A Donzela do Mar Prose in Storevender | World Anvil
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A Donzela do Mar

Era uma vez um pobre pescador que não estava conseguindo pegar muitos peixes. Num dia fatídico, enquanto ele pescava, emergiu uma donzela do mar ao lado do barco, e perguntou:   — Está pegando bastante peixe?   O velho respondeu:   — Eu, não.   — Que recompensa me daria por mandar muitos peixes para você?   — Ach! — disse o velho. — Não tenho muito o que oferecer.   — Você me dará o primeiro filho que tiver? — perguntou ela.   — Eu lhe daria meu filho, se tivesse um — disse ele.   — Então vá para casa e lembre-se de mim quando seu filho tiver vinte anos, e pegará muitos peixes depois disso.   Tudo aconteceu como a donzela do mar disse, e ele pegou muitos peixes; mas, quando os vinte anos estavam perto do fim, o velho ia ficando cada vez mais aflito e pesaroso, enquanto contava cada dia que passava.   Não descansava nem de dia nem de noite.   Um dia, o filho perguntou ao pai:   — Alguém está atormentando o senhor?   — Está, mas isso não tem nada a ver com você nem com mais ninguém — respondeu o velho.   — Eu preciso saber o que é — disse o rapaz.   Finalmente, seu pai contou qual era o problema entre ele e a donzela do mar.   — Não se aflija — disse o filho. — Não vou me opor a você.   — Não, você não vai partir, meu filho, ainda que eu nunca mais pegue um peixe.   — Se não vai me deixar ir com o senhor, vá até a ferraria e mande o ferreiro fazer uma espada grande e forte, e sairei em busca da minha fortuna.   O pai foi à ferraria, e o ferreiro fez uma espada pesada para ele. O pai foi para casa com a espada. O rapaz a pegou e a brandiu uma ou duas vezes, e a lâmina explodiu em centenas de estilhaços. Ele pediu ao pai que fosse à ferraria e trouxesse outra espada com o dobro do peso; e foi o que o pai fez, e a mesma coisa aconteceu com a espada seguinte — partiu-se em duas. Lá se foi o velho de volta à ferraria; e o ferreiro fez uma grande espada, diferente de tudo o que já fizera.   — Eis tua espada — disse o ferreiro —, e deve ser boa a mão que empunhe esta lâmina.   O velho deu a espada ao filho, que a movimentou uma ou duas vezes.   — Vai servir — disse ele. — Chegou a hora de seguir meu caminho.   Na manhã seguinte, ele selou um cavalo preto que o pai tinha e aceitou o mundo como seu travesseiro. Depois de viajar um pouco, emparelhou com a carcaça de uma ovelha à beira da estrada. Ali, havia um grande cachorro preto, um falcão e uma lontra que brigavam pelo espólio. Então, pediram que o rapaz o dividisse para eles. Ele desceu do cavalo e dividiu a carcaça entre os três. Três partes para o cachorro, duas para a lontra e uma para o falcão.   — Em agradecimento — disse o cachorro —, se pés ligeiros ou dentes afiados puderem te auxiliar, pensa em mim, e estarei ao teu lado.   — Se o nadar dos pés no fundo de uma poça puder ajudarte, pensa em mim, e estarei ao teu lado.   — Se surgirem apuros em que asas ligeiras ou garras curvas te sirvam, pensa em mim, e estarei ao teu lado — disse o falcão.   Depois disso, ele prosseguiu até chegar à casa de um rei, e arranjou trabalho como pastor, e seus ganhos seriam de acordo com o leite do rebanho. Ele saiu com as vacas, e não havia nada que pastar. À noite, quando as levou para casa, não tinham muito leite, não havia quase nada no lugar e, naquela noite, sua carne e bebida não passaram de sobras.   No dia seguinte, foi mais longe com as vacas e finalmente chegou a um lugar com muitíssimo capim, num vale verde como nunca vira igual.   Mas, na hora em que deveria tanger o rebanho para casa, quem ele encontrou senão um grande gigante de espada na mão?   — Rá! Rô! Ho-garach!!! — disse o gigante. — Essas vacas são minhas; estão na minha terra, e tu, morto estás.   — Eu não diria isso — respondeu o pastor. — Não há como saber, mas pode ser mais fácil falar do que fazer.   