A Floresta de Dooros
Era uma vez, seres mágicos do oeste que, ao voltarem para casa
depois de uma partida de hurling com as fadas dos lagos,
descansaram por três dias e três noites na Floresta de Dooros.
Eles passavam os dias comendo e as noites dançando à luz da
lua, e dançaram tanto que gastaram os sapatos, e por uma
semana inteira depois disso, os leprechauns — sapateiros das
fadas — trabalharam dia e noite fazendo novos, e o bater, raspar
e martelar de seus martelinhos eram ouvidos em todas as cercas
vivas.
Os seres mágicos se banqueteavam com frutinhas
vermelhas que eram tão parecidas com as que nascem na
sorveira brava que, só de olhar, era possível confundir uma com
a outra; mas as frutas dos seres mágicos nascem apenas na
terra mágica, e são mais doces do que qualquer fruta que nasce
neste mundo, e se um idoso, grisalho e curvado, comesse uma
delas, passaria a ser jovem, ativo e forte de novo; e se uma
idosa, desgastada e enrugada, comesse uma delas, passaria a
ser jovem, vivaz e bela; e se uma moça que não fosse bonita
comesse uma delas, ela se tornaria mais linda do que uma flor
cheia de beleza.
Os seres mágicos guardavam suas frutinhas com o mesmo
cuidado de guardas escondendo ouro, e sempre que estavam
prestes a sair da terra mágica, tinham que prometer, na presença
do rei e da rainha, que não dariam nenhuma fruta a nenhum
homem mortal, nem permitiriam que uma delas caísse na terra,
pois se uma única fruta caísse na terra, uma árvore fina de
muitos galhos, carregada de frutos, surgiria de uma vez, e os
homens mortais poderiam comê-las.
Mas, por acaso, eles estavam na Floresta de Dooros e
continuaram comendo e dançando por muito tempo, e estavam
tão felizes por terem derrotado os seres mágicos do lago que um
ser muito pequeno, não muito maior do que meu dedo, perdeu a
cabeça e soltou uma frutinha na mata.
Quando o banquete terminou, os seres mágicos voltaram à
terra mágica, e estavam em casa há mais de uma semana
quando souberam do erro do amigo, e vamos contar como foi.
Um grande casamento estava prestes a acontecer, e a
rainha dos seres mágicos mandou seis de seus escudeiros à
Floresta de Dooros para pegar cinquenta borboletas com
manchas douradas nas asas roxas, e cinquenta brancas sem
manchas nem bolinhas, e cinquenta douradas, amarelas como a
prímula, para fazer um vestido para si, e cem brancas, sem
manchas nem bolinhas, para fazer vestidos para a noiva e as
madrinhas.
Quando os escudeiros chegaram perto da mata, ouviram a
música mais incrível, e o céu acima deles se tornou muito escuro,
como se uma nuvem tivesse encoberto o sol. Eles olharam para
cima e viram que a nuvem era formada por abelhas que,
reunidas, voavam em direção à mata e zuniam sem parar. Ao ver
isso, sentiram medo até virem as abelhas pousando em uma
árvore, e observando a árvore de perto, viram que estava coberta
com frutinhas mágicas.
As abelhas não viram os seres mágicos, por isso eles não
sentiram mais medo, e caçaram as borboletas até capturarem
toda a quantidade das muitas cores. Então, voltaram para a terra
mágica e contaram à rainha a respeito das abelhas e das frutas,
e a rainha contou ao rei.
O rei ficou muito bravo, e mandou seus escudeiros aos
quatro cantos da terra mágica para reunir todos os súditos à sua
frente, para que ele pudesse saber logo quem era o culpado.
Todos eles compareceram, exceto o pequeno que soltou a
frutinha, e claro que todo mundo disse que ele não tinha ido porque estava com medo, e que devia ser o culpado.
Os mensageiros saíram todos à sua procura e, depois de um
tempo, eles o encontraram escondido em uma samambaia e o
levaram ao rei.
O pobre rapaz estava tão assustado que a princípio mal
conseguia falar mas, depois de um tempo, disse que só sentiu
falta da frutinha quando chegou à terra mágica, e que sentiu
medo de dizer algo às pessoas sobre o ocorrido.
