor, mas não sabiam para onde tinha ido, não sabiam nem se estava vivo ou morto.   — Será que não sou eu? – perguntou Halvor.   — Deixe-me ver; eu o reconheceria – respondeu a velha, e se levantou. — Nosso Halvor era muito preguiçoso e lerdo, nunca fazia nada; e, além disso, andava tão esfarrapado que cada farrapo da roupa sustentava outro farrapo. Não, ele nunca seria um sujeito tão distinto quanto o senhor, mestre.   Pouco depois, a velha foi até o fogão atiçar o fogo e, quando as chamas iluminaram o rosto de Halvor, como nos velhos tempos, quando ficava em casa remexendo as cinzas, ela o reconheceu na mesma hora.   — Ah! Mas então é você, Halvor? – chorou ela. A alegria do velho casal foi tal que não tinha limites, e ele foi obrigado a contar como se saíra, e a velha senhora ficou tão feliz e orgulhosa que não aceitou nada menos que fazê-lo ir imediatamente à fazenda e se exibir para as moças que sempre o haviam desprezado. E ela foi na frente, com Halvor logo atrás. Assim, quando chegou lá, contou a todos como Halvor tinha voltado para casa, e agora precisavam ver como ele estava elegante, pois, dizia ela, “não parece nada menos que o filho de um rei”.   — Pois muito bem – disseram as moças, empinando o nariz. — Temos certeza de que ele é o mesmo rapaz esfarrapado e miserável que sempre foi.   Só então chegou Halvor, e as moças ficaram tão surpresas que esqueceram suas blusas diante do fogo, onde estavam sentadas cerzindo as roupas, e correram para fora só de combinação. Quando voltaram a entrar, estavam tão envergonhadas que mal se atreviam a olhar para Halvor, com quem sempre tinham sido orgulhosas e arrogantes.   — Sim, sim – disse Halvor. — Vocês sempre se consideraram tão bonitas e asseadas que ninguém podia se aproximar de vocês; mas agora precisavam ver a mais velha das princesas que libertei: comparadas a ela, vocês parecem simples leiteiras, e a do meio é ainda mais bonita; mas a caçula, minha bem-amada, é mais bela que o sol e a lua. Quem me dera elas estivessem aqui. Aí, vocês veriam o que digo.   Mal havia pronunciado essas palavras e lá estavam elas, mas logo depois lamentou muito, pois agora se lembrava do que haviam dito.   Na fazenda, preparou-se um grande banquete para as princesas, e fez-se todo tipo de gentileza para elas, mas não quiseram ficar lá.   — Não, queremos ir até seu pai e sua mãe – disseram elas a Halvor. — Então vamos sair agora e olhar a paisagem.   Assim, ele desceu com elas e chegaram a um grande lago perto da fazenda. Junto da água havia um lindo banco verde. As princesas quiseram se sentar para descansar um pouco; acharam muito prazeroso sentar-se e olhar o lago.   Então, sentaram-se lá e, depois de algum tempo, a princesa caçula disse:   — Já que estamos aqui, posso pentear um pouco seu cabelo, Halvor.   Halvor deitou a cabeça no colo da princesa, e ela penteou os belos cachos dele, e não demorou muito para que Halvor adormecesse. Ela então tirou o anel do dedo dele, colocou outro no lugar e disse: — Agora, abracem-me, todas juntas! E quem dera estivéssemos no Castelo de Soria Moria.   Assim, quando Halvor acordou, percebeu logo que havia perdido as princesas, e começou a chorar e gemer; e ficou tão abatido que ninguém conseguiu consolá-lo. Apesar de tudo o que o pai e a mãe disseram, não quis ficar lá, mas se despediu deles e disse que tinha certeza de que não os veria nunca mais, pois, se não pudesse reencontrar as princesas, achava que não valeria a pena viver.   Ainda lhe restavam cerca de sessenta libras, então ele as guardou no bolso e partiu.   Depois de andar por um tempo, encontrou um homem com um bom cavalo. Quis comprá-lo, e começou a negociar com o homem.   — Sim – disse o homem. — Para dizer a verdade, nunca pensei em vendê-lo; mas se pudéssemos fazer uma troca, talvez...   — O que você quer por ele? – perguntou Halvor.   — Não paguei muito por ele, nem vale muito; é um cavalo vistoso para cavalgar, mas não consegue puxar nenhuma carroça. Ainda assim, é forte o bastante para carregar seu embornal e o senhor também, uma coisa de cada vez – explicou o homem.   Finalmente concordaram quanto ao preço, e Halvor colocou o embornal sobre o cavalo, e andou um pouco, depois cavalgou um pouco, uma coisa de cada vez. À noite, chegou a uma planície verde onde havia uma grande árvore, e em suas raízes sentou-se. Ali, soltou o cavalo e não se deitou para dormir, mas abriu o embornal e fez uma refeição. Ao raiar do dia, partiu outra vez, pois não podia descansar.   Assim, cavalgou e andou, e andou e cavalgou o dia inteiro através da ampla floresta, onde havia tantos recantos verdes e clareiras que cintilavam, luminosas e adoráveis entre as árvores. Não sabia onde estava nem para onde ia, mas só descansou enquanto o cavalo comia um punhado de grama, e tirou um petisco do embornal quando chegaram a uma daquelas clareiras verdejantes. Depois, continuou a andar e cavalgar, e, quanto à floresta, parecia não ter fim.   