Lis Amarela
Era uma vez, quando as fadas eram tão numerosas
quanto os dentes-de-leão no prado, um rei poderoso e sua boa
rainha. Os nomes desses grandes governantes há muito foram
esquecidos pelos escritores da história, pois viveram centenas e
centenas de anos atrás.
Eles reinavam em Erin e moravam num grande castelo de
pedra construído no alto de um penhasco com vista para o mar.
Erin era a parte mais bonita da Irlanda, pois suas florestas e
grandes extensões de terra eram verdes como a esmeralda, e os
céus e águas tão azuis quanto a turquesa.
Esse rei e essa rainha tinham apenas um filho, conhecido
como o Príncipe de Erin. Era um garoto brilhante e bonito, mas
não queria nada além de se divertir. Seu pai costumava dizer-lhe
que era errado fazer apostas, mas o rapaz não dava ouvidos a
seus conselhos.
Um dia, o príncipe foi à floresta caçar veados. Perambulou o
dia inteiro, carregando seu arco e suas flechas, mas não
conseguiu achar nenhum. Por fim, sentou-se para descansar.
Estava quase dormindo quando ouviu um assobio estridente
atrás de si e o som de pés pesados sobre os galhos caídos.
— Quem é você? — gritou uma voz alta e rouca.
O príncipe virou-se rapidamente e viu um gigante marchando
colina abaixo em sua direção. Era quase tão alto quanto a árvore
mais alta e seu rosto era medonho. Os olhos eram como bolas
de fogo e as narinas vertiam fumaça negra.
— Ai de mim, é o Gigante de Loch Lein — gritou o príncipe.
Quis fugir o mais rápido possível, mas seus pés não se
mexeram. Tremia de cima a baixo, pois sabia que o Gigante de
Loch Lein caçava garotos na floresta assim como os garotos
caçavam animais. Muitos rapazes foram capturados pela terrível
criatura, levados ao castelo nas profundezas da floresta e nunca
mais voltaram para seus pais.
— Quem é você? — rugiu o gigante outra vez.
— Sou o filho do Rei de Erin — respondeu o garoto,
tentando ser corajoso.
— Estou esperando por você há muito tempo — disse o
gigante com uma risada que soou como um trovão. — Nunca
devorei um príncipe de verdade, embora tenha ouvido falar que a
carne deles é muito macia.
O príncipe se virou, trêmulo de temor, mas o gigante o
agarrou e disse:
— Não tema. Como você é filho do governante de Erin, vou
dar-lhe uma chance de escapar. Ouvi dizer que você sabe jogar
bons jogos e aprecia apostas. Vamos jogar uma partida nesta
encosta. Se eu ganhar, vou levá-lo ao meu castelo, para nunca
mais voltar à sua casa.
O príncipe gostava tanto de jogar que, mesmo amedrontado,
concordou em fazer o que o gigante queria.
— Tenho duas belas propriedades, cada uma contendo um
castelo — contou o gigante. — Serão suas se me derrotar no
jogo.
— E eu também tenho duas propriedades que serão suas se
me vencer — respondeu o príncipe. — Nenhum homem em Erin
jamais me venceu num jogo.
Então, jogaram até o anoitecer, o príncipe esquecendo por
completo o medo que tinha do gigante. Embora o Gigante de
Loch Lein fosse um jogador habilidoso, o Príncipe de Erin o
derrotou facilmente.
— Pode ir — resmungou o gigante quando o jogo acabou. —
Você é mesmo um jogador excelente, o melhor em todo o país.
A maioria dos historiadores antigos concorda que o Príncipe
de Erin não contou aos pais que escapou por pouco do gigante.
Assim que chegou em casa, subiu ao topo da torre mais alta, de
onde podia contemplar a floresta, ao longe, na qual ficava o
castelo do gigante.
— Voltarei amanhã e vencerei o gigante, pois vai ser uma
grande diversão — disse ele consigo. — Mesmo que eu seja
derrotado, o gigante não se atreverá a destruir o filho do Rei de
Erin, pois o exército de meu pai vai procurar por mim e arrasar o
castelo do gigante quando me encontrar. Além disso, ouvi dizer
que ele tem três filhas lindas, as garotas mais formosas de toda a
terra. Eu gostaria de vê-las.
Na manhã seguinte, enquanto o príncipe se preparava para
caçar, o velho mais sábio da corte, cujo nome era Glic, foi até o
rei e disse:
— O príncipe está prestes a sair para caçar. Peço que não o
deixe ir, pois receio que vá deparar com um grande perigo.
O rei ordenou que seu filho passasse o dia todo dentro do
palácio, mas, quando ninguém estava olhando, o príncipe fugiu
para a encosta perto da floresta. Mais uma vez, ouviu um assobio
estridente que sacudiu os ramos das árvores como um vendaval,
e em instantes viu o gigante marchando em sua direção.
