Noiva Galhuda Prose in Storevender | World Anvil
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Noiva Galhuda

Era uma vez um viúvo que tinha um filho e uma filha do primeiro casamento. Eram bons filhos e se amavam muito. Algum tempo depois, o homem se casou com uma viúva, que tinha uma filha com o primeiro marido, e esta era feia e má como a mãe. Assim, desde o dia em que a nova esposa entrou em casa, seus enteados não tiveram paz em lugar nenhum, e finalmente o rapaz achou que era melhor sair pelo mundo e tentar ganhar o próprio pão.   Depois de vagar por um tempo, chegou ao palácio do rei e conseguiu trabalho como ajudante do cocheiro, e aprendeu com disposição e rapidez, e os cavalos de que cuidava ficaram tão limpos e macios que o pelo brilhava.   Mas a irmã, que ficou em casa, foi mais do que maltratada; tanto a madrasta quanto a irmã postiça estavam sempre a espezinhá-la e, onde quer que fosse, o que quer que fizesse, elas a repreendiam e ralhavam tanto que a pobre moça não tinha uma hora de paz. Era obrigada a fazer todo o trabalho duro, e do começo ao fim do dia não recebia nada além de palavrões e uma quantidade miserável de comida.   Um dia, mandaram-na ir até o córrego buscar água. Sabe o que aconteceu? Da água, surgiu uma cabeça muito feia, que disse:   — Venha me lavar, moça.   — Sim, vou lavá-lo com toda a atenção – respondeu a moça. Então, começou a lavar e esfregar a cabeça feia, mas, para dizer a verdade, achou a tarefa desagradável.   Assim que terminou, ergueu-se outra cabeça da água, e esta era ainda mais feia.   — Venha me escovar, moça – disse a segunda cabeça.   — Sim, vou escová-lo com toda a atenção.   E, com isso ela pegou nas mãos as mechas emaranhadas, e você pode imaginar que escová-las não foi muito agradável. Mas, quando acabou, não é que uma terceira cabeça surgiu da água, ainda mais feia e repugnante do que as outras duas juntas?   — Venha me beijar, moça! — Sim, vou beijá-lo – respondeu a moça, e o fez, embora achasse que era a pior tarefa que já tivera de fazer na vida.   Depois as cabeças começaram a tagarelar, e cada uma perguntou o que deveriam fazer pela moça que havia sido tão bondosa e gentil.   — Que ela seja a moça mais bonita do mundo, e tão radiante quanto o dia claro – disse a primeira.   — Que caia ouro de seus cabelos toda vez que ela os escovar – disse a segunda.   — Que caia ouro de sua boca toda vez que falar – disse a terceira.   Assim, quando a moça chegou em casa, tão linda e luminosa quanto um dia de sol, a madrasta e a irmã postiça se irritaram ainda mais, e a raiva piorou quando ela começou a falar e as duas viram moedas de ouro cairem de sua boca. A madrasta ficou tão furiosa que expulsou a moça para o chiqueiro. Esse era o lugar certo para todas as suas coisas douradas, e não quis mais saber de entrar na casa.   Bem, não demorou muito para a madrasta pedir que a própria filha fosse ao córrego buscar água. Então, quando a menina chegou à margem da água com seus baldes, surgiu a primeira cabeça.   — Venha me lavar, moça – disse a cabeça.   — O Diabo que a lave – respondeu a filha.   Então surgiu a segunda cabeça.   — Venha me escovar, moça – disse.   — O Diabo que a escove – respondeu a filha.   Aquela cabeça afundou, e surgiu a terceira.   — Venha me beijar, moça – disse a cabeça.   — O Diabo que a beije, sua cara de porco – respondeu ela.   Então as cabeças conversaram outra vez, perguntando o que deveriam fazer com aquela menina tão malvada e teimosa; e todas concordaram que ela deveria ter um nariz com dois metros de comprimento, e um focinho de um metro e meio, e um pinheirinho galhudo bem no meio da testa, e, toda vez que falasse, cinzas cairiam de sua boca.   Quando ela chegou em casa com seus baldes, gritou para a mãe: — Abra a porta.   — Abra você mesma, filha querida – respondeu a mãe.   — Não consigo alcançá-la por causa do meu nariz – disse a filha.   