A Giganta e o barco de granito Prose in Storevender | World Anvil
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A Giganta e o barco de granito

Era uma vez um rei e uma rainha que eram muito amados por todo o povo. Tinham apenas um filho, chamado Sigurd, que, mesmo quando menino, se destacava pela maravilhosa habilidade e destreza em todos os esportes e passatempos masculinos, embora sua força só fosse comparável à sua sabedoria e à sua beleza. Anos se passaram. Sigurd tinha se tornado homem, quando um dia o rei o chamou.   — Meu filho – disse ele —, está na hora de você escolher uma noiva adequada. Estou ficando velho e não espero viver por muito tempo. Você vai assumir o meu lugar daqui a alguns anos e deve tentar ganhar o respeito e a estima dos homens demonstrando sua capacidade de conquistar uma princesa digna de compartilhar o seu trono. Visite primeiro o país de Hardrada, meu amigo. Ouvi dizer que a filha dele é, de fato, uma maravilha de beleza e bondade.   Sigurd se preparou imediatamente para começar a jornada. Com poucos companheiros escolhidos, estendeu as velas de sua nobre galera, a proa alta encarando as ondas, e a popa, grandiosa com entalhes e douraduras, reluzindo ao sol. Depois de navegar por alguns dias sobre águas agitadas, a embarcação chegou ao país de Hardrada. Era noite; uma das gloriosas noites de verão do norte, quando a lua fica quase tão brilhante quanto o sol. A costa arrojada, com precipícios e picos estranhos e grotescos, parecia extremamente inacessível, até que de repente um grande riacho ou fiorde foi visto, em cuja nascente se erguia o palácio do rei. As janelas todas brilhavam com a luz, e os sons da música e da comemoração diziam aos viajantes que havia um banquete em andamento.   Deixando o barco, Sigurd e seus companheiros seguiram em direção ao palácio, onde receberam as boas-vindas mais entusiasmadas do rei e de sua filha Helga. A princesa era, de fato, tudo que tinham falado – alta e linda, e tão gentil e charmosa que Sigurd decidiu conquistá-la. Na manhã seguinte, ele se apresentou ao rei com o objetivo de sua jornada e recebeu seu consentimento. Hardrada estava ansioso para ter um genro para compartilhar os cuidados do reino que, agora que ele estava velho, pesavam muito sobre ele. Como condição de ficar com Hardrada, Sigurd só estipulou que deveria voltar ao próprio país assim que o pai mandasse buscá-lo. E assim o casamento de Sigurd, o corajoso, com Helga, a bela, aconteceu com grande pompa e alegria, com Thanes e outros nobres vindo de todas as partes para trazer presentes para os jovens.   Sigurd e a esposa se amavam com muito carinho, e a felicidade dos dois foi completada quando, depois de um ano, um filho nasceu desse amor, herdando a beleza da mãe e a força e a forma elegante do pai. Três anos felizes se passaram, e o pequeno Kurt tinha dois anos quando Sigurd recebeu a notícia da morte do pai e um chamado para sua terra natal.   Foi uma despedida triste entre Helga e o pai; mas Sigurd não ousava demorar, e mais uma vez o belo barco viking começou a viagem pelas ondas cujos picos refletiam o sol, levando o jovem rei, a esposa e o filho.   Durante vários dias, o vento foi favorável; mas, faltando um dia de navegação até o país de Sigurd, a embarcação encontrou uma calmaria extraordinária. Dia após dia, o sol os atingia com ardor e força; não se sentia nem um sopro de ar. Na parte da frente da embarcação, os homens todos tinham descido para o porão. Os companheiros de Sigurd também estavam dormindo, enquanto ele e a esposa continuavam no convés, sob o toldo, conversando baixinho, com o pequeno Kurt brincando aos seus pés. Depois de um tempo, um torpor estranho pareceu derrubar Sigurd e, declarando que não conseguia mais ficar acordado, ele também desceu e caiu no sono como os outros.   Helga agora estava sozinha no convés com o filho. De repente, quando estava brincando com ele, ela viu um objeto estranho se movendo lentamente sobre a superfície lisa da água. Protegendo os olhos com as mãos, ela o observou e, quando se aproximou, percebeu que era um barco, com uma forma curiosa e desajeitada sentada remando.   Ele se aproximava cada vez mais, com remadas silenciosas e rápidas, e, quando encostou na embarcação com um barulho forte, a rainha viu que era muito grande e feito de granito. Com um salto, a terrível giganta que o remava estava no convés. Como em um sonho, a rainha não conseguia se mexer nem emitir um som para acordar o rei ou a tripulação do barco. Parecia presa por uma força invisível. A giganta se aproximou dela e, pegando a criança, colocou o menino atrás de si; em seguida, começou a tirar todas as belas roupas bordadas da rainha, deixando-a com apenas uma vestimenta de linho, e, enquanto vestia as roupas de Helga, ela gradualmente também assumia sua forma e sua aparência. Por fim, ela pegou a rainha e a colocou no barco de granito, dizendo, em uma voz terrível, enquanto fazia isso: — Obedeça às minhas palavras e ao meu encanto mágico. Nunca deverás descansar nem parar no caminho, até chegares ao meu irmão nas regiões mais baixas.   