— Ho, ho, meu jovem príncipe! — exclamou o gigante. — Eu
sabia que você voltaria hoje. Vamos jogar outro jogo. O que vai
apostar contra mim?
— Aposto meu rebanho — respondeu o príncipe, não tão
amedrontado quanto antes.
— E eu aposto quinhentos bois com chifres de ouro e cascos
de prata — disse o gigante. — Tenho certeza de que você não
consegue me vencer outra vez.
— Combinado — respondeu o príncipe, e imediatamente
começaram a jogar.
Em pouco tempo, o príncipe ganhou o jogo e o gigante
soltou um uivo de raiva. Voltando-se para a floresta, assobiou
alto três vezes, e quinhentos bois com chifres de ouro e cascos
de prata vieram de lá.
— São seus — disse o gigante. — Leve-os até o portão do
palácio e volte amanhã.
O príncipe, tomado pelo prazer do triunfo, levou o gado até o
portão do palácio, onde o pastor do rei se encarregou deles.
Então ele se apressou a falar com o pai e a mãe e pediu que
fossem ver a valiosa aposta que havia ganhado do Gigante de
Loch Lein.
O rei, a rainha e toda a corte ficaram encantados com os
bois, cujos chifres de ouro e cascos de prata cintilavam à luz do
sol.
Na manhã do terceiro dia, o Príncipe de Erin vestiu
novamente suas roupas de caça e quis ir para a floresta; mas
Glic, o adivinho, mais uma vez o deteve.
— Nada de bom pode vir dessa jogatina, pois no fim o
gigante o derrotará e você nunca mais voltará para nós — disse
Glic.
— Não tenho medo — declarou o príncipe, rindo —, pois, se
ele me aprisionar, cortarei a cabeça dele.
Assim, partiu outra vez, cantando uma melodia alegre. Mal
se sentara na encosta quando ouviu o assobio do gigante. O
príncipe não ficou nem um pouco amedrontado, embora o
gigante estivesse com uma carranca de raiva porque fora
obrigado a abrir mão de seu rebanho.
— O que vai apostar hoje? — rugiu o gigante.
— Aposto minha cabeça contra a sua — respondeu o
príncipe, audacioso.
— Rá, rá! Você ficou bem valente — riu o gigante,
zombeteiro. — Aposto minha cabeça que posso vencê-lo hoje.
Se você perder o jogo, cortarei a sua antes de o sol nascer
amanhã.
Eles jogaram na encosta até o anoitecer. O jogo foi tenso,
cheio de interesse e exaltação ansiosa; mas o príncipe foi
derrotado. Com um grito de triunfo, o gigante dançou, pisoteando
pequenas árvores e arbustos.
O príncipe realmente lamentou ter apostado uma
propriedade tão útil quanto a própria cabeça, mas não se
queixou.
— Você é um rapaz honesto, apesar de imprudente — disse
ele. — Vou deixar que viva um ano e um dia a mais. Volte para
seu palácio, mas não conte a ninguém que vou cortar sua
cabeça. Quando o tempo tiver acabado, volte à encosta para
pagar sua aposta.
O gigante desapareceu, deixando o pobre príncipe sozinho e
de coração muito abalado. Ele não foi para casa, só perambulou
sem se importar para onde ia.
Finalmente, descobriu que estava numa terra estranha muito
além da fronteira de Erin. De cada lado havia pastos verdes e, ao
longe, colinas altas e verdes; mas não se via nenhuma casa.
Ele continuou a andar, fraco de fome, até chegar a uma
velha cabana que ficava no sopé de uma colina. Estava
iluminada por uma vela. Ele entrou e ficou cara a cara com uma
velha que estivera curvada sobre o fogo. Os dentes dela eram
tão longos quanto o cajado que ela trazia e os cabelos escassos
pendiam soltos em torno do rosto.
Antes que o príncipe pudesse falar, a velha disse:
— Você é bem-vindo à minha casa, filho do Rei de Erin.
Ela o pegou pela mão, levou a um canto da sala e o mandou
lavar o rosto e as mãos. Enquanto isso, preparou um mingau
quente para ele e pediu que comesse uma farta refeição.
O príncipe ficou muito surpreso por ela saber seu nome e
tentou imaginar por que continuava tão quieta. Pensou que devia
ser uma bruxa; mas um garoto faminto, não importa quão
elevada seja sua posição, tende a esquecer o perigo diante de
uma boa ceia. Depois de comer e beber tudo o que quis, ele se
sentou perto do fogo até que ela o levasse para um quarto e o
mandasse para a cama.
Na manhã seguinte, a bruxa o acordou, pedindo que se
levantasse e tomasse o desjejum de pão e leite.
Ele fez o que ela mandava, sem sequer lhe oferecer bomdia.