O rei, que não queria saber de desculpas, sentenciou que o
culpado deveria ser levado para a terra dos gigantes, que ficava
além das montanhas, e ali ficar para sempre, a menos que
conseguisse encontrar um gigante disposto a ir para a Floresta
de Dooros e guardar a árvore mágica. Quando o rei determinou a
sentença, todo mundo ficou triste, porque o réu era muito querido
por todos. Nenhum harpista com sua harpa, nenhum flautista
com sua flauta, nenhum violinista com seu violino conseguia
tocar tão bem quanto ele tocava uma folha; e quando eles se
lembravam de todas as noites de luar agradáveis nas quais
tinham dançado ao ritmo de sua música, acharam que nunca
mais a ouviriam nem dançariam mais, e seus coraçõezinhos
foram tomados por pesar. A rainha estava tão triste quanto
qualquer um de seus súditos, mas a palavra do rei tinha que ser
obedecida.
Quando chegou o momento de o rapaz partir para o exílio, a
rainha mandou seu principal mensageiro com ele com um
punhado de frutinhas. Ela disse que ele deveria oferecê-las ao
gigante, e dizer ao mesmo tempo que o gigante que estivesse
disposto a proteger a árvore poderia se esbaldar com as frutinhas
doces desde a manhã até a noite.
Quando o serzinho seguiu seu caminho, quase todos os
seres mágicos o seguiram até as fronteiras da terra, e quando
eles o viram subir a montanha em direção à terra dos gigantes,
todos tiraram as capas vermelhas e as chacoalharam até ele
desaparecer de vista.
Ele seguiu caminhando dia e noite, e, quando o sol nasceu
numa manhã, ele estava no topo da montanha, e podia ver a
terra dos gigantes no vale que se estendia bem à sua frente.
Antes de começar a descer, ele se virou para olhar para a terra
mágica uma última vez; mas não conseguiu ver nada, pois uma
nuvem pesada e escura tampava a vista. Ele estava muito triste,
cansado e com os pés doloridos e, conforme descia pela encosta
acidentada, não conseguia parar de pensar na mata verdejante e
nos caminhos da linda terra que tinha deixado para trás.
Quando acordou, o chão estava tremendo, e seus ouvidos
captaram um barulho parecido com trovão. Ele olhou para cima e
viu, partindo em sua direção, um gigante assustador, com um
olho que ardia como brasa no meio da testa, a boca arreganhada
de orelha a orelha, os dentes compridos e tortos, a pele do rosto
escura como a noite, e os braços e peito cobertos com pelos
pretos arrepiados; enrolado em seu corpo, havia uma liga de
ferro, e pendendo dela, com uma corrente, havia um porrete com
pontas de ferro. Com um golpe do porrete, ele conseguia quebrar
uma rocha em pedaços, e o fogo não podia queimá-lo, e a água
não podia afogá-lo e armas não podiam feri-lo, e não havia como
matá-lo, exceto se o acertassem com três golpes de seu próprio
porrete. E ele era tão mal-humorado que os outros gigantes o
chamavam de Sharvan, o Ranzinza. Quando o gigante viu a capa
vermelha do ser mágico, deu um grito parecido com um trovão. O
pobre rapazinho tremia da cabeça aos pés.
— O que o trouxe aqui? — perguntou o gigante.
— Por favor, sr. Gigante — disse o ser mágico —, o rei dos
seres mágicos me baniu para cá, e aqui devo ficar para sempre,
a menos que o senhor vá guardar a árvore dos seres mágicos na
Floresta de Dooros.
— A menos que o quê? — vociferou o gigante, e deu um
chute no ser mágico, fazendo-o rolar para longe e cair de cabeça
para baixo.
O serzinho ficou deitado como se estivesse morto, e então o
gigante, sentindo pena pelo que tinha feito, o segurou
delicadamente entre o indicador e o polegar.
— Não tema, homenzinho — disse ele. — Agora, conte-me
tudo sobre a árvore.
— É a árvore dos frutos mágicos que cresce na Floresta de
Dooros — disse o serzinho —, e trouxe alguns deles comigo.
— Ah, sim? — disse o gigante. — Quero vê-los.
O serzinho pegou três frutos do bolso de seu casaquinho
verde e os entregou ao gigante.
O gigante olhou para eles por um segundo. Então, ele
engoliu os três juntos, e depois de fazer isso sentiu-se tão feliz
que começou a gritar e dançar de alegria.