Ele desembainhou a grande espada triunfal e se aproximou do gigante. O pastor brandiu a espada e a cabeça separou-se do gigante num piscar de olhos. Ele pulou no cavalo preto e foi procurar a casa do gigante. O pastor entrou, e naquele lugar havia dinheiro em profusão, e trajes de todos os tipos no guardaroupa, com ouro e prata, e uma coisa mais bela que a outra. Ao cair da noite, ele se dirigiu à casa do rei, mas não levou nada da casa do gigante. E, quando as vacas foram ordenhadas, havia leite. Nessa noite, o pastor foi bem alimentado, com carne e bebida sem restrição, e o rei ficou muito satisfeito por ter contratado um pastor como ele. Ele continuou assim por um tempo, mas finalmente o vale ficou sem grama e a pastagem deixou de ser tão boa.   Então, pensou em ir um pouco além na terra do gigante, e viu um grande campo de capim. Voltou para buscar as vacas e as levou até o campo.   Não haviam passado muito tempo pastando ali quando um gigante grande e selvagem chegou, raivoso e enlouquecido.   — Rá! Ró! Hogaraich!!! — disse o gigante. — É um gole do teu sangue que vai saciar minha sede esta noite.   — Não há como saber — respondeu o pastor —, mas é mais fácil falar do que fazer.   E, um contra o outro, os dois avançaram. Aí houve golpes de espada! Por fim, parecia que o gigante conquistaria a vitória sobre o pastor. Então ele chamou o cachorro, e com um único salto o animal preto pegou o gigante pelo pescoço, e num instante o pastor cortou sua cabeça.   Nessa noite, ele voltou para casa muito cansado, mas seria de admirar se as vacas do rei não tivessem leite. Toda a família ficou encantada por ter um pastor como aquele.   No dia seguinte, o pastor dirigiu-se ao castelo. Quando chegou à porta, uma velhinha bajuladora o recebeu parada à porta.   — Saudações e boa sorte para ti, filho do pescador; é com prazer que te vejo; grande honra dás a este reino, pois decidiste entrar nele. Tua entrada é a glória deste humilde casebre; entra primeiro; honra aos gentis; segue adiante e toma fôlego.   — Entra antes de mim, anciã; não gosto de lisonjas ao ar livre; entra e vamos ouvir teu discurso.   Entrou a anciã, e, quando ela estava de costas para o rapaz, ele pegou a espada e decepou a cabeça dela; mas a espada voou da sua mão. E ligeira a anciã apanhou a cabeça com as duas mãos e a pôs no pescoço como estava antes. O cachorro pulou na anciã, e ela golpeou o generoso animal com uma clava mágica; e ele foi ao chão. Mas o pastor lutou para tomar a clava mágica, e, com um golpe no alto da cabeça, a anciã caiu por terra num piscar de olhos. Ele seguiu em frente, subiu um pouco e encontrou espólios! Ouro e prata, e uma coisa mais preciosa que a outra, no castelo da anciã. Ele voltou para a casa do rei, e houve grande alegria.   O pastor tangeu o rebanho assim por um tempo; mas uma noite, depois de voltar para casa, em vez de receber “saudações” e “boa sorte” da leiteira, encontrou todos angustiados, chorando.   Perguntou qual era a razão da angústia naquela noite. A leiteira disse:   — Há uma grande fera de três cabeças no lago, e deve receber um sacrifício todo ano, e este ano a sina é da filha do rei, e ao meio-dia de amanhã ela deve ir ao encontro da Fera Asquerosa na margem mais alta do lago, mas há um grande pretendente que vai resgatá-la.   — Que pretendente é esse? — perguntou o pastor.   — Ah, é um grande general do exército — disse a leiteira —, e, quando matar a fera, vai se casar com a filha do rei, pois o rei disse que quem puder salvá-la será seu marido.   Mas na manhã seguinte, quando a hora se aproximava, a filha do rei e esse herói do exército foram se encontrar com a fera, e chegaram à rocha negra, na margem mais alta do lago.   Não estavam ali havia muito tempo quando o animal emergiu do meio do lago; mas, quando o general viu esse terror de fera com três cabeças, ficou apavorado, retirou-se à socapa e escondeuse. E a filha do rei tremia, com medo, sem ninguém para salvá-la.   De repente, ela viu um jovem bonito e robusto, montando um cavalo preto e vindo até onde ela estava. Usava um traje magnífico, estava completamente armado e seu cachorro preto o seguia.   — Há tristeza em seu olhar, moça — disse o jovem. — O que faz aqui?   — Ah! Não importa — respondeu a filha do rei. — Dentro em pouco estarei aqui para sempre.   — Eu não diria isso — respondeu ele.   — Um campeão fugiu como você há de fazer, e não foi há muito tempo — disse ela.   — Ele é um campeão que sustenta a guerra — declarou o jovem. E ao encontro da fera ele foi com a espada e o cão. Mas houve estrépito e estardalhaço entre ele e a fera! O cachorro continuou fazendo tudo o que podia, e a filha do rei ficou paralisada de medo dos sons da fera! Ora um estava por baixo, ora por cima. Mas finalmente o jovem cortou uma das cabeças. A fera rugiu, e o filho da terra, eco das rochas, gritou com ela, e isso lançou o lago num nevoeiro de ponta a ponta, e num piscar de olhos sumiu de vista.   — Que a boa sorte e a vitória o acompanhem, rapaz! — disse a filha do rei. — Estou salva por uma noite, mas a fera voltará outras vezes, até perder as outras duas cabeças. Ele pegou a cabeça da fera, prendeu-a num nó e disse à filha do rei para trazê-la consigo amanhã. Ela deu a ele um anel de ouro e voltou para casa com a cabeça apoiada no ombro, e o pastor foi cuidar das vacas. Mas a moça não estava longe quando aquele grande general a viu e disse:   — Vou matá-la se não disser que fui eu quem cortou a cabeça da fera.   — Ah! — respondeu ela —, é o que direi; quem mais cortou a cabeça da fera, senão você?   Chegaram à casa do rei; a cabeça estava apoiada no ombro do general. Houve grande alegria por ela ter voltado para casa viva e inteira, e esse grande capitão com a cabeça da fera cheia de sangue na mão. No dia seguinte, saíram, e não havia a menor dúvida de que esse herói salvaria a filha do rei.   Chegaram ao mesmo lugar e não estavam lá havia muito tempo quando a terrível Fera Asquerosa emergiu no meio do lago, e o herói escapou como fizera antes, mas não demorou muito para que o homem do cavalo preto aparecesse, usando um traje diferente. Não importava; ela sabia que era o mesmo rapaz.   — É com prazer que o vejo — disse ela. — Espero que você maneje sua grande espada hoje, como fez ontem. Venha e tome fôlego.   Mas não estavam ali havia muito tempo quando viram a fera fumegando no meio do lago.   Na mesma hora ele foi ao encontro da fera, mas houve claquebam e claquebum, estrépito e estardalhaço, raiva e rugidos da fera! Continuaram lutando por um longo tempo e, ao cair da noite, ele cortou outra cabeça da fera. Prendeu-a num nó e a entregou à moça. Ela deu a ele um de seus brincos, e ele pulou no cavalo preto e foi cuidar do pastoreio.   A filha do rei foi para casa com as cabeças. O general a encontrou, tomou-lhe a cabeça e disse que ela deveria dizer que foi ele quem cortou a cabeça da fera dessa vez também.   — Quem mais cortou a cabeça da fera, senão você? — disse ela. Chegaram à casa do rei com as cabeças. Então houve alegria e contentamento.   Na mesma hora do dia seguinte, os dois saíram. O general se escondeu como geralmente fazia. A filha do rei se dirigiu à margem do lago. O herói do cavalo preto veio, e, se houve raiva e rugidos da fera nos dias anteriores, este foi um dia terrível. Mas não importou; ele cortou a terceira cabeça da fera, prendeu-a no nó e a entregou para a moça. Ela deu a ele seu outro brinco e depois foi para casa com as cabeças. Quando chegaram à casa do rei, todos sorriram, e o general deveria se casar com a filha do rei no dia seguinte. O casamento ia acontecer, e todos no castelo esperavam ansiosos que o padre viesse. Mas, quando o padre chegou, a moça disse que só se casaria com quem conseguisse desatar as cabeças do nó sem cortá-lo.   — Quem deveria desatar as cabeças do nó, senão o homem que as prendeu? — disse o rei.   O general tentou, mas não conseguiu desatá-las, e no fim não restava ninguém na casa que não tivesse tentado fazer isso sem conseguir. O rei perguntou se havia mais alguém na casa para tentar desatar as cabeças do nó. Disseram que o pastor ainda não tentara. Mandaram chamar o pastor, e ele não demorou muito a jogá-las aqui e acolá.   — Mas pare um pouco, meu rapaz — disse a filha do rei. — O homem que cortou as cabeças da fera está com meu anel e meus dois brincos.   O pastor levou a mão ao bolso, tirou as joias e as jogou na mesa.   — És meu homem — disse a filha do rei. O rei não ficou muito contente quando viu que um pastor se casaria com sua filha, mas ordenou que ele recebesse um traje melhor; mas sua filha falou, e disse que ele tinha o traje mais bonito que já se vira em seu castelo; e assim aconteceu. O pastor vestiu o traje dourado do gigante e eles se casaram no mesmo dia.   Agora estavam casados e tudo corria bem. Mas um dia, e foi o mesmo dia em que seu pai o prometera à donzela do mar, estavam passeando à margem do lago, e eis o que viram! Ela apareceu e o levou para o lago sem licença nem pedido. Agora a filha do rei estava triste, chorosa e cega de dor pelo marido; estava sempre olhando o lago. Um velho adivinho a encontrou, e a moça contou o que tinha acontecido com seu companheiro.   Então ele lhe disse o que fazer para salvá-lo, e ela o fez. Levou sua harpa para a praia, sentou-se e tocou; e a donzela do mar apareceu para ouvir, pois as donzelas do mar gostam mais de música do que todas as outras criaturas. Mas, quando a esposa viu a donzela do mar, parou. A donzela do mar disse:   — Continue!   Mas a princesa respondeu:   — Não tocarei antes de ver meu homem outra vez.   Então a donzela do mar tirou a cabeça dele do lago. E a princesa tocou mais uma vez, parou e só continuou quando a donzela o ergueu até a cintura. Então a princesa tocou e parou de novo, e desta vez a donzela do mar o tirou todo do lago, e ele chamou o falcão, tornaram-se um só e voaram até a praia. Mas a donzela do mar levou a princesa, sua esposa.   Nessa noite, sofreram todos que estavam na cidade. O marido estava triste, choroso, vagando às margens do lago, para lá e para cá, dia e noite. O velho adivinho o encontrou. O adivinho disse que só havia um modo de matar a donzela do mar, e era este:   — Na ilha que fica no meio do lago, está a corça das patas brancas, das pernas mais esbeltas e do passo mais ligeiro e, se ela for capturada, uma gralha-cinzenta pulará de dentro dela, e se a gralha for capturada, uma truta sairá de dentro dela, mas há um ovo na boca da truta, e a alma da donzela do mar está no ovo, e se o ovo se quebrar, ela morrerá.   Agora, não havia como chegar a essa ilha, pois a donzela do mar afundava cada barco e jangada que entrasse no lago. Ele pensou em tentar pular o estreito montando o cavalo preto, e assim o fez. O cavalo preto pulou o estreito. O rapaz viu a corça e deixou o cachorro preto ir atrás dela, mas, quando estava num lado da ilha, a corça já estava no outro.   — Ah! Quem dera o cachorro preto da carcaça estivesse aqui!   Mal pronunciou a palavra e o cão agradecido apareceu ao seu lado; e atrás da corça ele foi, e não demoraram a fazê-la cair por terra. Mas mal a capturou e uma gralha-cinzenta pulou de dentro dela.   — Quem dera o falcão cinza dos olhos mais aguçados e asas mais ligeiras estivesse aqui!   Mal disse isso, o falcão estava perseguindo a gralha, e não demorou a deitá-la por terra; e, quando a gralha caiu na margem do lago, dela pulou a truta.   — Ah! Quem dera estivesses comigo agora, ó lontra! Mal falou e a lontra estava ao seu lado, e na água pulou, e trouxe a truta do meio do lago; mas, assim que a lontra voltou à terra com a truta, o ovo saiu da sua boca; o rapaz pulou e pôs o pé em cima dele. Foi então que a donzela do mar apareceu e disse:   — Não quebre o ovo e ganhará tudo o que pedir.   — Entregue-me a minha esposa!   Num piscar de olhos, ela estava ao seu lado. Quando ele segurou a mão dela entre as suas, pisou no ovo e a donzela do mar morreu.

Escrito por Ria Rianrandirmal


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