— Sei o que o atormenta, filho do Rei de Erin — disse ela. —
Se fizer o que digo, não terá motivos para se lamentar. Aqui está
um novelo de linha. Segure uma ponta do fio e jogue o novelo à
sua frente. Quando começar sua jornada, o novelo vai rolar, mas
você deve continuar a segui-lo e enrolar o fio o tempo todo, ou
vai se perder outra vez. Você ficou comigo ontem à noite; esta
noite, ficará com minha irmã.
O príncipe pegou o novelo de linha, jogou-o diante de si e
começou a andar devagar, enrolando o fio em outro novelo. A
cada passo que dava, o novelo se afastava mais e mais dele. O
dia todo ele andou morro acima e vale abaixo, cada vez mais
rápido, até seus pés e mãos estarem tão cansados que mal
conseguia mexê-los. Por fim, o novelo de linha parou na porta de
uma cabana que ficava no sopé de uma montanha alta. Uma vela
tremeluzia na janela. Ele pegou o novelo e correu até a porta,
onde encontrou outra velha bruxa cujos dentes eram tão longos
quanto muletas.
— Bem-vindo, filho do Rei de Erin! — exclamou ela. — Você
ficou com minha irmã caçula ontem à noite, esta noite ficará
comigo e amanhã com minha irmã mais velha.
Ela o levou para dentro da cabana, mandou-o lavar as mãos
e o rosto, deu-lhe uma ceia farta de mingau e bolos e o mandou
para a cama.
Na manhã seguinte, a bruxa o chamou para o desjejum.
Quando ele terminou de comer, ela deu-lhe um novelo de linha e
mandou que ele o seguisse como antes.
O príncipe o seguiu por campos e plantações, cada vez mais
rápido, até tarde da noite seguinte, quando parou na porta de
uma cabana que ficava no sopé de uma colina. Uma vela
crepitava na janela como se lhe desse as boas-vindas. Uma
bruxa, mais rústica que as outras, estava parada junto do fogo
fazendo mingau.
Ela cumprimentou o príncipe como suas irmãs haviam feito,
mandou que lavasse o rosto e as mãos, deu-lhe a ceia e o
mandou para a cama. Na manhã seguinte, no desjejum, ela lhe
entregou um novelo de linha e disse:
— Filho do Rei de Erin, você perdeu a cabeça para o
Gigante de Loch Lein, que mora perto daqui num grande castelo
cercado de espinhos. Um dia, perderá a cabeça para a filha dele.
Siga este novelo de linha até o lago atrás do castelo. Quando
chegar ao lago, ao meio-dia, o novelo estará desenrolado.
“Pouco depois, as filhas do cruel Gigante de Loch Lein vão
ao lago tomar banho. Seus nomes são Lis Azul, Lis Branca e Lis
Amarela. A última é a mais sábia e a mais bonita das três. Roube
as roupas dela e não as devolva até ela prometer ajudá-lo, pois é
a única pessoa no mundo capaz de ser mais astuta que o
Gigante de Loch Lein.”
O príncipe agradeceu o conselho da bruxa e seguiu o novelo
de linha até o Castelo dos Espinhos, que era uma construção
escura e sombria, escondida das vistas por grandes árvores.
Quando chegou ao lago atrás do castelo, o novelo desapareceu.
Ele ficou parado por um tempo olhando para o lago, que
parecia uma turquesa brilhante ao sol. Nessa hora, ouviu
gritinhos e gargalhadas femininas. Escondeu-se atrás de um
grupo de arbustos de onde podia ver sem ser visto. Três lindas
garotas vieram correndo até a beira do lago, onde pararam para
olhar ao redor.
Foi muito fácil para o príncipe identificar seus nomes. A mais
alta, que usava um vestido azul-claro, tinha olhos tão azuis
quanto o céu; ele sabia que ela devia ser Lis Azul. Uma delas era
tão alva que parecia ter sido esculpida em mármore; ele teve
certeza de que ela era Lis Branca. Mas Lis Amarela era pequena
e esbelta, com cabelos que cintilavam como ouro à luz do sol.
Era maravilhosamente graciosa e bonita.
Lis Amarela tirou o manto de fios de ouro e ficou com um
traje de banho do mesmo material. Com um grito de alegria, ela
pulou na água, seguida de suas irmãs.
O Príncipe de Erin pulou de seu esconderijo e pegou o
manto de ouro. Lis Amarela o viu e gritou o mais alto que pôde:
— Devolva meu manto dourado. Meu pai vai me matar se eu
o perder. Por favor, não fuja.
— O que você me dá por ele? — perguntou o príncipe,
afastando-se devagar do lago.
— Qualquer coisa que você deseje, pois sou protegida por
uma fada madrinha que torna todas as coisas possíveis —
respondeu Lis Amarela.