— Mais, seu ladrãozinho! — disse ele. — Mais, seu… qual é
seu nome? — perguntou o gigante.
— Pinkeen, a seu dispor, sr. Gigante — disse o serzinho
enquanto entregava os frutos.
O gigante gritou mais alto do que antes, e seus gritos foram
ouvidos por todos os outros, que partiram correndo na direção
dele.
Quando Sharvan os viu chegar, ele pegou Pinkeen e o
colocou dentro do bolso, para que não o vissem.
— Por que você está gritando? — perguntaram os gigantes.
— Porque — disse Sharvan — aquela pedra ali caiu no meu
dedão.
— Seu grito não parecia o grito de um homem ferido —
disseram eles.
— Como você pode saber o jeito com que gritei? —
perguntou ele.
— É preciso dar uma resposta civilizada para uma pergunta
civilizada — disseram eles —, mas, claro, você sempre foi
Sharvan, o Rabugento. — E eles se foram.
Quando os gigantes desapareceram, Sharvan tirou Pinkeen
de sua carteira.
— Mais umas frutas, seu ladrãozinho… ou melhor, pequeno
Pinkeen — disse ele.
— Não tenho mais — disse Pinkeen —, mas, se você for
guardar a árvore na Floresta de Dooros, pode se esbaldar com
elas até a noite.
— Vou guardar toda árvore na floresta, se precisar — disse o
gigante.
— Você vai ter que guardar uma só — disse Pinkeen.
— Como devo chegar a ela? — perguntou Sharvan.
— Primeiro você deve ir comigo em direção à terra mágica
— disse o serzinho.
— Muito bem — concordou Sharvan —, vamos. — E ele
pegou o serzinho e o colocou dentro de sua carteira, e em pouco
tempo eles estavam no topo da montanha. Então, o gigante
olhou ao redor em direção à terra dos gigantes; mas uma nuvem
escura a escondia, enquanto o sol brilhava no vale à frente dele,
e ele conseguia ver, a distância, as matas e as águas cristalinas
da terra mágica.
Não demorou para ele chegar às fronteiras, mas, quando
tentou atravessá-las, seus pés se prenderam no chão e ele não
conseguiu dar nem um passo. Sharvan deu três gritos que foram
ouvidos em toda a terra mágica, e fizeram as árvores nas matas
tremerem, como se o vento de uma tempestade os estivesse
atingindo.
— Ah, por favor, sr. Gigante, deixe-me sair — disse Pinkeen.
Sharvan pegou o serzinho e, assim que viu que estava nas
fronteiras da terra mágica, o pequeno correu o mais rápido que
suas pernas conseguiram, e antes que pudesse se afastar
demais, encontrou todos os seres encantados que, ao ouvirem
os gritos do gigante, desceram das samambaias para ver o que estava acontecendo. Pinkeen disse a eles que aquele gigante iria guardar a árvore, e os gritos eram porque ele estava preso nas
fronteiras, e eles não precisavam temê-lo.
Os seres mágicos estavam tão felizes por terem Pinkeen de
volta, que eles o carregaram em seus ombros e o levaram ao
palácio do rei, e todos os harpistas, flautistas e violinistas
marcharam à sua frente, tocando a música mais alegre que se
pôde ouvir. O rei e a rainha estavam no gramado na frente do
palácio quando a procissão alegre se aproximou e parou diante
deles. Os olhos da rainha brilharam de prazer ao ver o pequeno
preferido, e o rei também ficou feliz, mas parecia muito sério ao
dizer:
— Por que você voltou, sirrah?
Então Pinkeen disse à vossa majestade que trouxera
consigo um gigante disposto a guardar a árvore mágica.
— E quem ele é e onde ele está? — perguntou o rei.
— Os outros gigantes o chamavam de Sharvan, o
Rabugento — disse Pinkeen —, e ele está preso fora das
fronteiras da terra mágica.
— Está tudo bem — disse o rei —, você está perdoado.
Quando os seres mágicos ouviram isso, jogaram suas
touquinhas vermelhas no ar, e aplaudiram tão alto que uma
abelha que estava agarrada a um botão de rosa perdeu os
sentidos e caiu no chão.