A pobre rainha, meio desmaiada e totalmente impotente, ficou sentada imóvel e calada no barco como uma estátua. Com um empurrão forte, a giganta afastou o barco da lateral da embarcação, e ele rapidamente se perdeu de vista.   O pequeno Kurt começou a chorar. A giganta tentou acalmá-lo, mas foi em vão; quanto mais tentava, pior ele ficava, até que, finalmente, perdendo toda a paciência, ela o pegou e o levou para o porão, até o rei.   Acordando-o com brutalidade, ela o repreendeu em voz alta por tê-la deixado sozinha no convés com a criança.   — Foi muito descuidado e negligente da sua parte – continuou ela. — Alguém devia ter ficado de guarda enquanto você dormia. Ninguém sabe dizer o que pode acontecer quando alguém fica sozinho. Foi impossível silenciar a criança; portanto, eu o trouxe para cá, que é o local adequado para ele. Já passou da hora de você acordar sua tripulação preguiçosa. Um vento favorável finalmente surgiu, e podemos ter uma chance de sair desse barco maldito.   Sigurd ficou perplexo por ser tratado nesses termos pela rainha. Em toda a vida de casados, ele nunca a ouvira falando desse jeito. No entanto, decidiu não dar atenção a isso; ela devia estar muito cansada com o calor, pensou, e, respondendo muito delicadamente, se esforçou para acalmar a criança. O pequeno, no entanto, soluçava e chorava tanto quanto antes.   A esta altura, a tripulação tinha acordado, as velas foram hasteadas e, com o vento esplendidamente refrescante, eles chegaram à terra no dia seguinte. Ali, o país inteiro ainda estava de luto pelo falecido rei. Mas o povo se alegrou muito quando recebeu a notícia de que Sigurd havia retornado em segurança. Ele foi coroado em meio a aclamações universais e assumiu imediatamente as rédeas do governo.   Mas, desde a estranha calmaria no mar, o pequeno filho do rei nunca tinha parado de chorar e soluçar, especialmente na presença da suposta mãe, sendo que, antes daquele momento, era uma criança notavelmente feliz e amorosa. O rei, portanto, escolheu uma ama-seca para ele entre as pessoas da corte e, quando estava com ela, o pequeno parecia ser novamente a criança radiante e feliz que tinha sido.   Mas o rei não conseguia entender a mudança que tinha acontecido com a rainha desde a jornada dos dois. Ela, que antes era tão boa e gentil, agora era obstinada, rabugenta e mentirosa. Em pouco tempo, os outros começaram a notar a natureza desagradável e brigona da esposa do rei. Bem, havia na corte dois jovens que eram tão dedicados a jogar xadrez que ficavam sentados durante horas diante do jogo, em vez de participarem dos esportes ao ar livre dos outros jovens cortesãos. Como eram primos do rei, seus aposentos ficavam no palácio, e por acaso eram ao lado dos aposentos da rainha. Ela vinha sendo especialmente rude e desagradável com eles desde que chegara, e eles ficariam felizes de se vingar dela de qualquer maneira.   Certo dia, ouvindo-a se movimentando de um lado para o outro e falando com raiva, eles olharam por uma fresta da porta e a ouviram dizer claramente:   — Quando bocejo levemente, fico pequena e delicada, como uma jovem donzela; quando bocejo um pouco mais, viro metade de uma giganta; mas, quando estico os braços e bocejo com toda vontade, volto ao meu tamanho original e me torno uma giganta poderosa.   E, ao dizer essas palavras, ela se espreguiçou, bocejou de maneira assustadora, como se o maxilar fosse quebrar, e de repente cresceu até virar uma giganta monstruosa e terrível. Em seguida, batendo os pés, o piso se abriu e surgiu um gigante de três cabeças, carregando uma tigela enorme de carne crua. Cumprimentando a rainha como sua irmã, ele colocou a tigela diante dela, que devorou o conteúdo, sem parar até tê-la esvaziado.   Os dois jovens cortesãos observaram essa cena estranha, embora não conseguissem ouvir tudo que a giganta e o irmão diziam um para o outro. Ficaram horrorizados em ver como ela devorava a carne com voracidade e impressionados com a quantidade que ela comia, pois à mesa do rei ela só se servia delicadamente dos pratos. Assim que ela esvaziou a tigela, o gigante de três cabeças desapareceu do mesmo jeito que tinha aparecido, e a rainha, bocejando levemente, assumiu de imediato sua forma humana outra vez. Os jovens príncipes então voltaram para o jogo, discutindo o mistério em tons baixos.   E o que aconteceu com o filho do rei esse tempo todo? Certa noite, quando a ama-seca havia acendido o candelabro e estava brincando com a criança nos braços, algumas tábuas no centro do chão se abriram e uma moça muito adorável, usando apenas uma vestimenta branca de linho, apareceu. Sua cintura estava envolvida por uma argola pesada de ferro, que estava presa a uma corrente que descia diretamente pelo buraco no chão.   