— Vim me entregar ao seu pai, o Gigante de Loch Lein, de
acordo com minha promessa — contou o príncipe. — Gostaria
que você o fizesse me libertar. Aqui está seu manto.
Ele deixou o manto na grama e subiu a colina em direção ao
castelo. Momentos depois, Lis Amarela juntou-se a ele, usando
seu manto dourado.
— Você é o filho do Rei de Erin — disse ela, sorrindo
docemente e alcançando-o. — Se fizer o que eu digo, não
perderá a cabeça, mas, no futuro, espero que nunca seja tolo o
bastante para apostar sua cabeça ou qualquer outra ninharia que
possa ter.
— Prometo não fazer isso — respondeu o príncipe, olhandoa com admiração. — Se seu pai tivesse apostado sua linda
cabeça dourada, creio que eu poderia tê-lo vencido no jogo.
Lis Amarela jogou os cachos e riu alegremente, dizendo:
— Meu pai tem uma cama macia para você num tanque
fundo; mas não se aflija, pois vou ajudá-lo.
Passaram em silêncio pelos portões de pedra do Castelo
dos Espinhos. Os grandes pátios de pedra, sacadas e ameias
estavam completamente desertos. Lis Amarela levou o príncipe
para a cozinha, a maior que ele já vira. O chão era de pedras
brancas, e um caldeirão de latão borbulhava sobre as chamas da
grande lareira. Lis Amarela escondeu o príncipe atrás de uma
cortina num canto do cômodo.
Nessa hora, o Gigante de Loch Lein apareceu e se jogou
numa cadeira diante do fogo. Começou a farejar o ar e finalmente
rugiu:
— O filho do Rei de Erin está aqui! Traga-o para cá, Lis
Amarela.
A garota fez o que ele pedia. O príncipe não pôde deixar de
tremer ao ficar diante do gigante feroz, embora sentisse que Lis
Amarela cumpriria sua promessa.
— Você deve estar muito cansado — rugiu o gigante, tão
alto que os pratos nas prateleiras trepidaram. — Tenho uma
cama boa e macia para você.
Ele agarrou o príncipe, carregou-o pela cozinha, abriu um
tanque e o atirou dentro dele. Splash! O príncipe caiu de cabeça
em um metro de água.
O mais terrível foi que o gigante fechou a tampa do tanque.
O príncipe temia muito mais a escuridão do que a água, mas não
gritou. Ficou tremendo por mais de uma hora, imaginando se Lis
Amarela o havia esquecido e desejando estar em casa a salvo
em sua cama de seda e ouro.
Por fim, a tampa se ergueu e Lis Amarela olhou para ele do
alto com um sorriso travesso.
— Devo roubar suas roupas e fugir, como você tentou fazer
hoje? — sussurrou ela.
— Não, não me deixe aqui. Farei o que você quiser —
implorou o príncipe, com os dentes batendo.
— Então saia, vista estas roupas quentes e secas que eu
trouxe para você e coma a ceia — disse ela.
O príncipe não demorou a sair de sua cama macia.
Encontrou o gigante num sono pesado diante da lareira,
roncando alto o bastante para abafar a mais terrível trovoada.
Lis Amarela não disse uma palavra, mas deu ao príncipe
algumas roupas secas e o mandou ficar no canto até ela voltar.
Logo ela reapareceu com uma ceia tentadora fumegando numa
bandeja e disse para ele comer. Estava faminto e comeu com
muito entusiasmo. Depois, ela o levou para outro canto da sala e
levantou uma cortina pendurada ali.
Ele viu uma cama branca e macia e uma mesa com água
fresca e toalhas. Lis Amarela desejou-lhe bons sonhos e saiu
apressada.
Ao amanhecer, ela voltou e disse, animada:
— Acorde, Príncipe de Erin! Não perca nem um instante ou
estaremos perdidos. Vista as roupas que usou ontem e venha
comigo.
O príncipe se levantou e se vestiu o mais rápido possível.
Afastou a cortina que escondia sua cama e seguiu a garota.
— Quando as galinhas começarem a cacarejar, meu pai
acordará — sussurrou ela. — Volte para dentro do tanque e
fecharei a tampa.
O príncipe hesitou.
— Faça o que digo ou nós dois estaremos perdidos —
insistiu a garota.
O príncipe pulou no tanque e Lis Amarela fechou a tampa. O
barulho despertou o gigante, que esticou os membros pesados, esfregou o nariz e bocejou. Ele abriu os olhos, espiou ao redor,
atravessou a sala, abriu o tanque e gritou:
— Bom dia, Príncipe de Erin; o que achou de passar a noite
na sua cama macia?
— Nunca dormi melhor, obrigado — respondeu
sinceramente o príncipe.
— Então, saia — ordenou o gigante.
O príncipe obedeceu.