Em seguida, o rei ordenou que um de seus servos buscasse
os frutos, fosse até Sharvan e mostrasse a ele o caminho para a
Floresta de Dooros. O servo, levando os frutos consigo, foi até
Sharvan, cujo rugido quase assustou o pobre coitado. Mas assim
que o gigante provou os frutos, ele ficou de bom humor e
perguntou ao mensageiro se este podia retirar o feitiço dele.
— Posso — disse o servo — e farei isso se prometer que
não vai tentar atravessar as fronteiras da terra mágica.
— Prometo isso, do fundo do coração — disse o gigante. —
Mas vamos, meu rapaz, pois minhas pernas estão doendo.
O mensageiro arrancou uma prímula e puxando os cinco
botõezinhos vermelhos do vaso, ergueu um ao norte, um ao sul,
um ao leste e um ao oeste, e um para o céu, e o feitiço foi
quebrado, e os membros do gigante se libertaram. Então,
Sharvan e o mensageiro mágico partiram para a Floresta de
Dooros, e não demorou muito para que vissem a árvore mágica.
Quando Sharvan viu os frutos brilhando ao sol, gritou tão alto e
tão forte que o vento soprou o serzinho de volta para a terra
mágica. Mas ele teve que voltar à mata para contar ao gigante
que ele tinha que ficar o dia todo ao pé da árvore pronto para
batalhar com quem quisesse roubar os frutos, e que durante a
noite ele teria que dormir entre os galhos.
— Tudo bem — disse o gigante, que mal conseguia falar, já
que estava com a boca cheia de frutos.
Bem, a fama da árvore mágica se espalhou muito, e todos
os dias chegava um aventureiro para tentar levar embora alguns
dos frutos; mas o gigante, como prometeu, estava sempre alerta,
e nem um dia se passava sem que ele lutasse e matasse um
invasor ousado, e o gigante nunca foi ferido, porque o fogo não o
queimava, nem a água o afundava, nem arma alguma o feria.
Agora, naquele momento, Sharvan estava alerta, guardando
a árvore, e um rei cruel reinava nas terras que davam para o sol
nascente. Ele havia assassinado o rei legítimo de maneiras
horrendas, e seus súditos, por amarem o soberano assassinado,
odiavam o usurpador; mas, por mais que o detestassem, eles o
temiam ainda mais, pois ele era corajoso e habilidoso, e estava
armado com capacete e escudo que nenhuma arma feita por
mãos mortais poderia atravessar, e sempre levava consigo duas
lanças que nunca erravam o alvo, e eram tão fatais que eram
chamadas de “as lanças da morte”.
O rei assassinado tinha dois filhos — um garoto, cujo nome
era Niall, e uma garota, que se chamava Rosaleen — ou melhor,
Rosinha; mas nenhuma rosa já desabrochou com metade da beleza ou da doçura dela. Por mais cruel que o rei tirano fosse,
ele temia o povo e não matou as crianças. Mandou o garoto à
deriva no mar em um barco aberto, esperando que as ondas
engolissem a embarcação; e pediu para uma velha bruxa lançar
um feitiço de deformidade em Rosaleen, e, sob o feitiço, sua
beleza desapareceu, até, por fim, ela se tornar tão feia e
assustadora que quase ninguém falava com ela. E, rejeitada por
todos, ela passava os dias no celeiro com o gado, e todas as
noites ela chorava até dormir.
Um dia, quando ela estava se sentindo solitária, um pequeno
pintarroxo se aproximou para pegar as migalhas que tinham
caído aos pés dela. Ele parecia tão dócil que ela lhe ofereceu o
pão na palma da mão, e quando ele aceitou, ela chorou de
alegria por descobrir que havia um ser vivo que não a rejeitava.
Depois disso, o pintarroxo a visitava todos os dias, e ele cantava
com tanta doçura que quase se esqueceu de sua solidão e
tristeza. Mas, certa vez, enquanto o pintarroxo estava com ela, a
filha do rei tirano, que era muito bonita, passou com suas damas
de companhia e, ao ver Rosaleen, a princesa disse:
— Ah, ali está aquela coisa horrorosa.
As damas riram e disseram nunca ter visto nada tão horrível.