Quando a mãe saiu e a viu, você pode imaginar como ficou, e como chorou e gemeu; mas, apesar de tudo, o nariz, o focinho e o pinheiro continuavam lá, e sua tristeza não serviu para diminuí-los.   Enquanto isso, o irmão, que havia conseguido trabalho no estábulo do rei, tinha desenhado um pequeno retrato da irmã, e o levava consigo. Toda manhã e toda noite ele se ajoelhava diante do retrato e rezava a Nosso Senhor pela irmã, a quem tanto amava.   Os outros cavalariços o ouviram rezar, por isso espiaram pelo buraco da fechadura de seu quarto e lá o viram de joelhos diante do retrato. Então saíram por aí dizendo como o rapaz, toda manhã e toda noite, se ajoelhava e rezava para um ídolo, e por fim foram até o próprio rei e imploraram que espiasse pelo buraco da fechadura, pois assim Sua Majestade veria o rapaz e as coisas que fazia.   A princípio, o rei não acreditou, mas finalmente o convenceram, e ele se esgueirou na ponta dos pés até a porta e espiou. Sim, lá estava o rapaz, de joelhos, diante do retrato pendurado na parede, rezando com as mãos entrelaçadas.   — Abra a porta! – gritou o rei, mas o rapaz não o ouviu.   O rei gritou mais alto, mas o rapaz estava tão absorto em suas orações que ainda assim não conseguiu ouvi-lo.   — Abra a porta, eu disse! Sou eu, o rei, quem quer entrar.   O rapaz pulou, correu para a porta e a abriu, mas, na pressa, esqueceu-se de esconder o retrato. No entanto, quando o rei entrou e viu o desenho, parou e não conseguiu sair do lugar, tão lindo era o rosto que via.   — Não há mulher tão bela em nenhum lugar no mundo – disse o rei.   Mas o rapaz contou que ela era sua irmã, que ele a havia desenhado e, se não fosse mais bonita que isso, pelo menos não era mais feia.   — Bem, se ela é tão bela – disse o rei —, eu a quero como minha rainha. – E ordenou ao rapaz que fosse para casa naquele mesmo instante, e não demorasse muito a voltar. O rapaz prometeu ir tão rápido quanto pudesse e deixou o palácio do rei. Quando chegou em casa para buscar a irmã, a madrasta e a meia-irmã disseram que também deveriam ir, e então todos partiram, e a boa moça levou um cofre no qual guardava seu ouro, e levou também um cachorrinho chamado Caverninho9; essas duas coisas eram tudo que a mãe havia deixado para ela.   Depois de algum tempo, chegaram a um lago que precisavam atravessar de barco. O irmão sentou-se ao leme, e a madrasta e as duas meninas sentaram-se na proa, e assim navegaram por um longo tempo. Finalmente, avistaram a terra.   — Ali – disse o irmão —, onde se vê a praia branca ao longe; é lá que devemos aportar. — E, ao dizer isso, apontou para um ponto na água.   — O que meu irmão está dizendo? – perguntou a boa moça.   — Ele diz que você deve jogar seu cofre na água – respondeu a madrasta.   — Bem, se é o que meu irmão diz, é o que devo fazer – concluiu a moça, e o cofre foi para a água.   Depois de navegar um pouco mais, o irmão apontou outra vez para o lago.   — Ali se vê o castelo aonde vamos.   — O que meu irmão está dizendo? – perguntou a boa moça.   — Ele diz que agora você deve jogar seu cachorrinho na água – respondeu a madrasta.   A moça chorou e ficou imensamente triste, pois Caverninho era a coisa mais querida que tinha no mundo, mas finalmente ela o jogou na água.   — Se é o que meu irmão diz, é o que devo fazer, mas Deus sabe como me dói jogá-lo fora, Caverninho – disse ela.   E navegaram por mais um tempo.   — Lá se vê o rei descendo para nos receber – disse o irmão, apontando para a praia.   — O que meu irmão diz? – perguntou a moça.   — Agora ele diz que você deve correr e se jogar na água – respondeu a madrasta.   