— Já que dormiu tão bem, vai trabalhar duro hoje — disse o
gigante. — Vou poupar sua cabeça se você limpar meus
estábulos. Lá ficam quinhentos cavalos e ninguém os limpa há
setecentos anos. Estou ansioso para encontrar o alfinete do sono
da minha bisavó, que se perdeu em algum lugar nesses
estábulos. A pobre e velha alma nunca mais dormiu depois de
perdê-lo, e assim morreu por falta de sono. Quero o alfinete do
sono para meu uso particular, pois tenho sono muito leve.
— Farei o melhor que puder para encontrar o alfinete —
respondeu o príncipe, quase desanimado, pois nunca havia
limpado nem mesmo a ponta das próprias botas.
— Aqui estão duas pás, uma antiga e uma nova — disse o
gigante grosseiramente. — Pode pegar a que preferir. Cave até
encontrar o alfinete do sono. Espero vê-lo quando voltar para
casa hoje à noite.
O príncipe pegou a pá nova e seguiu o gigante até os
estábulos, onde centenas de cavalos começaram a relinchar,
fazendo um barulho ensurdecedor.
— Lembre-se, Príncipe de Erin, quero o alfinete do sono ou
então a sua cabeça — disse o gigante, enquanto ia embora.
O príncipe começou a trabalhar, mas, toda vez que jogava o
volume de uma pá pela janela, o volume de duas entrava voando
para tomar seu lugar. Por fim, cansado e desanimado, sentou-se
para descansar.
Nessa hora apareceu Lis Amarela, mais bonita do que
nunca, com outro vestido de ouro e prata, e flores amarelas nos
cabelos dourados.
— O que está tentando fazer, Príncipe de Erin? —
perguntou, com um riso que formou covinhas nas bochechas.
— Estou tentando encontrar o alfinete do sono da sua trisavó
— foi a resposta lamentável.
— Você é um príncipe poderoso e meu pai é um gigante
poderoso, mas ambos são tolos como todos os homens — disse
ela. — Como imagina que minha trisavó poderia perder o alfinete
do sono nos estábulos? Eu é que estou com o alfinete do sono;
aqui está. Eu o coloquei no bolso do meu pai ontem à noite para
que ele não pudesse acordar e nos pegar.
— Você é uma garota muito habilidosa! — exclamou o
príncipe, fora de si de tanta alegria e admiração.
Passaram o dia todo juntos, até Lis Amarela dizer que
precisava ir, pois ouviu os passos de seu pai a uma légua de
distância, e ele chegaria em dois minutos.
Quando o gigante viu que o príncipe havia encontrado o
alfinete do sono, ficou imensamente surpreso.
— Ou minha filha Lis Amarela o auxiliou, ou então foi o
Espírito do Mal — murmurou ele.
Antes que o príncipe pudesse responder, o gigante o
agarrou, levou-o de volta para a cozinha e o atirou novamente no
tanque. Então, sentou-se diante da lareira, segurando o alfinete
do sono. Logo, começou a roncar como mil locomotivas.
Abriu-se a tampa do tanque, e Lis Amarela, doce e
sorridente, gritou o mais alto que pôde:
— Levante-se da sua cama macia, Príncipe de Erin; coma a
ceia que preparei e fale tão alto quanto quiser, pois meu pai foi
dormir segurando o alfinete do sono da minha trisavó.
As horas que passaram juntos foram alegres e, depois que
Lis Amarela se juntou às irmãs na torre de vigia, o príncipe voltou
a dormir na cama macia no canto da cozinha. Ao amanhecer, Lis
Amarela o acordou mais uma vez e o mandou voltar correndo
para o tanque.
Assim que a tampa se fechou, Lis Amarela correu até o pai,
pegou o alfinete do sono e o jogou no chão. O gigante deu um
rugido e caiu esparramado no chão de pedra.
— Quem me acordou? — rosnou ele, tentando ficar de pé.
— Fui eu, querido pai — disse a garota com ar meigo. — O
senhor teria dormido para sempre se eu não tivesse tirado o
alfinete do sono de seu poder. É muito tarde.
— Você é uma filha boa e confiável — respondeu o gigante.
— Vou dar-lhe uma coisa bonita.
Ele foi ao tanque e ordenou que o príncipe saísse de sua
cama boa e macia.
— Você ficou tanto tempo deitado na cama que precisará
trabalhar ainda mais hoje — acrescentou. — Faz muito tempo
que ninguém refaz o telhado dos meus estábulos, e quero que
você faça isso hoje. Eles se estendem por muitos hectares, mas,
se terminar antes do anoitecer, pouparei sua cabeça. Só que eles
devem ser cobertos com penas, que devem ser colocadas uma
por uma, e não pode haver duas iguais.
O príncipe ficou cabisbaixo outra vez, mas disse que faria o
possível.
— Mas onde encontrarei os pássaros? — perguntou depois
de um tempo de silêncio desamparado.