Mas, ao anoitecer do dia seguinte, viu uma luz que brilhava em meio às árvores.   Quem dera houvesse gente por aqui, pensou Halvor, e que eu pudesse me aquecer um pouco e conseguir um bocado de comida para manter corpo e alma juntos. Quando se aproximou da luz, viu que vinha de uma cabaninha miserável, e através da janela viu um casal muito idoso. Tinham cabelos tão grisalhos quanto um par de pombos, e que nariz tinha a velha! Ora, era tão comprido que ela o usava para atiçar o fogo ao sentar-se diante dele.   — Boa noite – disse Halvor.   — Boa noite – respondeu a velha. — Mas que incumbência o traz até aqui? – prosseguiu ela. Pois nenhum cristão passava por este lugar há mais de cem anos.   Halvor contou tudo sobre si e sobre como queria chegar ao Castelo de Soria Moria, e perguntou se ela conhecia o caminho até lá.   — Não – respondeu a velha —, não conheço, mas veja só, lá vem a Lua, vou perguntar a ela, deve saber tudo sobre isso, pois não brilha acima de todas as coisas?   Então, quando a Lua estava alta e clara sobre as copas das árvores, a velha saiu.   — Ó, Lua, ó, Lua – gritou. — Sabes dizer-me o caminho para o Castelo de Soria Moria?   — Não – respondeu a Lua. — Não sei, pois da última vez que brilhei lá, uma nuvem parou à minha frente.   — Espere um pouco mais – disse a velha para Halvor. — Vem aí o Vento Oeste; com certeza ele sabe, pois bufa e sopra em toda parte. — Não, não – disse a velha ao sair outra vez. — Não me diga que tem um cavalo também; solte logo o pobre animal em nosso ‘sítio’, não o deixe parado ali, morrendo de fome à porta. – E ela continuou: — Mas não quer fazer uma permuta? Temos um velho par de botas aqui, com as quais você pode cobrir vinte milhas a cada passo; pode ficar com elas em troca do seu cavalo, e assim chegará muito mais cedo ao Castelo de Soria Moria.   Halvor concordou na mesma hora, e a velha ficou tão feliz por ter o cavalo que estava pronta para dançar e pular de alegria.   — Agora – disse ela — poderei cavalgar até a igreja. É o que penso em fazer.   Halvor não descansou e quis partir imediatamente, mas a velha disse que não havia pressa.   — Deite-se naquele banco e durma um pouco, pois não temos cama para oferecer. Vou vigiar e acordá-lo quando o Vento Oeste chegar. Então, depois de um tempo, chegou o Vento Oeste, rugindo e uivando até as paredes rangeram e gemerem.   A velha correu para fora.   — Ó, Vento Oeste, ó, Vento Oeste! Sabes dizer-me o caminho para o Castelo de Soria Moria? Aqui está alguém que deseja ir para lá.   — Sim, sei muito bem – respondeu o Vento Oeste —, e para lá vou agora mesmo, a fim de secar as roupas para o casamento que acontecerá. Se tiver pés rápidos, pode vir comigo.   Halvor correu para fora.   — Terá que esticar as pernas se quiser me acompanhar – disse o Vento Oeste.   Ele partiu por sobre os campos e sebes, colinas e charnecas, e Halvor teve de se esforçar para acompanhá-lo.   — Bem – disse o Vento Oeste —, agora não tenho mais tempo para ficar com você, pois preciso partir e derrubar um abeto antes de ir até o varal secar as roupas. Mas, se acompanhar àquela colina, encontrará muitas moças lavando roupas, e aí não estará longe do Castelo de Soria Moria.   Pouco depois, Halvor se deparou com as moças que lavavam, e elas perguntaram se tinha notícias do Vento Oeste, que deveria secar as roupas para o casamento.   — Sim, sim, tenho – respondeu Halvor. — Ele só foi derrubar um abeto. Logo virá para cá. — E perguntou o caminho para o Castelo de Soria Moria.   Elas indicaram o caminho certo, e, quando ele chegou ao castelo, o encontrou cheio de pessoas e cavalos, tão cheio que ficou zonzo só de olhar para eles. Mas Halvor estava tão esfarrapado e maltrapilho por ter seguido o Vento Oeste através de arbustos e espinheiros e brejos que ficou num canto e não se mostrou até o último dia, quando aconteceria a festa de casamento.   Depois que todos beberam à saúde da noiva e do noivo e desejaram boa sorte ao casal, o copeiro serviu a todos, Halvor por último. Ele bebeu à saúde dos noivos, mas deixou cair na taça o anel que a princesa havia colocado em seu dedo, quando dormia junto do lago, e pediu ao copeiro que parabenizasse a noiva e entregasse a taça a ela.   Foi então que a princesa se levantou da mesa.   — Quem é mais digno de ficar com uma de nós – disse ela —, aquele que nos libertou, ou aquele que está ao meu lado como noivo? Todos disseram que quanto a isso só poderia haver uma única voz e vontade e, ouvindo isso, Halvor não demorou a se livrar de seus trapos de mendigo e se enfeitar como noivo.   — Sim, sim, aqui está o homem certo, afinal – disse a princesa caçula assim que o viu. Jogou o outro pela janela e se casou com Halvor.

Escrito por Kondril Drilli


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