Bem, a moça chorou e gemeu; mas, se era o que seu irmão dizia, era o que ela deveria fazer e, assim, atirou-se no lago. No entanto, quando chegaram ao palácio, e o rei viu a noiva repugnante, com o nariz de dois metros e o focinho de um metro e meio, e um pinheirinho no meio da testa, ficou apavorado; mas o casamento já estava preparado, com toda a comida e a bebida, e lá estavam todos os convidados da festa, esperando pela noiva. Então, o rei não pôde fazer nada senão aceitá-la. Mas estava tão zangado que mandou atirar o irmão num fosso cheio de serpentes.   Na primeira noite de quinta-feira, depois do casamento, por volta da meia-noite, uma linda dama entrou na cozinha do palácio e implorou com toda a gentileza à ajudante de cozinha, que dormia ali, que lhe emprestasse uma escova. Recebeu o que pedia e escovou os cabelos e, quando fez isso, moedas de ouro caíram das mechas. Um cachorrinho a acompanhava, e a ele a dama disse:   — Vá lá fora, Caverninho, e veja se logo vai amanhecer.   Isso ela disse três vezes, e a terceira vez em que mandou o cachorro sair foi quase na hora em que o dia começava a raiar. A moça teve que partir, mas, ao sair, cantou:   Para o inferno você, feia Noiva Galhuda,   Dormindo tão cálida ao lado de rei,   Enquanto eu durmo sobre areia e cascalho   E sobre meu irmão as serpentes rastejam.   E tudo sem uma lágrima derramada.   — Agora virei mais duas vezes, e depois nunca mais.   Então, na manhã seguinte, a ajudante de cozinha contou o que tinha visto e ouvido, e o rei disse que viria pessoalmente na noite da próxima quinta-feira para ver se era verdade. Assim que escureceu, ele entrou na cozinha e se colocou perto da ajudante. Mas não importava o que fizesse, nem quanto esfregasse os olhos e tentasse continuar acordado, não adiantou; pois a Noiva Galhuda cantou até que ele fechasse os olhos e, assim, quando a bela dama veio, lá estava ele, dormindo e roncando. Desta vez, também como antes, ela tomou emprestada uma escova, escovou os cabelos até o ouro cair e mandou o cachorro ir três vezes lá fora, e, assim que o céu começou a clarear, ela partiu cantando as mesmas palavras, e acrescentando:   — Agora virei mais uma vez, e depois nunca mais.   Na terceira quinta-feira à noite, o rei disse que viria novamente, e colocou dois homens para segurá-lo, um debaixo de cada braço, para sacudi-lo e fazê-lo correr cada vez que estivesse adormecendo, e mais dois homens para vigiar sua Noiva Galhuda. Mas, quando anoiteceu, a Noiva Galhuda começou a cantar, de modo que os olhos do rei passaram a piscar e a cabeça tombou no ombro. Então chegou a bela dama, pegou a escova e escovou os cabelos até o ouro cair; depois disso, mandou Caverninho sair outra vez para ver se logo amanheceria, e fez isso três vezes. Na terceira vez, o céu começou a clarear no leste, e ela cantou:   Para o inferno você, feia Noiva Galhuda,   Dormindo tão cálida ao lado de rei,   Enquanto eu durmo sobre areia e cascalho   E sobre meu irmão as serpentes rastejam.   E tudo sem uma lágrima derramada.   — Agora nunca mais voltarei – disse ela, e foi na direção da porta. Mas os dois homens que seguravam o rei por baixo dos braços fecharam as mãos dele e puseram uma faca entre elas; e assim, de um jeito ou de outro, conseguiram que ele fizesse um corte no dedo mindinho da moça, que sangrou. Desse modo a verdadeira noiva foi libertada, e o rei acordou, e ela contou toda a história, e revelou como a madrasta e a meia-irmã a haviam enganado.   O rei mandou tirar o irmão do fosso de serpentes na mesma hora, e as víboras não haviam feito nenhum mal ao rapaz, mas a madrasta e a filha foram jogadas lá em seu lugar.   E não há palavras para dizer como o rei ficou feliz por se livrar daquela Noiva Galhuda e feia, e por ter uma rainha tão bela e radiante quanto o dia. Assim, o verdadeiro casamento foi realizado, e falou-se dele por sete reinos. O rei e a rainha foram de carruagem à igreja, e Caverninho entrou com eles também e, depois de receber a bênção, voltaram ao palácio, e então nunca mais os vi.

Escrito por Glizag Tybthi


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