Voligênesis
No princípio, havia apenas a Brana Animática. Bósons fluíam livres pelo universo de dimensões indefinidas, jamais presos à matéria. A alma também permeava toda a existência.
A alma eventualmente manifestou suas propriedades misteriosas e uniu os bósons, criando seres de alta energia. Bilhões ou trilhões destes são o que chamamos de demônios. São os seres superiores mais baixos, impotentes, muitos até incompletos.
Mas isso não era suficiente, e, com o tempo, a alma continuou gerando seres mais complexos. Eventualmente, surgiu um ser muito alto, muito poderoso, que hoje é visto como um satã. É despido de nome próprio, mas esse título se tornará apropriado.
Os seres superiores viveram, por eras e eras, sozinhos. Mais tarde, começaram a disputar por energia, devorando uns aos outros, se fundindo. O satã sempre era invicto. Entretanto, uma vez notaram a emergência de um ser maior que todos os já vistos. Continha a energia dum buraco negro, e seria um se houvesse gravidade nesse mundo. Esse kugelblitz, também anônimo, carregava poderes numa escala divina. Terror invadiu as mentes etéreas dos demônios.
Quanto mais imponentes as figuras, mais fascinam, mesmo se com temor. O satã se interessou por aquele ser, e pelo que ele poderia fazer com aquela coisa, aquela deusa. Enganou-a, aquela criatura tão inocente quanto majestosa, estuprou-a, aquela forma antes tão pura quanto magna.
Dessa união profana de deidade e maligno, surgiu um ovo, uma esfera metafórica e metafísica, preenchida com uma caótica plasma de férmions livres. O ovo cresceu, sua casca rachando e rachando, deixando bósons e alma penetrarem seu âmnio. O ovo se expandiu formidavelmente, talvez infinitamente. Não era contido na Brana Animática, mas se continha; era a Brana Material.
A clara ardia, infernal, pesada. Sugava a energia do seu universo natal, as rachaduras vazando violentamente. Os demônios se desesperaram, tentaram entrar naquele novo mundo bastardo, mas seus corpos selaram a casca. Seu sacrifício acidental conteve a fome do mundo. O ovo continuou a sua expansão, inerte, mas sem ganhar energia. Uma gema plana, que hoje chamamos de céu, nasceu do destacamento da clara, que se fez em Panélio e Catélio.
A matéria se organizou em formas estranhas, as epônimas volilhas, que disparavam caóticas nessa Geena oval. Materiais de uma variedade antes inalcançável brotaram com a química dos férmions. A deusa notou o caos em seu filho-universo e sentiu que ordem seria conveniente. De seus fótons criou o eletromagnetismo, de seus glúons a força forte, de seus Zs e Ws a força fraca e, enfim, de seus cadérons fez a queda.
Quatros demônios poderosos tentaram roubar a energia que a deusa deu ao seu filho.
Demônios, que tentastes roubar do leite com o qual nutri minha criança, devei vós eternamente regular as forças da natureza sob minha lei, disse a deusa.
E com isso o mundo teve ordem, e aquilo que devia ser imantado se imantou, aquilo que devia ser colado se colou, aquilo que devia ser decomposto se decompôs e aquilo que devia cair caiu, e o mundo recebeu uma nova gama de materiais na química complexa dos férmions.
E foi então que a deusa notou uma forma miúda no umbigo de seu filho. Encontrou uma criança viva, Primogenitum volinsularis, organismo original, o embrião verídico do ovo que não devia existir. E ela amou o seu filho, e ela comemorou seu nascimento.
Remove these ads. Join the Worldbuilders Guild
Comentários