— Onde você acha? Espero que não tente encontrá-los na
lagoa dos sapos — respondeu o gigante, impaciente. — Aqui
estão dois apitos, um antigo e um novo. Pode pegar o que
preferir.
— Vou pegar o novo — disse o príncipe, e o gigante deu-lhe
um apito que parecia nunca ter sido usado.
— Um dia você aprenderá que as coisas antigas são
melhores — avisou o gigante, desdenhoso.
Quando o gigante se foi, o príncipe tocou o apito até que
seus lábios ficassem inchados, mas nenhuma ave veio em seu
socorro. Por fim, sentou-se numa pedra, prestes a chorar.
Mas Lis Amarela reapareceu, mais encantadora do que
nunca, com outro vestido amarelo bordado com asas de libélulas
e pérolas nos cabelos magníficos.
— Por que está sentado tocando um apito em vez de
trabalhar? — perguntou ela. — Pobre príncipe, deve estar com
fome. Aqui está uma pequena mesa posta para dois debaixo
desta grande árvore. Quando as coisas o preocuparem, não
desista. Quem mantém o apetite não tem motivo para se
desesperar.
Eles se sentaram e comeram línguas de pavão, bolos
cobertos com glacê, amêndoas e muitas outras delícias, e
ficaram mais felizes do que nunca.
— Mas está ficando tarde, e ainda resta cobrir os estábulos!
— gritou o príncipe, lembrando-se de repente de sua tarefa assim
que satisfez o apetite.
— Olhe para trás — disse a garota.
O príncipe, para sua grande surpresa, viu que os estábulos
estavam cobertos de plumas macias de aves, nenhuma igual à
outra.
— Você é um prodígio — disse ele, segurando as mãos da
moça em agradecimento.
— Nem um pouco — respondeu ela. — Como os pássaros
poderiam trabalhar para você enquanto estava lá tocando aquele
apito terrível? Os pássaros seriam amigos tão bons quanto os
cães se as pessoas não os assustassem tanto. Mas não diga mais nada. Ouço meu pai bebendo na fonte a três quilômetros
daqui, e ele chegará em quatro minutos.
Ela segurou as saias junto do corpo e, com um sorriso doce,
correu para dentro do castelo.
— Quem cobriu aquele telhado? — gritou o gigante assim
que chegou.
— Minha própria força fez isso — respondeu o príncipe
humildemente, sentindo que não havia contado uma falsidade,
pois Lis Amarela era ainda mais do que força para ele.
O gigante, em vez de agradecer a ele por seus serviços, o
agarrou novamente e o jogou de cabeça no tanque da cozinha.
Em seguida, sentou-se diante do fogo. A cabeça do gigante mal
começara a pesar quando Lis Amarela colocou o alfinete do sono
sobre o nariz do pai para ter certeza de que ele não conseguiria
acordar. Então, libertou o príncipe, e eles passaram a noite como
antes, porém com muito mais alegria.
Na manhã seguinte, o gigante abriu o tanque e ordenou que
o príncipe saísse.
— Tenho uma tarefa para você que nem mesmo um príncipe
pode cumprir — disse ele. — Tenho certeza de que cortarei sua
cabeça antes do anoitecer. Perto do castelo há uma árvore com
trezentos metros de altura. Tem apenas um galho, que fica
próximo do alto. Esse galho contém um ninho de corvo. No ninho
há um ovo. Quero esse ovo para a ceia hoje à noite. Se você não
o trouxer, vai se arrepender.
O gigante levou o príncipe até a árvore, que se erguia como
uma grande coluna de vidro liso, tão escorregadia que nem
mesmo uma formiga conseguiria rastejar sobre ela sem deslizar.
Quando o gigante se foi, o príncipe tentou uma dezena de
vezes subir até o alto, mas a cada vez voltava à terra mais rápida
e dolorosamente do que antes. Ficou muito feliz quando Lis
Amarela apareceu.
E agora vem a parte do conto que é de gelar o sangue, e eu
preferiria omitir; mas devo contar tudo a você do mesmo modo
como as queridas criancinhas irlandesas ouviram séculos atrás,
do contrário vou sentir que desfigurei esta antiga obra do folclore
das fadas.
Lis Amarela, como sempre, trouxe algo para comer e, depois
que comeram, pela primeira vez ela se voltou para o príncipe
com ar tristonho.
— Lamento que meu pai tenha dado essa tarefa a você, mas
devemos nos submeter ao que não podemos evitar — disse ela.
— Ai de mim! Querido príncipe, você tem que me matar.
— Matá-la? — gritou ele, horrorizado. — Nunca! Prefiro
perder a cabeça mil vezes.
— Mas, se você tomar cuidado, voltarei a viver — insistiu a
garota. — Minha fada madrinha cuidará de mim. Você verá que é
fácil arrancar minha carne, pois só precisa dizer: “Lis Amarela de
Loch Lein”. Repita e meus ossos vão se separar. Você verá que
meus ossos se fixarão a esta árvore como pequenos degraus.