A pobre Rosaleen sentiu como se seu coração fosse
explodir, e quando a princesa e as damas de companhia estavam
longe, ela quase morreu de tanto chorar. Quando o pintarroxo a
viu chorando, pousou em seu ombro e encostou a cabeça em
seu pescoço, e cantou baixinho, e Rosaleen se sentiu consolada,
pois sentia que pelo menos tinha encontrado um amigo no
mundo, apesar de ser um pequeno pintarroxo. Mas o pintarroxo
podia fazer mais por ela do que ela seria capaz de imaginar. Ele
escutou o comentário feito pela princesa, e viu as lágrimas de
Rosaleen, e agora ele sabia por que ela era rejeitada por todos, e
por que era tão infeliz. E naquela noite, ele voou para a Floresta
de Dooros, chamou um primo e contou tudo sobre Rosaleen para
ele.
— E você quer um pouco dos frutos mágicos, acredito —
disse o primo, Robin da Floresta.
— Quero — disse o pequeno amigo de Rosaleen.
— Ah — disse Robin da Floresta —, as coisas mudaram
desde que você esteve aqui pela última vez. A árvore agora é
guardada dia e noite por um gigante ranzinza. Ele dorme nos
galhos durante a noite, e respira nos galhos e entre os galhos
toda manhã, e sua respiração é veneno para aves e abelhas. Só
há uma chance possível, e se você tentar, pode lhe custar sua
vida.
— Então, me diga o que é, pois eu daria cem vidas por
Rosaleen — disse o pintarroxo.
— Bem — disse Robin da Floresta —, todos os dias, um
guerreiro vem lutar com o gigante, e o gigante, antes de começar
a luta, coloca um galho de frutos no cinto de ferro ao redor de
sua cintura, para que, ao se sentir cansado ou sedento, possa se
refrescar, e existe uma pequena chance, enquanto ele está
lutando, de pegar um dos frutos do galho; mas se ele respirar em
cima de você, a morte é certa.
— Vou correr o risco — disse o pintarroxo de Rosaleen.
— Muito bem — falou o outro. E os dois pássaros voaram
pela mata até aparecerem perto da árvore mágica. O gigante
estava deitado, esticado aos pés dela, comendo os frutos; mas
não demorou muito para um guerreiro aparecer e desafiá-lo à
batalha. O gigante ficou de pé e, enfiando um galho da árvore em
seu cinto, balançando a barra de ferro acima da cabeça, seguiu
em direção ao guerreiro, e a luta começou. O pintarroxo pousou
em uma árvore atrás do gigante, observando e esperando sua
chance, mas demorou muito, porque os frutos estavam na parte
da frente do cinto do gigante. Por fim, o gigante, com um golpe
muito forte, derrubou o guerreiro, mas, ao fazer isso, tropeçou e
caiu em cima dele, e antes que tivesse tempo de se recuperar, o
pintarroxo partiu na direção dele como um raio e pegou um dos
frutos, e então, o mais rápido que as asas conseguiram carregá-
lo, voou em direção à casa e, no caminho passou por uma tropa
de guerreiros em cavalos brancos como neve. Todos os
cavaleiros, exceto um deles, usavam capacetes prateados e
mantos brilhantes de seda verde, presos por broches de ouro
vermelho, mas o líder deles, que seguia à frente da tropa, usava
um capacete dourado, e seu manto era de seda amarela, e ele
parecia, de longe, ser o mais nobre deles. Quando o pintarroxo
deixou os cavaleiros muito para trás, ele espiou Rosaleen
sentada do lado de fora do palácio, lamentando seu destino.
O pintarroxo pousou em seu ombro, e quase antes que ela
percebesse que ele estava ali, ele colocou o fruto entre seus
lábios, e o gosto era tão delicioso que Rosaleen comeu de uma
vez, e naquele momento o feitiço da bruxa passou, e ela se
tornou adorável, uma flor de formosura. Naquele momento, os
guerreiros nos cavalos brancos como neve se aproximaram, e o
líder, com o manto de seda amarela e o capacete dourado, saltou
do cavalo e se ajoelhou à sua frente, dizendo:
— Mais linda de todas as moças, certamente a senhorita é a
filha do rei destas paragens, apesar de estar fora dos portões do
palácio, sem uma corte, sem roupas da realeza. Sou o Príncipe
dos Vales Ensolarados.
— Sou filha de um rei, sim — disse Rosaleen —, mas não do
rei que governa estas paragens.