Com um leve gritinho, ela correu até a ama-seca, pegou o menino nos braços, lhe deu um beijo e o afagou, e depois de não economizar carícias, o colocou delicadamente de volta nos braços da ama-seca e desapareceu do mesmo jeito que tinha surgido, o chão se fechando de novo sobre ela. Esse tempo todo, ela não disse uma única palavra. A ama-seca ficou surpresa com o incidente, mas, assustada, não disse uma palavra para ninguém. Na noite seguinte, a mesma coisa aconteceu. A moça de roupão branco surgiu pelo chão, pegou a criança, beijou e acariciou de maneira amorosa e depois o recolocou nos braços da ama-seca. Mas, desta vez, enquanto se preparava para descer, ela murmurou, em tons tristes:   — Essa felicidade me foi permitida duas vezes. Depois de mais uma vez, tudo estará acabado.   E desapareceu, e o chão se fechou sobre ela como antes.   A ama-seca ficou muito assustada quando ouviu a moça de branco dizer essas palavras. Teve medo de que algum perigo pudesse ameaçar a criança e, ao mesmo tempo, ficou muito tocada com a desconhecida, que tinha acariciado o menino como se fosse dela. Portanto, achou melhor falar com o rei, contar o que tinha acontecido e implorar para ele estar presente no momento em que a moça de roupão branco costumava aparecer. O rei ouviu a história da mulher com atenção e, achando que era uma brincadeira, prometeu que estaria lá.   A noite seguinte, portanto, o encontrou a tempo no berçário, sentado em uma cadeira, com a espada desembainhada, perto do local onde a desconhecida sempre aparecia. Não precisou esperar muito. Com um rangido fraco, as tábuas se abriram e a bela figura de roupão branco apareceu, com a argola de ferro na cintura e uma corrente comprida.   Em um instante, Sigurd reconheceu a esposa amada, Helga, e, rápido como um raio, a tomou nos braços e, com um golpe da espada, cortou a corrente que a prendia. Imediatamente, os gemidos e rugidos mais terríveis saíram da terra, o castelo todo se balançou e tremeu, e todos acharam que estava acontecendo um terremoto. Mas, em pouco tempo, os sons sobrenaturais pararam sem que nenhum dano acontecesse.   Então, Helga relatou ao querido lorde tudo que tinha acontecido a ela, como a giganta malvada tinha ido até a embarcação em seu barco de granito quando todos estavam dormindo e, com seu poder mágico, tinha tirado todas as suas roupas e as vestido.   — Quando ela me colocou no barco de granito, ele flutuou sozinho até a embarcação estar fora de visão – continuou ela —, e então eu percebi que estávamos indo em direção a um objeto grande e escuro, que, quando nos aproximamos da terra, percebi ser um enorme gigante de três cabeças. Ele queria que eu me casasse com ele, mas me recusei decididamente a ser sua esposa, por isso ele me acorrentou em uma grande caverna solitária, dizendo que eu jamais seria livre se não consentisse. Ele aparecia dia sim, dia não, repetindo o mesmo pedido e as mesmas ameaças. Então, conforme o tempo passava e eu não via esperança de ajuda, comecei a pensar em como eu poderia escapar das mãos dele. Por fim, eu lhe disse que seria sua esposa se ele me permitisse visitar meu filho na terra por três dias seguidos. No início ele não quis concordar, mas, quando insisti, ele cedeu; mas eu tive que prometer que não diria quem eu era. Ele então colocou essa argola de ferro na minha cintura, à qual prendeu uma corrente que está presa a ele na outra ponta. Tive esperança de que talvez uma noite você pudesse estar aqui quando eu viesse ver nosso pequeno Kurt. Meu coração ficou muito triste quando a segunda noite se passou sem ver você! Mas minhas orações nunca cessaram, e agora recebi minha recompensa. Os gemidos terríveis quando você cortou a corrente devem ter sido do gigante. Ele cairia quando a corrente ficasse frouxa de repente, porque ele mora exatamente embaixo do castelo. Ele provavelmente quebrou o pescoço quando caiu, e o terrível choque deve ter sido de seus espasmos de morte. Agora o rei via claramente por que não conseguia reconciliar o comportamento da giganta com o da gentil Helga, sua querida rainha. A impostora abominável, que agora tinha voltado à forma original, foi chamada diante do Conselho de Estado e, como prova adicional contra ela, os dois jovens príncipes relataram o que tinham ouvido e visto. Ela foi condenada a virar pedra até a morte, e seu corpo foi colocado em um saco e despedaçado por cavalos selvagens.   A verdadeira rainha foi investida de todas as suas honras legítimas e em pouco tempo conquistou os corações do povo. E a ama-seca do pequeno Kurt não foi esquecida. Ela se casou com um nobre importante, e o rei e a rainha lhe deram um belo dote. Ela e o marido foram amigos de Sigurd e Helga até o fim de seus dias.

Escrito por Ogada Bullirun


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