Pela escada de ossos, você poderá subir até o alto da árvore.
Pegue o ovo e desça com cuidado, a cada vez tirando um dos
meus ossos da árvore, até chegar à terra. Em seguida, empilhe
os ossos sobre a minha carne e diga: “Volte, Lis Amarela de Loch
Lein”, e eis que voltarei a ser eu mesma. Mas tome cuidado…
tome cuidado para não deixar nenhum dos meus ossos na
árvore.
Por um longo tempo, o príncipe se recusou a obedecer o
pedido, até Lis Amarela se irritar e dizer:
— Então contarei ao meu pai que o venho ajudando, e ele
matará a nós dois. Apresse-se, pois o tempo é curto.
— Lis Amarela de Loch Lein! — gritou o príncipe, sem olhar
para ela. — Lis Amarela de Loch Lein! — gritou novamente.
O príncipe olhou para baixo e viu a seus pés uma pilha de
ossinhos brancos. Ele os recolheu e, subindo devagar, fez uma pequena escada fixando-os na árvore. Logo alcançou o ninho do
corvo, encontrou o ovo, guardou-o no bolso e desceu,
arrancando os ossos da árvore enquanto seguia. Depois,
empilhou-os sobre a carne e as roupas da garota e, com lágrimas
nos olhos, gritou:
— Volte, Lis Amarela de Loch Lein!
E, imediatamente, Lis Amarela apareceu diante dele, mas
não estava mais sorrindo.
— Patife! — gritou ela. — Você me deixou aleijada pelo resto
da vida! No fim das contas, não passa de um garoto descuidado.
— Ah, o que deixei de fazer? — gritou o príncipe, pálido de
medo.
— Um dos meus dedinhos do pé ainda está pendurado na
árvore. Ah, que criatura desajeitada é um príncipe!
O príncipe pediu perdão de joelhos e, finalmente, Lis
Amarela abriu seu doce sorriso de antes e disse:
— Sou grata por não ser pior. Que visão eu seria se você
tivesse esquecido minha espinha dorsal!
Eles se alegraram e conversaram novamente até a hora do
gigante chegar. Lis Amarela foi para a torre e o príncipe ficou à
espera no portão do castelo, segurando o ovo do corvo.
— Você com certeza é mágico! — arfou o gigante ao ver o
príncipe. — Não posso cortar sua cabeça, senão um destino pior
se abaterá sobre mim. Vá para casa agora mesmo. Não fique
aqui nem mais um minuto.
O príncipe queria se despedir de Lis Amarela, mas é claro
que foi impossível, por isso ele partiu para casa o mais rápido
que pôde.
Quando chegou ao Palácio de Erin, o rei, a rainha, o velho
Glic e toda a corte correram para recebê-lo. Nunca antes houve
tanta alegria por lá. Houve dias e dias de festejos e danças ao som de músicas melodiosas, e realizou-se um torneio em que os
melhores arqueiros do reino testaram suas habilidades.
Um ano depois, o velho Glic, que estava sempre arranjando
problemas, disse ao rei que estava na hora do príncipe se casar
com uma dama nobre de grande riqueza. O príncipe queria se
casar com Lis Amarela, mas o rei disse que ele deveria escolher
uma princesa cuja posição se equiparasse à dele. Desesperado,
o príncipe mandou que Glic escolhesse uma esposa para ele em
breve, do contrário voltaria a perambular e nunca mais retornaria.
— Encontrei uma dama adequada — disse Glic. — O pai
dela é o Rei de Loch Lein, o reino ao lado do nosso. O pai é
poderoso, a família é famosa, sua riqueza é incalculável e ela é
tão bela quanto a Rainha das Fadas.
— Se ela me aceitar, eu me casarei com ela — respondeu o
príncipe —, mas não vou procurá-la pessoalmente.
O rei enviou Glic à corte de Loch Lein, levando presentes
valiosos e escoltado por soldados e serviçais. Poucas semanas
dedepois, ele voltou e disse ao Rei de Erin que o Rei de Loch
Lein havia consentido em dar ao príncipe sua filha em
casamento.
Na mesma hora começaram os preparativos para um
casamento grandioso. Na corte haveria todo tipo de
passatempos, várias danças e outros divertimentos a desfrutar, e
as famílias reais de muitos reinos diferentes, até mesmo das
ilhas do mar, compareceriam.
O próprio príncipe finalmente se interessou muito em se
preparar para o grande evento. Na verdade, quase se esqueceu
de Lis Amarela e da ajuda que ela havia lhe dado para salvar sua
cabeça. No entanto, pediu que seu pai convidasse o Gigante de
Loch Lein para comparecer à festa que aconteceria antes do dia
do casamento. Também concordaram em convidar Lis Azul, Lis
Branca e Lis Amarela, e tratá-las como princesas do sangue real.