E, dizendo isso, ela correu, deixando o príncipe se
perguntando quem ela podia ser. O príncipe, então, mandou os
tocadores de trombeta avisarem sobre sua presença do lado de
fora do palácio, e em poucos instantes o rei e todos os nobres
foram cumprimentar o príncipe e seus guerreiros, dar a eles as
boas-vindas. Naquela noite, um grande banquete foi organizado
no salão, e o Príncipe dos Vales Ensolarados se sentou ao lado
do rei, e ao lado do príncipe sentou-se a bela filha do rei, e então,
na ordem certa, sentaram-se os nobres da corte e os guerreiros
que tinham chegado com o príncipe e, na parede atrás de cada
nobre e guerreiro, seu escudo e seu capacete estavam
pendurados, iluminando a sala. Durante o banquete, o príncipe
falou de modo gracioso com a adorável moça ao seu lado, mas,
durante todo o tempo, ele pensava na bela desconhecida que
tinha visto do lado de fora do palácio, e seu coração desejava vêla de novo.
Quando o banquete terminou, e os copos enfeitados com
joias foram distribuídos pela mesa, os pássaros cantaram felizes,
acompanhados por harpas, o “Cortejo à Lady Eimer”, e enquanto
eles viam sua beleza radiante ofuscando a de suas damas, o
príncipe pensou que, por mais bela que Lady Eimer fosse, havia
alguém ainda mais bela.
Quando o banquete terminou, o rei perguntou ao príncipe o
que o levava àquelas paragens.
— Venho — disse o príncipe — à procura de uma noiva, pois
me foi dito, em minha terra, que apenas aqui eu encontraria a
moça que está destinada a dividir meu trono, e seu reino é
famoso por ser o local onde moram as moças mais adoráveis do
mundo todo, e eu acredito muito nisso — acrescentou o príncipe
— depois do que vi hoje.
Quando a filha do rei ouviu isso, ela abaixou a cabeça e
corou como uma rosa, pois, claro, pensou que o príncipe se
referia apenas a ela, pois não sabia que ele tinha visto Rosaleen,
e ela não tinha ouvido falar sobre a recuperação de sua beleza.
Antes que outra palavra pudesse ser dita, um grande barulho
e o bater de espadas foram ouvidos do lado de fora do palácio. O
rei e seus convidados se levantaram de onde estavam e
empunharam a espada, e os bardos deram início à canção da
batalha; mas suas vozes foram abafadas e as harpas silenciadas
quando viram um guerreiro na entrada do salão , e em seu rosto
eles reconheceram os traços do rei assassinado.
— Tis Niall voltou para assumir o trono de seu pai! — disse o
bardo líder. — Vida longa a Niall!
— Vida longa a Niall! — responderam os outros.
O rei, pálido de ira e surpresa, virou-se para os líderes e
nobres de sua corte e gritou:
— Não há nenhum homem leal o suficiente para mandar
embora esse invasor de nosso banquete?
Mas ninguém se mexeu, nenhuma resposta foi dada. Então,
o rei avançou sozinho, mas antes que pudesse chegar ao ponto
em que Niall estava de pé, foi segurado por uma dezena de
homens e desarmado de uma só vez.
Durante essa cena, a filha do rei tinha fugido assustada; mas
Rosaleen, atraída pelo barulho, e ouvindo o nome do irmão e os
gritos dados, entrara no salão sem ser notada por ninguém. Mas
quando sua presença foi descoberta, todos os olhos ficaram
encantados com sua beleza. Niall olhou para ela por um
momento, tentando entender se a senhorita radiante diante dele
poderia ser sua irmã de quem ele tinha sido separado muitos
anos antes. No segundo seguinte, ela estava nos braços dele.
Então, o banquete foi servido de novo, e Niall contou a
história de suas aventuras; e quando o Príncipe do Vale
Ensolarado pediu a mão de Rosaleen, Niall pediu para a adorável
moça decidir por si mesma. Com olhos tímidos e sorridente, ela
disse “sim”, e aquele foi o dia mais feliz e iluminado que já
aconteceu, e Rosaleen se tornou a noiva do príncipe.
Em sua felicidade, ela não se esqueceu do pequeno
pintarroxo, que foi seu amigo na tristeza. Ela o levou para casa
consigo, em Vales Ensolarados, e todos os dias ela o alimentou
com suas mãos, e todos os dias ela cantava as músicas mais
doces que já tinham sido ouvidas por uma moça.
Escrito por Tha-uilos Leamy
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