No momento certo, o Rei de Loch Lein, que era um homem
idoso, chegou com sua filha e uma enorme comitiva de serviçais.
O porteiro tocou sua trompa e toda a corte de Erin saiu para
cumprimentá-los. O Rei e a Princesa de Loch Lein foram
conduzidos ao salão de recepções, onde a Rainha e o Príncipe
de Erin lhes deram as boas-vindas.
O príncipe ficou muito decepcionado ao contemplar a
princesa e zangado com Glic, pois ela era arrogante e nada
bonita. Parecia estar mais satisfeita com os móveis e tapeçarias
caras do que com o príncipe.
O dia da festa finalmente chegou. A mesa no salão de festas
estava repleta de frutas e carnes requintadas de todos os tipos a
serem servidas em pratos de ouro maciço. Todos pareciam
felizes, principalmente o velho Glic, que deveria receber uma
grande quantia por ter encontrado uma esposa para o príncipe.
No final da festa, o Rei de Erin cantou uma balada e o Rei de
Loch Lein contou uma história. Naqueles tempos, as pessoas
apreciavam feitos de magia, e o príncipe pediu a Glic que
chamasse o poderoso Gigante de Loch Lein, para que ele
pudesse realizar alguns truques.
Em instantes o gigante entrou no salão, curvando-se
rigidarigidamente, enquanto as pessoas batiam palmas e davam
vivas. Ele não olhou para o príncipe, mas fez uma reverência aos
dois reis.
— Suas Majestades — disse ele —, minha filha é a
verdadeira mágica. Sei que ela ficará feliz em entretê-los por um
momento. Na verdade, ela consentiu em tomar o meu lugar.
Nessa hora, Lis Amarela entrou no salão com um vestido
dourado que deslizava pelo chão. Seus cabelos dourados
brilhavam como o sol. Ninguém ali jamais tinha visto cabelos tão
magníficos nem rosto e forma tão belos. Todos ficaram
maravilhados demais com sua beleza e elegância para proferir
uma palavra de boas-vindas.
Lis Amarela sentou-se à mesa e jogou dois grãos de trigo no
ar. Eles se acenderam acima da mesa e se transformaram num
pombo e numa pomba. Na mesma hora, o primeiro começou a bicar sua companheira, quase expulsando-a da mesa. Para
surpresa de todos, a pomba gritou:
— Você não me tratou assim no dia em que limpei os
estábulos para você e encontrei o alfinete do sono.
Lis Amarela colocou dois grãos de trigo diante deles, mas o
pombo os devorou avidamente e continuou a maltratar sua
companheira.
— Você não teria feito isso comigo no dia em que cobri o
telhado dos estábulos para você com as penas dos pássaros,
nenhuma igual à outra — gritou a pomba.
Quando mais alguns grãos de trigo foram deixados diante
deles, o pombo comeu mais avidamente do que antes e, depois
de devorar todos, empurrou a companheira para fora da mesa.
Ela pousou no chão gritando:
— Você não teria feito isso no dia em que me matou e usou
meus ossos para fazer degraus na árvore de vidro com trezentos
metros de altura, para pegar o ovo do corvo para a ceia do
Gigante de Loch Lein… e esqueceu meu dedinho do pé, e me
tornou coxa para o resto da vida!
O Príncipe de Erin levantou-se, vermelho de vergonha, e,
voltando-se para o Rei de Loch Lein, disse:
— Quando eu era mais jovem, vagava por aí a caçar e jogar.
Uma vez, longe de casa, perdi a chave de um baú valioso.
Depois que uma nova chave foi feita, encontrei a antiga. Qual
das duas chaves se deve guardar: a antiga ou a nova?
O Rei de Loch Lein ficou confuso, mas respondeu
prontamente:
— Guarde a antiga, certamente, pois se encaixará melhor e
você está mais acostumado com ela.
— Agradeço seu ótimo conselho — continuou o príncipe com
um sorriso. — Lis Amarela, filha do Gigante de Loch Lein, é a
antiga chave do meu coração, e não me casarei com nenhuma outra moça. Sua filha, a princesa, é a nova chave que nunca foi
experimentada. Ela é apenas a convidada de meu pai, e nada
mais; mas ficará melhor por ter comparecido ao meu feliz
casamento em Erin.
Houve grande espanto das famílias reais e de seus
convidados quando o príncipe pegou Lis Amarela pela mão e a
levou a uma cadeira ao lado dele. Mas, quando os músicos
começaram a tocar uma ária animada, o palácio ressoou da torre
ao calabouço com gritos alegres de “Vida longa ao Príncipe de
Erin e sua noiva, Lis Amarela de Loch Lein!”.
Escrito por Dis'eril Ae-shan
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